Perfil: Gustavo Arns, o professor de felicidade

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Confira o perfil de Gustavo Arns, idealizador do Congresso Internacional da Felicidade, na coluna de Reinaldo Bessa na revista Pinó, da Gazeta do Povo.

Reinaldo Bessa

Gustavo Arns. (Foto: Samuel Berger/Divulgação)

É possível viver de felicidade? No caso de Gustavo Arns, parece que sim. Pode-se dizer que ele encontrou a felicidade por acaso, o que não quer dizer que viva em eterna lua de mel com ela. Vamos às apresentações: ele é o idealizador do Congresso Internacional da Felicidade realizado de 2015 a 2019 em Curitiba, sempre com grande afluxo de um público ávido por descobrir como encontrar essa tal de dona felicidade, que como disse Vicente de Carvalho no poema Velho Tema existe, mas nem sempre está ao nosso alcance:

“Essa felicidade que supomos
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos”.

O curitibano Gustavo Arns de Oliveira, 36 anos, cresceu numa família católica apostólica romana, cujos maiores expoentes foram o cardeal Paulo Evaristo Arns e a médica Zilda Arns, ambos seus tios-avós e já falecidos. Doutora Zilda poderá vir a ser declarada santa pelo Vaticano devido a sua vida devotada a salvar recém-nascidos da desnutrição por meio da Pastoral da Criança, braço social da Igreja Católica. Eis aí uma receita de família de felicidade. “Ela sempre foi uma inspiração de alguma forma”, diz ele.

(Foto: Samuel Berger/Divulgação)

Apesar de frequentar a missa com os pais e irmãos desde pequeno, Gustavo conta que já na adolescência sentia um vazio espiritual. Teve conflitos com a fé católica porque ela não lhe dava todas as respostas que buscava. Hoje não se considera mais católico, mas um espiritualista. Ainda vai à missa de vez em quando com a mãe, viúva. Mas foi pelas mãos do pai, o promotor de justiça Luiz Carlos Souza de Oliveira, que ele conheceu outras alternativas de conexão com o sagrado. Curioso, o pai era um estudioso de terapias alternativas, que Gustavo chama de integrativas.

Atraído pelo interesse paterno, começou a buscar respostas para suas inquietações em outras religiões, inclusive no espiritismo e no budismo. “Fui atrás de respostas em muitas religiões e descobri similaridades em todas”, afirma. Nessa época, estava com 20 anos e cursando a faculdade de Direito. Começou a dar aulas particulares de inglês para levantar uma grana. Mas nada lhe parecia fazer sentido. Em 2005 partiu para um intercâmbio de três
meses nos Estados Unidos.

Em 2010, já formado e advogando, abriu uma escola de inglês, onde passou a dar aulas, atividade que conciliava com a administração do curso jurídico Professor Luiz Carlos fundado em 1983 por seu pai. O curso funcionou até 2018. Em 2012, com 27 anos, Gustavo casou com a psicóloga Danielle Ávila Cesar, com quem tem uma filha de 8 anos.

Fora o desencanto com o Direito, a vida parecia um mar de rosas. Só que não. Gustavo ainda não havia chegado a um acordo com suas inquietações. Os questionamentos só aumentavam. “Não via muito sentido no que fazia. Até gostava, mas não estava plenamente satisfeito”, conta. Garante que nunca teve depressão, o que não o impediu de fazer terapia até hoje.

Começou a refletir sobre o que faltava para poder dizer que era feliz. Até que, em 2014, ao participar de uma feira de educação jurídica em São Paulo, topou, digamos, com a felicidade. Já meio tarde e com fome, estava se preparando para voltar ao hotel. Antes de sair soube de um coffee-break no evento e pensou: “Vou comer alguma coisa por aqui mesmo”.

“Felicidade também é bem-estar psicológico, emocional, relacional, espiritual. […] A Ciência da Felicidade nos ajuda a lidar com tudo isso.”

Chegando ao local, foi convidado a assistir, de graça, a palestra do psicólogo israelense Tal Ben Sharar. Aceitou sem muito entusiasmo. Foi quando ouviu pela primeira vez na vida o termo Ciência da Felicidade. “Saí de lá muito mais energizado do que entrei. Até então nunca tinha ouvido falar nisso”, diz.

Na saída comprou um livro do palestrante e o leu de uma sentada na mesma noite. A partir daí, começou a mergulhar no tema. “Aquilo foi transformando a forma de eu enxergar a vida”, revela. No ano seguinte começou a pensar em como levar o assunto para as pessoas, quando lhe veio a ideia de criar o Congresso Internacional de Física Quântica na Ópera de Arame com a intenção de popularizar a Ciência da Felicidade, também chamada de Psicologia Positiva.

A ideia, segundo ele, era fazer uma única edição do evento, que tinha como subtemas questões como saúde, autoconhecimento, bem-estar e transformação. Porém, uma coisa não estava bem resolvida: o nome. “Era muito complexo para as pessoas e seis meses antes mudamos para Congresso Internacional da Felicidade”, diz Gustavo.

III Congresso Internacional de Felicidade. (Foto: Rubens Nemitz Jr.)

A primeira edição aconteceu em novembro de 2016 tendo como palestrantes o sociólogo italiano Domenico de Masi, criador da teoria do ócio produtivo, o guru indiano Amit Goswami, o mestre espiritual brasileiro Sri Prem Baba e Susan Andrews, psicóloga e antropóloga americana radicada no Brasil. Toda a bilheteria do evento foi doada a instituições de caridade.

Devido ao sucesso do congresso, Gustavo começou a ser assediado pelas pessoas querendo saber quando seria o próximo. Ele não pensava em repeti-lo até receber a visita de um rapaz no curso em que trabalhava. O homem se apresentou e lhe disse: “Quero saber quando é o próximo porque quero participar. Minha mulher foi no seu congresso e saiu de lá totalmente transformada, é outra pessoa”.

A partir de então, Gustavo repensou a decisão e passou a organizar a segunda edição, sem imaginar que sua vida se transformaria nisso desde então: ajudar os outros a ser felizes. Ou mais felizes.

Em 2018, largou de vez o curso jurídico para se dedicar exclusivamente à organização do congresso. Neste mesmo ano, apresentou um trabalho sobre o tema no I-Pen, no Texas, maior evento de educação positiva do mundo.

As duas primeiras edições (2016 e 2017) foram na Ópera de Arame e as duas últimas (2018 e 2019) no Centro de Exposições do Parque Barigui, todas com público crescente a cada ano. A última delas com 2,6 mil pessoas. A pandemia interrompeu a sequência. Se a situação permitir, o próximo será em novembro deste ano.

Enquanto não retoma as atividades, ele se dedica a lecionar as disciplinas introdutórias “Virtudes e forças de caráter”, na PUCRS, e “Felicidade e suas falácias contemporâneas”, na PUCPR, entre outras instituições, e a participar de lives com palestrantes que já haviam estado nas edições físicas do congresso.

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Segundo Gustavo, o tema felicidade nunca foi tão importante como neste momento de incertezas existenciais. “Felicidade também é bem-estar psicológico, emocional, relacional, espiritual. O emocional nos ajuda a lidar, inclusive, com vários tipos de luto. A Ciência da Felicidade nos ajuda a lidar com tudo isso”, prega.

Já quase ao final da conversa pergunto: “Você é feliz?”. Ele me olha por alguns segundos e responde: “É uma pergunta que não me é útil porque ela é binária, só comporta sim ou não, e ao final me leva a um beco sem saída. A melhor pergunta seria: Como posso ser mais feliz porque obriga o cérebro a pensar caminhos”.

Segundo Gustavo, a Ciência da Felicidade desenvolveu caminhos para mensurar o grau de felicidade com perguntas como quão satisfeito você está com a sua vida. Ao nos despedirmos, já na calçada, sob uma fina garoa de início de noite de uma sexta-feira fria, ele me diz: “Respondendo a sua pergunta de agora há pouco, sim, me considero feliz. Mas sempre podemos ser mais felizes”. Sinal de que, mesmo para quem encontrou a fórmula da felicidade, sê-lo completamente não é assim tão simples.

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