Da Redação
O músico negro Odivaldo da Silva, 55 anos, morador de Curitiba, ao voltar do trabalho para casa, foi abordado por um homem branco, que começou a agredi-lo verbal e fisicamente. Sob protestos de testemunhas, o agressor disse que “morador de rua tem que morrer”. Odivaldo passou por cirurgia e tem marcas no rosto até hoje. “Nunca foi tão importante educar sobre o Holocausto e transmitir suas lições. Vamos colher os frutos desse esforço apenas quando a sociedade conseguir traçar paralelos constantes desse genocídio com a atualidade que nos aflige, com o contexto em que vivemos. Para isso, precisamos desenvolver a empatia dos jovens brasileiros por meio de narrativas pessoais, de ontem e de hoje. A data internacional do 27 de janeiro é uma oportunidade para fortalecer esse trabalho”, diz Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Membro do comitê executivo da Rede Latino-Americana para o Ensino da Shoá (LAES) e da equipe curatorial do Memorial às Vítimas do Holocausto do Rio de Janeiro. A história de Odivaldo foi retratada em um filme, a foto dele também aparece no material de divulgação da campanha.
A Campanha
A UNESCO, a Confederação Israelita do Brasil e o Museu do Holocausto de Curitiba vão lançar em 27 de janeiro, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, a campanha #ContarPraViver, com o website contarparaviver.com.br, convocando todos os brasileiros a não deixarem histórias de violência e intolerância desaparecerem. Em Curitiba, o projeto será apresentado durante uma cerimônia solene presencial no Museu do Holocausto, com início às 11h.
A iniciativa contará com filmes da sra. Ruth Sprung Tarasantchi, do sr. Gabriel Waldman e do sr. Joshua Strul, sobreviventes do Holocausto e também de outros brasileiros, vítimas de violência de ódio e intolerância nos dias atuais. A campanha faz um chamado: Adote uma história. É esperado que as pessoas compartilhem em suas redes estas e outras histórias similares de sobrevivência e resistência. Afinal, quanto mais espaço para elas, menor o espaço para crescerem o racismo, LGBTfobia, xenofobia, intolerâncias religiosa, de gênero ou qualquer outro tipo.
A inspiração
Criada pela Cappuccino, part of the Weber Shandwick Collective, com produção da Elo Studios, a campanha #ContarParaViver alerta sobre a importância de preservar a memória do Holocausto e os impactos do seu apagamento nos dias atuais. A inspiração veio a partir do fato de que estamos perdendo os sobreviventes ainda vivos do Holocausto – que têm, em média, 84 anos de idade. Em poucos anos, não teremos mais essas testemunhas. É urgente que se preservem essas memórias frente ao risco de a História ser distorcida e até apagada.
“O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é um momento de recordação de um dos mais vergonhosos capítulos da história da humanidade. Oportunidade para reforçar nossa batalha contra o discurso de ódio, fortalecer nosso compromisso com a democracia e nossa luta pela inclusão e pela equidade, como fazemos nesta campanha ‘Viver para contar, contar para viver’, que divulga e preserva relatos de sobreviventes do Holocausto e de brasileiros vítimas de intolerância e violência”, diz o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg.
Os números do preconceito
Um estudo da UNESCO junto ao Congresso Judaico Mundial revela que 49% das publicações sobre Holocausto no Telegram nega ou distorce fatos. Enquanto vemos a História sendo apagada, as violências de ódio e intolerância vão crescendo no Brasil. Na internet, os crimes de ódio apontaram 67% de crescimento no começo de 2022, segundo a Safernet. Denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil em 2021.
O número de casos de apologia ao nazismo saltou de menos de 20 para mais de 100 entre 2018 e 2020. A quantidade de células nazistas também apresenta pico de crescimento e atinge o maior número, 1117. No fim de 2022, o país registrou três ataques de ódio em escolas. Os dados são do Governo Federal e da Polícia Federal.
Os desafios do passado ainda estão presentes
“Neste Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, proclamado em 2005 pela Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a UNESCO reafirma o seu compromisso com a promoção do diálogo, da tolerância e da compreensão mútua, por meio do lançamento da campanha #ContarParaViver. diz Marlova Jovchelovitch Neto, representante da UNESCO no Brasil.
A campanha, uma parceria da UNESCO com a Capuccino Digital, o Museu do Holocausto de Curitiba e a Confederação Israelita do Brasil (CONIB), nos lembra de que os desafios do passado ainda estão presentes nos dias atuais e que precisamos estar sempre atentos para evitar que a história se repita.
A UNESCO aproveita a oportunidade para lembrar que o respeito à diversidade é fundamental. Uma vez que as pessoas se tornam capazes de compreender a riqueza que existe na diversidade, a humanidade avança na construção de valores essenciais para a paz, como o pluralismo, a inclusão e a tolerância, conforme estabelecido na Declaração de Princípios sobre a Tolerância, aprovada pelos Estados-membros da UNESCO em 1995. Mais do que nunca, nós devemos respeitar, celebrar e valorizar a rica diversidade de culturas do nosso mundo, bem como reconhecer os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas, para que possamos efetivamente “não deixar ninguém para trás”, diz Marlova Jovchelovitch Neto, representante da UNESCO no Brasil.
Serviço:
Museu do Holocausto – Rua Cel. Agostinho Macedo, 248 – Bom Retiro – Curitiba
Data: 27 de janeiro, sexta-feira, às 11 horas
Website: contarparaviver.com.br
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2 comentários em “Músico negro vítima de racismo em Curitiba é personagem de campanha da UNESCO contra ódio e preconceito”
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