Moradores da Ilha do Mel responsáveis por estabelecimentos comerciais, restaurantes e receptivos participaram, nesta semana, de uma capacitação para receber pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A intenção é transformar o tradicional destino de viagem paranaense na primeira ilha turística inclusiva do Brasil.
O projeto é uma iniciativa da Associação Brasileira das Ilhas Turísticas (Abitur), em parceria as ONGs Onda-Autismo (Organização Neurodiversa dos Direitos do Autista) e Ico Project, e com apoio Governo do Paraná, através das secretarias do Turismo (Setu) e do Desenvolvimento Social e Família (Sedef), e da Prefeitura de Paranaguá.
Durante dois dias, os participantes das localidades Encantadas e Brasília acompanharam diversas palestras de representantes das entidades organizadoras. “Todo esse pessoal que trabalha na Ilha do Mel recebeu uma capacitação para receber as pessoas autistas segundo a lei e também de maneira respeitosa e inclusiva. Falamos também de acessibilidade arquitetônica e atitudinal para receber toda a comunidade autista. Outro tema tratado foi sobre a carteira do autista, que já está sendo disponibilizada de forma gratuita no Paraná. Esse documento permite que os autistas tenham acesso aos seus direitos com mais facilidade”, comenta Fábio Cordeiro, presidente da Onda-Autismo.
Segundo ele, a adesão foi maior do que o esperado, com um feedback muito positivo. “O pessoal da ilha já nos falava que estavam recebendo autistas e havia questões que não sabiam lidar. Então era uma demanda que eles já tinham e por isso a aceitação do projeto foi grande”, confirma. “Houve ainda muitos feedbacks positivos nas nossas redes sociais, as famílias com autistas falando que sempre tiveram vontade de ir à Ilha do Mel e agora vão poder ir com seus filhos, pois criaram segurança”, completa ele, que também é autista.
O projeto foi embasado a partir de uma dissertação de mestrado de Dayanny Feitosa, da Abitur, que estudou a relação de turismo e autismo. Em sua pesquisa, ela percebeu que as famílias com autistas não viajavam por medo da falta de inclusão, da discriminação e de que os locais a serem visitados não fossem acessíveis. Dayanny também levantou que locais acessíveis aos autistas poderiam aumentar sua demanda em até 60%, não só para o público-alvo, mas também para outros pessoas que podem começar a ver esses espaços como sensíveis para receber a diversidade.
A capacitação foi organizada pela Onda-Autismo em parceria com a Ico Project. “Na Onda, já fazemos esse tipo de capacitação para empresas. São centenas de empresas e milhares de colaboradores aptos para atender pessoas autistas. Temos trabalhado no Brasil todo e adaptamos esse capacitação para a Ilha do Mel. Foi muito interessante e deve render muitos frutos”, diz Cordeiro.
Na sequência da ação, durante todo o mês de março, haverá uma consultoria individualizada para as empresas participantes – até o momento, já são mais de 70 estabelecimentos inscritos. Em 2 de abril, Dia Mundial e Dia Nacional de Conscientização sobre o Autismo, haverá o evento oficial de entrega do título de 1ª Ilha Turística Adaptada ao Autista no Brasil e do selo Empresa Amiga da Pessoa Autista aos estabelecimentos credenciados. Em maio, começa a segunda fase, de acompanhamento e suporte, que deverá se estender até abril de 2024.
“Nessa nova fase, vamos trabalhar questões como um mapa sensorial da ilha, para indicar onde há mais ou menos ruídos. Sonhando mais alto, pretendemos fazer uma sala de acomodação sensorial na ilha ou em Paranaguá, para que as famílias possam se acomodar para esperar o transporte para a ilha. O projeto vai crescendo, estamos prevendo expandir para outras ilhas do país”, confirma o presidente da Onda-Autismo.
Carteira do Autista
Um direito fundamental de identificação e valorização, a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) foi instituída pela Lei Federal nº 13.977/2020, a Lei Romeo Mion, em homenagem ao filho autista do ator e apresentador Marcos Mion.
O Paraná disponibiliza o documento de forma gratuita e on-line através do site www.carteiradoautista.pr.gov.br. Neste endereço, estão as informações necessárias para o cadastro, além de contatos para solucionar dúvidas sobre o processo. A carteira possui informações de identificação da pessoa com TEA, contatos de emergência, tipo sanguíneo e, quando há necessidade, o nome do representante legal. Quase 3,5 mil pessoas autistas já fizeram o cadastro e tem a carteirinha em todo o Paraná.
“Buscamos nos adaptar e criar a carteira do autista logo que a lei foi criada. Nosso documento já é referência e outros estados estão nos procurando para ter o nosso processo como base”, revela Felipe Braga Côrtes, coordenador da Política Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoas com Deficiência da Sedef.
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