Vanda Ramos
Alexandre Knopfholz, Rogeria Dotti e Gustavo Scandelari estão à frente da Dotti Advogados
Curitiba e o Paraná tiveram no professor René Ariel Dotti – jurista, escritor e articulista – um de seus mais brilhantes representantes do direito e da advocacia, com projeção nacional e internacional. Ao relembrar um ano de sua morte – ele faleceu em 11 de fevereiro de 2021 –, sua filha, a advogada Rogéria Dotti, e dois de seus discípulos, os advogados Gustavo Scandelari e Alexandre Knopfholz, procuram continuar seu legado no escritório Dotti Advogados, que completou 60 anos em 2021.
“Passado um ano do falecimento de meu pai, é possível perceber que sua atuação na advocacia e no ensino do direito continua a gerar frutos. Ser advogado e professor sempre foi sua grande paixão. O que ele desenvolveu na advocacia e no magistério foi tão significativo que vem superando o decurso do tempo e a ausência”, afirma Rogéria, que é sócia e coordenadora dos Núcleos de Direito Civil, Processo Civil e Direito de Família e Sucessões da Dotti Advogados.
Segundo ela, as lições do professor continuam vivas no escritório, sendo a ética e a solidariedade na defesa dos clientes alguns dos principais valores que deixou como legado e inspiração a todos. Alexandre e Gustavo, também sócios e coordenadores do Núcleo Criminal do escritório, concordam e consideram que a maior obra do jurista foi o apego à ética na prestação de serviços advocatícios e sua abertura ao diálogo, mas com visão clara dos limites da tolerância frente a condutas arbitrárias do estado ou da parte contrária.
De fato, o curitibano René Dotti, nascido em 15 de novembro de 1934, se notabilizou pela defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão, com destaque para a defesa de jornalistas, sindicalistas e políticos durante a ditadura militar – muitas vezes sem cobrar honorários. Formado pela UFPR, uma de suas paixões era a docência, e como professor de Direito Penal na mesma universidade pôde passar seu conhecimento adiante e angariar ainda mais admiração. Um dos frutos dessa vocação é sua obra Curso de Direito Penal, que, lembra Rogéria, teve sua oitava edição lançada recentemente pela Editora Thomson Reuters graças ao trabalho de atualização de Alexandre e Gustavo e à revisão de Claudia Penovich.
Para Alexandre Knopfholz, o professor deixou lições que se mantêm vivas acerca das mudanças na realidade do direito e da prática da advocacia criminal. “Ele nos legou a lição de respeito às autoridades, mas sem subserviência. A luta pelo direito às garantias individuais, sobretudo à liberdade. O combate ao arbítrio e aos excessos punitivos. A franqueza com os clientes, transparência com autoridades e a atuação técnica, sem perder os valores da ética e da solidariedade”, analisa.
Gustavo Scandelari faz um balanço dos 60 anos do escritório à luz dos ensinamentos do mestre sobre esses valores inegociáveis e o avanço da justiça. “A advocacia criminal sempre foi marcada pelo confronto entre acusação e defesa. Mas nos últimos anos temos observado um aumento das demandas para atuarmos no campo dos acordos de colaboração, da consultoria em prevenção de crimes em corporações – o compliance – e na acusação. Por isso, estamos ampliando o Núcleo Criminal e investindo em novidades tecnológicas e digitais”, diz.
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História de peso
Esse resgate das realizações do Professor René, como era conhecido, tem razão de ser. Jornalista no início de sua carreira, ele escreveu colunas para meios noticiosos, foi membro da Academia Paranaense de Letras e exerceu o cargo de secretário de Estado da Cultura do Paraná de 1987 a 1991.
Ele também se destacou na contribuição para legislações importantes, como sua participação nas comissões de elaboração das leis 7.209/84 e 7.210/84 (reforma da Parte Geral do Código Penal e Lei de Execução Penal, respectivamente).
Mas foi no ramo advocatício que ele brilhou ainda mais. A história de seu escritório é repleta de grandes casos. Entre destaques mais atuais estão as defesas da Petrobras na Lava Jato; a do ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho no caso da morte de duas pessoas no trânsito; e a do advogado Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento de Sergio Moro, contra acusações do ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran.
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