Da Redação
Papai Noel nem sempre é do sexo masculino e usa barba branca. Numa casa humilde do bairro do Boqueirão, em Curitiba, ele atende pelo nome de Olga Rodrigues da Silva, uma simpática vovó de 89 anos. Ela recupera bonecos e bichos de pelúcia encontrados no lixo e os deixa novos para doar a crianças que não recebem a visita do bom velhinho na noite de Natal. Empregada doméstica aposentada, dona Olga usa sua velha máquina de costura para devolver vida aos brinquedos descartados. Detalhe: ela enxerga apenas com o olho esquerdo e mede 1,36 metro.
A matéria-prima chega às suas mãos por meio de conhecidos e parentes. Dona Olga tem 17 netos, 18 bisnetos e dois tataranetos. Um sobrinho que conhece sua habilidade para a recuperação de brinquedos entrega a ela tudo o que é resgatado pela sogra durante a coleta de recicláveis. Depois de liberados das roupas velhas e sujas, enchimentos e equipamentos eletrônicos, eles passam por banhos de sabão líquido e amaciante, com especial atenção aos cabelos no caso das bonecas. Tanta disposição vem das atividades físicas que ela pratica há cinco anos quatro vezes por semana em centros de esportes da prefeitura no bairro onde mora.
Quando volta das atividades esportivas dona Olga retoma o trabalho com a reciclagem dos brinquedos. Depois de limpos e secos, ela avalia o que é possível aproveitar na composição de cada um e o que precisará ser substituído. Alguns itens para recompor os bonecos – como sobras de tecidos, fios e fitas – vêm do ateliê da filha Ruth, que é artesã. Outros, ela compra. A maior parte das roupinhas de tecidos é costurada primeiro à mão e, depois, na antiga máquina, adaptada para ser usada de pé, a posição mais apropriada para sua estatura. A máquina é colocada sobre a mesa da sala da pequena casa de madeira com as paredes cobertas de retratos e quadros.
Outras vestimentas dos brinquedos são confeccionadas por ela mesma, hábil no manuseio da agulha de crochê. “Faço vestidos e até calcinhas pra elas. No fim, a gente nem acredita nessa quantidade de brinquedo que chegou aqui tão suja e mofada. Fica tudo quase como novo. Ninguém diz que era lixo”, orgulha-se. O resultado da produção tem endereço certo: as campanhas de arrecadação de presentes para crianças que, assim como ela na infância paupérrima no interior do Paraná, não poderiam ganhar um brinquedo sequer no Natal.
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