Coluna da Porto a Porto sugere rótulos enquanto passeia pela história dos vinhos de Portugal

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Porto a Porto

Coluna da Porto a Porto sugere rótulos enquanto passeia pela história dos vinhos de Portugal
A quantidade de uvas nativas encontradas em Portugal é uma das características mais marcantes do país quando se trata de vinhos. (Foto: Divulgação)

O Brasil herdou de Portugal mais do que hábitos, costumes e o próprio idioma. A boa gastronomia, incluindo os azeites e os vinhos, também faz parte deste legado, em grande parte trazido pelos milhares de imigrantes que se instalaram em solo brasileiro. É sobre os vinhos de Portugal e a sua história que vamos falar hoje.

Portugal tem imensa diversidade quando o assunto são os vinhos, mas é preciso voltar no tempo para contar um pouco desta história. As primeiras videiras foram plantadas pelos fenícios. Os romanos, que vieram depois, perceberam que aquela região da Península Ibérica tinha solo e clima propício para elaborar vinhos de qualidade. Eles deixaram uma interessante herança, não apenas para Portugal, mas para boa parte do mundo: a pisa das uvas com os pés, em lagares de madeira ou pedra.

Uma das características marcantes é a quantidade de uvas nativas encontradas em Portugal. Com elas, os portugueses se tornaram mestres em elaborar cortes, ou seja, misturas que resultam em vinhos únicos e especiais. Entre as castas nativas, destaque para a emblemática Touriga Nacional.

Olhando o mapa de cima para baixo destacamos o Minho, o Douro, a Bairrada e o Alentejo. Sem esquecer da Ilha da Madeira, localizada no Oceano Atlântico e berço do vinho fortificado homônimo, imortalizado por tantas histórias, reais ou fictícias.

Outra bebida fortificada que deu fama internacional ao país é o famoso vinho do Porto, uma das glórias de Portugal. É elaborado com uvas cultivadas no Douro. Patrimônio tombado da humanidade, o Douro é cortado pelo rio de mesmo nome. Em suas margens, nas encostas em forma de terraços, estão as vinhas, formando uma paisagem única.

Ao noroeste de Portugal, entre o Douro e o Oceano Atlântico, está o Minho, região do Vinho Verde. Elaborado com uma das principais castas portuguesas, a Alvarinho, o Vinho Verde harmoniza-se perfeitamente com os frutos do mar, abundantes nesta região. Um dos vinhos brancos mais famosos de Portugal é presença constante em bons restaurantes de todo o mundo.

Na Bairrada, onde está localizada uma das mais antigas universidades do mundo, a de Coimbra, são elaborados os famosos espumantes portugueses e os vinhos tintos da casta Baga. Uma harmonização clássica são os espumantes com a carne de leitão, prato típico daquele local.

Podemos dizer que o Alentejo, ao sudeste, é o Novo Mundo dentro do Velho Mundo. Ou seja, é a região portuguesa onde se elaboram os vinhos mais modernos, concentrados e frutados. Também é de lá que vem boa parte da cortiça de alta qualidade. O Alentejo é ainda o berço da famosa carne do porco ibérico, prato saboroso e requintado, almejado por tantos bons restaurantes. Os azeites também merecem destaque. No local, há oliveiras com mais de dois mil anos, em plena produção.

Não há como falar em Portugal sem citar dois pontos fortes da sua gastronomia: o bacalhau e os doces, especialmente os feitos à base de ovos. O sabor do bacalhau harmoniza tanto com vinhos brancos quanto com os tintos. Já os doces portugueses são muito bem acompanhados pelos famosos vinhos fortificados, como Porto e Madeira.

Coluna da Porto a Porto sugere rótulos enquanto passeia pela história dos vinhos de Portugal
O Alentejo, ao sudeste de Portugal, é a região onde é encontrada boa parte da cortiça de alta qualidade do país. (Foto: Divulgação)

História do vinho português

A história de Portugal com os vinhos é muito antiga. Teriam sido os tartésios (a primeira civilização ibérica) que trouxeram as vinhas, mas coube aos fenícios a introdução da vitivinicultura. Os romanos mantiveram a tradição até o domínio dos muçulmanos, entre os séculos VIII e XII, quando o vinho sofreu forte declínio.

Portugal nasceu como nação apenas no século XII e, a partir desse momento, firmou-se como produtor de vinhos. O sucesso se deveu muito à exportação, principalmente de Portos e Madeiras, beneficiada pela proximidade com o mar.

Um acontecimento importante para a relação entre a Grã-Bretanha e Portugal foi o Tratado de Windsor, em 1386, considerado o mais antigo tratado diplomático do mundo, que estabeleceu um acordo comercial mútuo. Outro fato histórico foi o Tratado de Methuen, também chamado Tratado dos Panos e Vinhos, assinado entre Inglaterra e Portugal, em 1703 (britânicos consumiriam vinhos e portugueses tecidos). Por volta do século XVIII, vinhos do Porto e da Madeira estavam entre os mais exportados de Portugal.

O ataque da filoxera, no século XIX, abalou profundamente o país europeu: perderam-se uvas nativas e algumas regiões demoraram muito para se recuperar. No século XX, entre 1932 e 1974, Portugal sofreu nas mãos do ditador António de Oliveira Salazar, que mandou arrancar as videiras e plantar trigo para a auto-subsistência do país.

A situação para o vinho português começou a melhorar apenas quando o país entrou para a União Europeia (1986), o que proporcionou a reestruturação do setor, principalmente do sistema de denominação baseado no modelo francês de Apelação de Origem Controlada (AOC), a Denominação de Origem Controlada (DOC).

Nesse período, aconteceram muitos investimentos nas áreas rurais e a indústria do vinho começou a crescer, tanto em qualidade quanto em quantidade. Outros fatores positivos foram formação de enólogos portugueses no exterior e a modernização das técnicas de plantio. Hoje Portugal está entre os países mais destacados do mundo na produção de vinhos.

Ao longo do tempo, descobriu-se que as famosas uvas do Douro, que originavam os vinhos do Porto, também eram excelentes para vinhos tranquilos. No século XXI, Portugal destacou-se também como excelente produtor de brancos, de regiões como Vinho Verde, Bairrada e Dão.

Clima e solo portugueses

As regiões costeiras de Portugal sofrem forte influência do Atlântico, ou seja, a quantidade de chuva é alta. Quanto mais se avança para o interior, o clima torna-se continental. Na fronteira com a Espanha faz muito calor e a seca é um problema para a viticultura. Essa grande variação de clima é um dos motivos para tantos terroir diferentes, juntamente aos solos de granito, ardósia, xisto (ao norte, no interior, sul), calcário, argila e areia.

Qualidade do vinho português

Portugal tem três denominações básicas de vinhos que regem a qualidade dos produtos. A Denominação de Origem Controlada (DOC) equivale às Denominações de Origem Protegida da União Europeia, o mais alto nível da hierarquia dos vinhos europeus. Todos os vinhos que se encaixam nessa denominação têm de ser submetidos a prova, teste e aprovação oficiais.

A Indicação Geográfica Protegida (IGP) está, gradualmente, substituindo o Vinho Regional (VR). Atualmente, a União Europeia introduziu novas designações para esta categoria de vinho: IG quer dizer “Indicação Geográfica” e IGP, “Indicação Geográfica Protegida”. Muitos vinhos portugueses de prestígio são classificados assim. Isso acontece porque o produtor preferiu utilizar uvas que não estão autorizadas para uma determinada DOC ou, pelo menos, não estão autorizadas nas combinações e proporções escolhidas.

A denominação básica da União Europeia é Vinho ou Vinho de Portugal, que substitui o antigo vinho de mesa. São os vinhos mais simples do país, que não estão sujeitos a nenhuma das normas estipuladas para a qualidade dos vinhos regionais.

As uvas de Portugal

São 250 variedades de uvas, segundo o site oficial Wines of Portugal. Os portugueses são conhecidos por valorizarem suas variedades autóctones, ou nativas, elaborando assim vinhos de grande personalidade. Algumas das principais uvas brancas são: Alvarinho, Loureiro, Bical, Maria Gomes, Encruzado e Arinto (a Pederã, ao norte). Entre as tintas, Trincadeira, Baga, Touriga Nacional, Aragonês e Castelão.

Algumas regiões vinícolas de Portugal

Ao todo são 14 regiões vinícolas em Portugal. Por aqui, vamos contar as peculiaridades das principais.

VINHO VERDE

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Rolhas Alvarinho, principal tipo de uva utilizado para a fabricação dos Vinhos Verdes brancos. (Foto: Divulgação)

A região onde está a DOC Vinho Verde, o Minho, no noroeste de Portugal, possui uma riquíssima vegetação, e provavelmente é por isso que recebeu esse nome. O Vinho Verde pode ser branco ou tinto (esse elaborado com a uva Vinhão). No Brasil é mais difícil encontrar o tinto, mas em Portugal o seu consumo é frequente, harmonizado com sardinhas assadas. Os Vinhos Verdes brancos são elaborados, principalmente, com a uva Alvarinho (mas também com a Loureiro, Arinto e Trajadura) e caracterizam-se pelos aromas florais e o inconfundível frutado que lembra pêssego. A maioria “pica” a língua, sensação causada pela acidez vibrante. Em geral, possuem muita personalidade e são muito gastronômicos.

Monção e Melgaço é a principal sub-região do Minho, que produz grande proporção dos Vinhos Verdes mais finos. As videiras centenárias estão em solo fértil predominantemente de granito. Aqui a especialidade são os vinhos elaborados apenas com a uva Alvarinho: secos, encorpados e complexos, com aromas que lembram damascos e frutas cítricas, além de ótima mineralidade.

Nossas dicas para experimentar os Vinhos Verdes do Minho são os rótulos Portal do Fidalgo Alvarinho Monção e Melgaço e Alvarinho Monção e Melgaço, de João Portugal Ramos.

DOURO

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O Douro, região de encostas íngremes que se estendem em direção ao rio Douro. (Foto: Divulgação)

Apesar de o Douro ter feito fama internacional com os fortificados, há tempos são elaborados vinhos tranquilos da mais alta qualidade, tanto tintos como brancos, classificados entre os mais intensos e complexos de Portugal. O Douro é uma região de encostas íngremes, que se estendem em direção ao rio Douro. Os esplendorosos terraços de vinhas são aquecidos ao sol em um solo de puro xisto e granito, condições perfeitas para a maturação das uvas e a produção de vinhos.

Quando se pensa no Douro, naturalmente vem à mente o belíssimo cenário de vinhas velhas delimitadas por terraços estreitos, com paredes de pedra, um dos Patrimônios Culturais Mundiais da UNESCO. Além destes, esculpidos pelo homem, há os terraços modernos criados com tratores e escavadeiras mecânicas.

O Douro também é, provavelmente, uma das últimas regiões vinícolas que ainda preservam a tradicional prensa das uvas por pisa, (método de prensa das uvas com o pé), em tanques, na maioria das vezes de granito, chamados lagares. A modernização dos últimos anos trouxe os lagares robóticos, projetados para simular a ação suave do pé humano.

Para experimentar o Douro, nossas dicas são os vinhos Quinta do Cachão, Duorum Reserva Vinhas Velhas DOC Douro, Messias Vinha de Santa Bárbara DOC Douro e Porto Messias 10 anos.

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A região da Quinta do Cachão. (Foto: Divulgação)

BAIRRADA

A Bairrada fica entre o Dão e o Atlântico, ao norte de Coimbra e ao sul do Porto. É uma região plana, com grande influência marítima, chuvas abundantes e temperaturas médias e suaves o ano todo. O nome deriva de “barro”, uma referência à argila que forma a maior parte dos solos, onde encontram-se também calcário e faixas arenosas.

A região produz vinhos brancos, tintos, rosés e espumantes. A Baga é a grande uva da região. De maturidade tardia e sujeita à podridão cinzenta, é uma casta teimosa que exige grande dedicação dos viticultores. A Bairrada foi uma das primeiras regiões portuguesas a explorar os vinhos espumantes, estilo para o qual tem grande vocação, já que o clima fresco e úmido favorece a elaboração de vinhos desse estilo, proporcionando as uvas de acidez elevada e baixa graduação alcoólica.

Natural da Bairrada, Filipa Pato é uma das enólogas mais renomadas da atualidade e elabora vinhos com refinamento e elegância. Filha de Luís Pato, o vitivinicultor português que mostrou ao mundo o potencial da região da Bairrada e da uva Baga, ela lidera o projeto Vinhos Autênticos, Sem Maquilhagem que parte de conceitos como mínima intervenção nos vinhedos e valorização da autenticidade, ou seja, vinhos que revelem a expressão do terroir onde são feitos.

A enóloga trabalha com vinhas velhas que estão adaptadas à Bairrada há muito tempo (algumas videiras têm mais de 130 anos e são do período pré-filoxera, não foram enxertadas e resistiram à praga). Sua dedicação primordial é ao vinhedo, pois acredita que com uvas saudáveis tudo se torna mais fácil na adega e não é preciso maquiar as uvas.

Desde 2014, Filipa converteu os vinhedos à filosofia biodinâmica e não usa herbicida desde 2009: nem químicos nem adubos, tudo é compostado com a intenção de renovar o solo e criar mais biodiversidade. Sempre com ideias vanguardistas e adepta a experimentações, ela é também responsável pela evolução primorosa dos vinhos portugueses que aconteceu nas últimas décadas. Entre seus vinhos premiados estão Nossa Calcário tinto 2015, com 96 pontos no Robert Parker; Nossa Calcário branco 2015, com 93 no Robert Parker; FP Bical e Arinto branco 2016, com 92 pontos na Decanter; e Post-Quercus Baga 2015, com 90 pontos no Robert Parker.

Para experimentar a Bairrada nossa sugestão são os vinhos Espumante Messias DOC Bairrada Brut Milésime, Quinta do Valdoeiro Reserva DOC Bairrada, Aliás DOC Bairrada branco e Nossa Calcário DOC Bairrada tinto.

DÃO

Cercado por montanhas em todas as direções, que determinam o clima e protegem do Atlântico e da Meseta (influência continental), o Dão é uma região de solos graníticos muito pobres. Suas vinhas são dispersas e estão em diferentes altitudes, sejam os 1.000 metros acima do mar da Serra da Estrela até os 200 metros das zonas mais baixas. Alguns dos melhores vinhos do Dão originam-se no sopé da Serra da Estrela. Em razão das noites frias da região, nem sempre é fácil as uvas atingirem a maturidade completa, o que pode refletir em taninos duros e adstringentes. Porém, quando bem produzidos, os vinhos são surpreendentes.

Vinho do Dão para você conhecer a região: Quinta do Penedo DOC Dão branco.

ALENTEJO

Está localizado no sudeste de Portugal, na fronteira com a espanhola Extremadura, e apresenta uma paisagem relativamente suave e plana. Alentejo significa “além do Rio Tejo”, para quem parte de Lisboa. É limitada ao norte pelo rio Tejo, a oeste pelas regiões Tejo, Lisboa e Setúbal, a leste pela fronteira com a Espanha e ao sul pelo Algarve. Historicamente é uma região de transição, por onde passaram diversos povos. De cultura diversificada e baixíssima densidade demográfica, o Alentejo era chamado de “planície dourada” pelo ditador português Salazar. Em nome da “subsistência” do país na produção de milho, ele ordenou que as vinhas fossem destruídas.

O clima é claramente mediterrânico, quente e seco, com forte influência continental. Em geral, no Alentejo produzem-se vinhos quentes e exuberantes, mas algumas características de terroir de suas oito sub-regiões permitem a produção de diferentes tipos de vinhos. A maior parte dos vinhos alentejanos é de corte. Entre as uvas tintas destacam-se Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão e Trincadeira. Nas variedades brancas, Antão Vaz, Arinto e Roupeiro. De modo geral, são vinhos fáceis e agradáveis de beber, sendo que há também os com capacidade de envelhecimento.

Muitas opções para você experimentar o Alentejo: Loios tinto, Marquês de Borba Colheita branco, Marquês de Borba Vinhas Velhas tinto, Monsaraz Tradição tinto, Regia Colheita tinto, Reguengos Reserva DOC Alentejo tinto e Reguengos Garrafeira dos Sócios DOC Alentejo.

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ILHA DA MADEIRA

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A ilha da madeira, que fica no Oceano Atlântico, a quase mil quilômetros de Lisboa. (Foto: Divulgação)

Localizada no Oceano Atlântico, distante quase mil quilômetros de Lisboa, a Ilha da Madeira está na mesma latitude de Casablanca, no Marrocos. Foi descoberta em 1419 por navegadores portugueses, um ano depois de eles terem achado acidentalmente uma outra ilha do mesmo arquipélago, Porto Santo. O nome Madeira foi escolhido pela abundância desta matéria-prima.

Os portugueses levaram as vinhas, mas a primeira cultura foi a cana-de-açúcar, produto que colocou a ilha na rota comercial europeia. Diversas circunstâncias culminaram no declínio da produção de açúcar e as plantações foram substituídas por videiras, sendo que a partir do século XVII a Madeira impulsionou sua economia por meio do vinho.

São, no mínimo, três fatores que fazem do Madeira um vinho único: a origem vulcânica do solo, a proximidade com o mar e o processo de elaboração. Some-se a isso altitudes diversas, temperaturas amenas (mas com amplitude térmica considerável entre o dia e a noite) e trabalhadores dispostos a cultivar de acordo com as condições locais – leia-se terrenos íngremes e muito acidentados, pequenos, armados em socalcos artificiais, chamados poios, e que exigem colheita manual, às vezes de joelhos, literalmente. Além disso, as uvas da Madeira adquirem uma acidez extremamente especial que diferencia seus vinhos dos demais fortificados.

Vinhos para conhecer a Ilha da Madeira: Madeira Justino’s 3 anos e Madeira Justino’s 3 anos SECO.

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