O sonho de um hospital pediátrico de qualidade e excelência começou com o Grêmio das Violetas e se fortaleceu com a chegada da artista plástica Ety da Conceição Gonçalves Forte. O dia 28 de agosto marca os 57 anos de Dona Ety – como é carinhosamente chamada – na presidência da Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, mantenedora da centenária instituição. Com ousadia, sua atuação determinada tornou o Hospital Pequeno Príncipe referência nacional no cuidado à criança.
No dicionário de nomes, Ety significa “guardiã”, o que representa muito bem o que ela é para o Pequeno Príncipe, alguém que transformou e cuidou da instituição com amor e dedicação. Seu olhar sobre a saúde de crianças e adolescentes contribuiu para que o hospital pediátrico se tornasse uma instituição pioneira em muitos aspectos.
O amor pelas crianças impulsionou-a a dar um grande passo: tornar-se presidente voluntária da associação. “Quando assumi essa missão, fiz uma visita às enfermarias. Esperava ver ambientes equipados e funcionais, mas o choque de realidade foi grande. Me deparei com um cenário desolador, com cheiro de xixi e miséria. Naquele mesmo dia prendi meu cabelo, tirei o sapato de salto alto, peguei vassoura e balde e comecei a limpar tudo, junto com as pessoas que estavam por perto”, lembra Dona Ety, dona de uma inconfundível cabeleira vermelha que reflete muito de sua personalidade peculiar.
Quando chegou à presidência, o Hospital de Crianças César Pernetta – antigo nome do Pequeno Príncipe – já estava em funcionamento. Foi nessa época que uma nova parte da construção foi iniciada, o que viria a tornar-se o pelo nome atual. O nome foi escolhido por Dona Ety, pois para ela todas as crianças e adolescentes são príncipes e princesas e devem ser tratados dessa forma. “Os pequenos me ensinaram a ser valente perante a dor. São seres divinos e por isso continuo com a grande missão de proteger a população infantojuvenil”, afirma.
A saúde e o bem-estar dos pacientes sempre foram prioridades para ela. Em 1980, foi instituído o Programa Família Participante, que garantiu às crianças e adolescentes internados o direito de permanecer com um acompanhante ao seu lado durante todo o período de hospitalização. O que, à época, não acontecia em nenhum outro hospital.
A iniciativa fortalece os laços entre os pacientes e seus familiares e reduz o tempo de internamento. O programa oferece toda a estrutura necessária para que o acompanhante permaneça no ambiente hospitalar junto com seu filho atendido pelo SUS. Somente em 2022, foram beneficiados mais de 11 mil familiares.
Muitas crianças e adolescentes passam longos períodos internados e não conseguem frequentar a escola. Mas no Pequeno Príncipe a escola vai até eles. “Nós fomos pioneiros quando, em 1987, passamos a oferecer atendimento educacional aos nossos meninos e meninas. Isso transformou o hospital em um local humanizado”, relembra Dona Ety.
Em 1988, ela foi mais uma vez pioneira ao conseguir que o Pequeno Príncipe assinasse convênios com secretarias de Educação. Isso garantiu a presença de professores das redes públicas municipal e estadual para atender às demandas escolares dos pacientes internados.
Além disso, Dona Ety conseguiu voluntários e artistas para encantar crianças, adolescentes e suas famílias e criou o Setor de Voluntariado. “Ninguém é chamado a um hospital sem motivo, seja como voluntário ou para trabalhar. Com certeza essa é uma missão única, apesar de nem sempre ser fácil”, diz.
Com mais de 100 anos de história, o Hospital Pequeno Príncipe é o maior e mais completo hospital exclusivamente pediátrico do país e é referência em procedimentos de média e alta complexidade. O legado da senhora de cabelos vermelhos permanece no coração de cada profissional que atua ou atuou na instituição.