O arquiteto Ivan Wodzinksy apresenta sua Coleção Curitiba, de peças de design inspirada em ícones da cidade, e discorre sobre o papel do mobiliário assinado.
Gosto de design. Qual arquiteto que não gosta, não é mesmo? E sempre fui um apreciador de design de mobiliário, desde criança, quando passava o tempo inventando coisas. Já na faculdade de arquitetura eu tinha mais acesso às informações e passei a gostar mais ainda, pesquisava muto sobre esse assunto, mobiliário em geral, de qualquer estilo. Até porque mobília boa é patrimônio. Mobília de bom design a gente deixa de herança. Não vejo a decoração sem um bom mobiliário. Um bom mobiliário, com uma boa assinatura, é considerado uma obra de arte. É chique um ambiente com um bom mobiliário assinado.
Já fiz alguns projetos onde todos os mobiliários e peças de decoração são assinadas. Uma verdadeira galeria de arte moderna. Particularmente acho um luxo. Gosto dessa exclusividade. Ao longo da minha carreira de mais de 25 anos, sempre apareceu a oportunidade de criar peças exclusivas para meus clientes, como mesas de jantar (desenhei várias em mármore), móveis para home theater, balcões, mesas de centro e mesas de apoio para dormitórios. Vários desses móveis ainda estão em perfeito estado nos meus antigos projetos. E assim foi criada uma coleção anônima, a qual me ensinou muito e me incentivou a criar uma coleção muito especial.
O sonho de desenhar uma coleção de móveis é antigo e incentivado por toda essa experiência citada acima. E também porque quando vou a lojas nem sempre encontro as peças que gostaria para os meus projetos (não vou comentar críticas sobre o mobiliário atual). E como sempre pesquisei muito, visito feiras, como a Feira de Milão (aliás, sou apaixonado pelo design italiano), isso sempre me incentivou a vislumbrar meus desenhos.
Gosto de pesquisar nos móveis vintage porque sempre se apresentaram classudos, com um design atemporal. Quando adolescente e sonhava ser arquiteto um dia, eu visitava casas das décadas de 1950 e 1960 e ficava deslumbrado com o que via do design dessa época tão glamurosa. Apesar da pouca cultura, quase zero, eu já tinha noção de que este design era diferente. Enfim, esperei muito tempo para desenvolver uma coleção, até porque experiência de trabalho, de pesquisas e de vida é fundamental. Finalmente alguns anos atrás sentei e comecei a desenhar com dedicação esses móveis, com a participação do meu assistente Eduardo, que colaborou muito nas pesquisas.
Móveis que fazem parte da Coleção Curitiba lançada pelo arquiteto (Fotos: Divulgação/Ivan Wodzinsky)
Começamos desenhando cadeiras, mesas, aparadores, balcões e buffets. Em particular amo mesas de jantar – que podem se transformar em mesa de trabalho para um executivo, bares ou um belo móvel de apoio – e mesas de centro. Nesse desenvolvimento selecionamos seis itens sobre os quais comentarei a seguir. Tendo me radicado em Curitiba, nada mais justo do que homenagear a cidade ao batizar esta coleção. Em todos esses anos morando aqui, vi a cidade crescer e se transformar nessa grande metrópole.
Em fevereiro de 2020 foi a primeira vez que pude lançar minhas peças para o grande público aliado a uma marca nacional. A essa pequena coleção demos o nome de “Coleção Curitiba”. Ao todo, foram seis mobiliários anunciados na edição da Abimad – Feira Brasileira de Móveis e Acessórios de Alta Decoração –, o principal evento do segmento de mobiliário e acessórios de decoração da América Latina, que ocorre na cidade de São Paulo.
As peças de alto padrão rendem homenagens a diversos pontos emblemáticos e icônicos de Curitiba, como a Ópera de Arame – teatro de vidro e ferro de autoria do arquiteto Domingos Bongestabs –, a Rua XV de Novembro, da dupla curitibana de arquitetos Jaime Lerner Abrão Assad, o tradicional bairro italiano São Lourenço, os badalados Batel e Champagnat e a Rua Eduardo Sprada, considerada uma das mais importantes e umas das mais longas da cidade. Toda a “Coleção Curitiba” já está disponível e à venda em diversas cidades do Brasil.
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Entre as criações, a mais imponente é a mesa Ópera de Arame, super extensa e cheia de ângulos arredondados, que parecem flutuar sobre os pés vazados mais delgados. A estrutura é em madeira com laca, base de recouro cru e tampo de vidro. Outra mesa da coleção é a coffee table Champagnat, que chama atenção pela base circular com gargalo dourado, criando um contraste de espessuras. Na coleção ainda incluí o Balcão Batel, todo em recouro, tampo de vidro e espelhado por dentro, com pés em acrílico, que dão a impressão do móvel estar suspenso. E o Balcão XV, desenvolvido em homenagem à Rua XV de Novembro, uma das primeiras ruas exclusivas para pedestres do mundo.
O móvel tem seu grande diferencial na altura, cerca de 40 centímetros maior que o convencional, proporcionando um conforto ainda maior no dia a dia para os moradores. A estrutura é em tubo de aço maciço e superfície em recouro. E o Balcão Sprada, cujo nome veio de uma das ruas mais longas da cidade, criando uma referência para o balcão que pode variar de três a quatro metros de comprimento de acordo com o gosto do cliente. Desenvolvi objetos com simplicidade, mas sem perder a elegância, a sobriedade e a atemporalidade. Uma verdadeira alfaiataria no mobiliário.
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