Vanda Ramos
Uma ligação profunda com a Ucrânia e seus habitantes, gerada por laços de amizade e de maternidade, é responsável pela força que move a jornalista paranaense Deise Klein Leobet na ajuda à população ucraniana neste momento de guerra, inciada há 20 dias com o ataque russo ao país.
Ela desenvolveu conexões especiais com a Ucrânia por ter atuado lá, contratando profissionais em Kiev para o escritório da empresa para a qual trabalhava. E, mais ainda, a filha de Deise, Lua, de 2 anos, foi gerada por uma ucraniana por meio de um ventre de substituição, processo permitido naquele país.
Deise é natural de Marcehal Cândido Rondon, na região Oeste do Paraná. Formada em jornalismo, atuou em vários veículos de comunicação em Curitiba. Fez MBA em Relações Externas por uma universidade em Madrid. Sua carreira profissional como especialista de negócios interncaionais foi toda desenvolvida no exterior, onde conheceu seu marido, também brasileiro. As responsabilidades do cargo sempre a fizeram viajar muito. “Trabalhava para um grupo europeu na Suíça que estava crescendo. Atuava na identificação de mercados estratégicos para os negócios da empresa, entre os quais os países do Leste Europeu”, conta em entrevista ao portal.
Apesar de estar com a carreira deslanchando, Deise carregava consigo a tristeza de um sonho que não se realizaria: o de ser mãe. Aos 20 anos ela recebeu a notícia de que problemas de saúde a impediriam de engravidar. “O médico me passou uma sentença que eu levei dez anos para superar porque meu instinto maternal era enorme. Mas não me entreguei, de alguma forma eu sabia que encontraria uma maneira de ter filho”, lembra.
Na Ucrânia, um de seus destinos de viagem a trabalho, Deise conheceu o processo de reprodução assistida com ventre de substituição. “Em alguns países, como é o caso da Ucrânia, esses processos são legais e bem sérios”, diz. Depois de muito tempo, já em 2019, ela e o marido decidiram iniciar o processo de ventre de substituição com uma mulher ucraniana. “Tinha alguns pontos importantes para mim nesse processo. Um deles era a importância de ele ser humanizado. Eu queria acompanhar a gravidez, conhecer a família”, conta. A mulher escolhida tinha 36 anos na época, já era mãe de duas crianças (uma de seis e uma de quatro anos) e, segundo Deise, muita carinhosa.
Tudo correu como planejado, a gravidez foi tranquila e ela pôde acompanhar todos os meses de gestação, mesmo de longe – nesse período ela e o marido moravam em Nova York. As duas famílias desenvolveram um laço afetivo, uma relação de amizade e de amor, como ela mesma define. “Todo dia 12 (dia em que sua filha nasceu), a ucraniana liga para parabenizar a Lua e saber como ela está”, conta.
Nas primeiras semanas após o início dos ataques russos à Ucrânia, Deise recebeu uma mensagem da ucraniana dizendo que havia tentado sair do país com seus dois filhos por duas vezes, sem sucesso, e que seu marido havia sido chamado pelo exército. “Senti um tom de despedida na voz dela, e me preocupei. Decidi que teria que fazer alguma coisa porque penso que não basta nos indignarmos, temos que agir. Pequenas ações podem resultar em mudanças importantes”, diz.
Motivada por esse sentimento, a paranaense, que atualmente mora em Brasília, se organizou para ajudar as famílias ucranianas após o início do conflito. No início de março, ela e outras mulheres que fazem parte de grupos de mães em Brasília realizaram um ato em apoio às mães e crianças vítimas da guerra. A manifestação reuniu cerca de 80 pessoas e teve a presença de mães ucranianas e russas, imigrantes e residentes no Brasil. O representante da embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoly Tkach, também falou no evento.
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O ato rendeu frutos, e Deise tem recebido o contato de várias pessoas questionando como podem ajudar. Segundo ela, a ajuda do Brasil vem em reforço às ações que já estão acontecendo na Europa. Ela faz parte de várias frentes e sabe bem como direcionar esses esforços. Além da adoção social e da criação de uma rede de oferta de trabalho para os refugiados, ela destaca várias outras formas de mobilização. “Em Portugal tem pessoas que fazem cotas para pagar o aluguel em casas no interior do país para receber as famílias ucranianas. Na Espanha, tenho uma amiga que já conseguiu retirar 50 órfãos do país. Nós ajudamos a encontrar casas para essas crianças”, afirma. Ela destaca também o papel importante que os grupos “techs” têm neste momento. “Existem grupos que, por meio da tecnologia, monitoram e indicam os caminhos mais seguros para deixar o país”, explica.
Em um momento difícil como este, a solidariedade e a mobilização, segundo Deise Leobet, são essenciais para salvar vidas e garantir a dignidade humana, e é isso que está fazendo a diferença. “Meu trabalho é buscar pessoas na Europa que possam contribuir, e elas estão ajudando muito. Existem mais lugares de acolhimento do que gente chegando e também há muita ajuda financeira”, conta, com um tom de esperança.
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