Zé Maria, o quase jogador que trocou os pés pelas mãos de violinista; leia seu perfil na coluna de Reinaldo Bessa para a revista Pinó

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Reinaldo Bessa

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(Foto: Iuri Fonseca)

O menino José Maria sonhava com futebol e ser como Pelé. Aprendeu a dar os primeiros dribles em Jaibaras, distrito de Sobral, no sertão do Ceará, onde nasceu. Primeiro dos cinco filhos do casal Maria e José João da Silva, José Maria Magalhães da Silva acabou trocando os pés pelas mãos para ser alguém na vida. Sem maiores chances nos campos de futebol, descobriu a música clássica movido por uma paixão de adolescente – não pela música, mas por uma namorada. De música ele só conhecia o conterrâneo Ednardo, o do Pavão Misterioso, e os ídolos da Jovem Guarda.

Ainda quando sonhava em ser jogador, atraído pela alimentação oferecida aos atletas, passou a treinar no time do Sesi de Fortaleza, para onde a família havia se mudado. De vez em quando, ia espiar os ensaios dos filhos de operários que frequentavam o Centro de Formação de Instrumentistas do Sesi com dois objetivos: ver sua amada e rir dos rapazes que preferiam a música ao futebol. “Quando saía do futebol eu ia lá mangar das pessoas que tocavam violino”, diz em bom cearês o hoje renomado violista da Orquestra Sinfônica do Paraná desde sua criação, com uma carreira reconhecida no Brasil e no exterior.

Eis que um dia a menina o botou pra correr. Desesperado, José Maria só viu uma solução. Apesar de nunca ter chegado perto de um violino (que mais tarde ele trocou pela viola clássica), pediu para aprender a tocar o instrumento como estratégia para tentar reconquistá-la. Os amigos do futebol o chamaram de abestado por trocar os treinos pelas aulas de música, fazendo insinuações maldosas. Mas a paixão falou mais alto e ele seguiu em frente. Mesmo não conseguindo reconquistar a namorada, que logo se afastou do grupo.

Outro que não achou graça na decisão foi seu pai, que o queria doutor. Os dois chegaram a se desentender por um tempo, mas José Maria já tinha tomado gosto e prosseguiu nos estudos musicais com afinco, dos 15 aos 25 anos. Logo começou a viajar com a orquestra formada pelos jovens aprendizes. “Por causa da orquestra passei a ter acesso a coisas que nunca tinha tido antes, como viajar de avião, ficar em hotel e conhecer outros lugares”, relembrou o maestro, enquanto descansava na casa da família de sua mulher Luciana Sá Silva, em São João do Rio do Peixe, cidadezinha do sertão paraibano, de onde ele conversou com a Pinó nos primeiros dias de janeiro, pouco antes de completar 63 anos.

Pulemos no tempo. As oportunidades que a música abriu para José Maria foram sua inspiração para dar início a uma ideia que o perseguia desde sempre: o projeto Cordas do Iguaçu, que ensina crianças e jovens preferencialmente carentes a se formar músico instrumentista com aulas de violino, violoncelo e viola clássica ministradas por professores altamente qualificados, a maioria seus colegas da Orquestra Sinfônica do Paraná.

Atualmente, o projeto atende 310 alunos de 5 a 17 anos das cidades de Tunas do Paraná (pequeno e paupérrimo município da Região Metropolitana de Curitiba), Balsa Nova e a própria capital. Em breve, passará a funcionar também em Araucária. Desde que surgiu oficialmente, o grupo já gravou quatro DVDs e se apresentou nos grandes teatros de Curitiba, em diversos estados e até no Festival Internacional de Eurochestries, em Paris, além de acompanhar grandes nomes da música brasileira, como Ivan Lins, Elba Ramalho, Zeca Baleiro e Fagner, entre outros.

José Maria diz que queria proporcionar aos jovens músicos o mesmo que ele teve quando começou a frequentar as aulas em Fortaleza. Para bancar o projeto, que fornece bolsas de estudo e os instrumentos aos alunos, ele conta com o apoio de empresas via Lei Rouanet. Entre os apoiadores estão marcas como Berneck, Incepa, Itambé, Mili, Peróxidos do Brasil, Schattdecor, Unimed Paraná, BRDE, Sanepar e o Governo do Estado. O menino que sonhava com futebol e ser como Pelé e trocou tudo pela música mostrou que de abestado não tinha nada. Ainda bem.

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