A pesquisadora Amélia Siegel Corrêa lança nesta quarta-feira (19), às 18h30, no Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões, “Alto da Glória: Fragmentos de uma História”, projeto que reúne um livro e um documentário sobre um dos bairros mais tradicionais de Curitiba. A programação conta com a exibição do filme, um bate-papo da autora com o jornalista e professor da UFPR José Carlos Fernandes e com o arquiteto Key Imaguire, seguida de uma sessão de autógrafos. A entrada é gratuita e as reservas podem ser feitas no Sympla.
O estilo eclético da arquitetura do início do século 20 do Palacete Leão Jr., que alia elementos neoclássicos e influências barrocas, localizado Alto da Glória e hoje sede do Espaço Cultural BRDE, foi o que atraiu Amélia inicialmente, despertando nela o interesse em conhecer a história daquela icônica casa e, por consequência, também a formação do bairro e das famílias que ali viviam.
Desta curiosidade nasceu o projeto, que foi desenvolvido em parceria com a historiadora Solange Rocha e que resultou na mais recente edição do Boletim da Casa Romário Martins, publicado pela Fundação Cultural de Curitiba, com prefácio do prefeito Rafael Greca. “Fiquei maravilhada com a beleza e o requinte da casa, o nível de detalhes das portas de madeira, os vitrais, o teto ornamentado, o chão ladrilhado, a varanda. Quis saber mais sobre como era a vida ali e sobre o contexto em que uma casa como aquela foi construída. Percebi que existiam lacunas na história e uma boa oportunidade para uma pesquisa mais aprofundada”, conta Amélia.
Fontes documentais inéditas, arquivos históricos, jornais, documentos, mapas, livros, imagens, fotografias e entrevistas com descendentes dos moradores e antigos funcionários da casa foram materiais usados na reconstrução dessa memória que conta também parte da história de Curitiba. Tanto o livro quanto o documentário apresentam os principais fatos que envolvem a formação do tradicional bairro curitibano no qual famílias vinculadas à erva-mate se estabeleceram, e revelam a importância da região como patrimônio histórico e cultural do estado. “A história do Alto da Glória se confunde com a história da modernização de Curitiba, viabilizada em grande parte pela expansão da produção e exportação de erva-mate, que, por sua vez, se configurou a partir de algumas famílias tradicionais do Paraná, responsáveis por investir na cultura e no desenvolvimento da cidade”, diz a pesquisadora.
Os anos iniciais da formação do bairro são repletos de histórias que envolveram personagens importantes da cidade, muitos deles que nomeiam ruas como o desembargador Agostinho Ermelino de Leão, o comendador Fontana e o arquiteto Cândido de Abreu, que foi prefeito de Curitiba (nos anos 1892/1893 e de 1913 a 1916). A pesquisa se preocupou em fazer novas leituras da história propondo um olhar contemporâneo, crítico e abrangente sobre a formação do bairro, incluindo e recuperando a participação de mulheres relevantes como Maria Clara de Abreu Leão, Dolores Leão, Maria Bárbara Correia Leão, bem como de imigrantes, como o italiano Antônio Dallegrave, figura central na construção da Capela da Glória, que ficou pronta em 1896.
O livro e o documentário trazem registros de quando a área ainda era uma zona de chácaras, na qual estava sediada o Engenho Munhoz, que utilizava mãe de obra escrava; passando pela construção do Passeio Público; a criação do Boulevard Dois de Julho, que mais tarde passou a se chamar Avenida João Gualberto. Levanta também a história do Teatro da Glória; da bela Capela de Nossa Senhora da Glória; da Chácara da Nhá Laura, onde atualmente fica o Colégio Estadual do Paraná; bem como da já demolida Mansão das Rosas; da Casa da Chácara, moradia do casal Desembargador Agostinho Ermelino de Leão e Maria Bárbara; e do Palacete dos Leões, que em 1903 virou cartão postal da cidade e, em 1906, residência oficial do então presidente do Brasil, Afonso Pena, durante passagem por Curitiba. Considerando que era a primeira vez que um presidente visitava a capital paranaense, o fato foi um marco histórico.
“Este projeto além de contribuir para a historiografia dos bairros de Curitiba, contribui para a ampliação e divulgação de novas fontes e abordagens historiográficas. Nosso intuito é ampliar o conhecimento sobre o patrimônio histórico da cidade, bem como valorizar e fortalecer a identidade local”, ressalta Amélia. A publicação impressa será distribuída gratuitamente no lançamento. Em breve, a versão on-line estará disponível para download gratuito.
Documentário
Foi a partir do Boletim Casa Romário Martins que o roteiro do documentário, com duração de 13 minutos, foi elaborado. Em setembro de 2022, o material foi exibido aos alunos do Colégio Estadual do Paraná como contrapartida social do projeto. A ideia foi despertar o interesse pela história local também nas gerações que estão conectadas com a linguagem do audiovisual. O filme com narrativa poética pode ser visto gratuitamente pelo Youtube, no Canal da Fundação Cultural de Curitiba, ampliando assim as referências visuais dos leitores do Boletim.
“Este documentário preencheu uma lacuna que existia porque há muita informação e pesquisa sobre o Alto da Glória no final do 19 e começo do 20, mas nenhum material audiovisual que as compactassem. Ficamos muito orgulhosas com o resultado. E mais ainda de poder realizá-lo com uma equipe majoritariamente feminina”, destaca a pesquisadora.
Serviço:
Lançamento de Alto da Glória: Fragmentos de uma História – Boletim Casa Romário Martins e documentário de Amélia Siegel Corrêa
Onde: Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões (Av. João Gualberto, 530 – Alto da Glória)
Data: 19 de abril (quarta-feira)
Horário: 18h30
Ingressos gratuitos: www.sympla.com.br/livro-alto-da-gloria—fragmentos-de-uma-historia-lancamento__1949603
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