Estudo aponta abandono das BR-277 e estrada da Graciosa antes de deslizamentos
Os recentes incidentes registrados na rodovia BR-277 e na Estrada da Graciosa, no Paraná, que provocaram a interdição das vias, poderiam ter sido evitados ou ter seus impactos minimizados. Essa é a avaliação do geólogo, Elbio Pellenz, contratado pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Especialista em Geologia da Engenharia e que integrou o Serviço Geológico do Paraná (Mineropar), Pellenz indicou que, se houvesse um serviço de monitoramento geológico, análise dos riscos e planejamento, a situação poderia ser diferente.
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O profissional também relaciona os episódios com o fim da concessão das rodovias paranaenses, que ocasionou a degradação da infraestrutura em função do abandono por parte do governo estadual.
Em sua análise, Pellenz ressalta que o monitoramento contínuo com inspeções rotineiras e o uso de instrumentos como telemetria contínua e sistema de alarmes podem eliminar ou, ao menos, minimizar as consequências danosas de curto, médio e longo prazos.
Além de possibilitar a identificação de possíveis incidentes geológicos, o monitoramento também é ponto-chave para que se trace planos de emergências, reduzindo impactos – como tempo de interdição.
BR-277 abandonada
Na BR-277, na Serra do Mar, por exemplo, o geólogo aponta que todas as obras escavadas com mais de três metros de altura têm potencial para provocar transtornos ao tráfego. Esse risco, no entanto, pode ser “tratado do dia para a noite” com medidas simples, como pista lavada.
Pellenz, no entanto, identificou obras de maiores proporções (como as realizadas nos quilômetros 34 e 39), que estão situadas “dentro” de feições geomorfológicas potencialmente instáveis – que se movimentam até seis centímetros por ano. O geólogo acrescenta que o trecho entre os quilômetros 30 e 50 se encontra em áreas com taludes potencialmente instáveis.
“Alguns movimentos e suas consequências podem ser acompanhados por simples inspeções visuais rotineiras (semanais, quinzenais) e outros, potencialmente mais ruinosos, têm que ser obrigatoriamente instrumentados. É impossível prever qual talude vai escorregar primeiro sem o resultado do monitoramento. Tem que ser um trabalho permanente, cotidiano e comprometido com o resultado pretendido”, aponta o geólogo. “É inaceitável que o poder público não tivesse mantido nem uma patrulha mecanizada básica nas proximidades do trecho da Serra [do Mar]”, acrescenta.
Fim da concessão
Para Pellenz, os incidentes registrados na BR-277 têm relação direta com o fim das concessões das rodovias do Anel de Integração à iniciativa privada. Os contratos de concessão chegaram ao fim em novembro de 2021 e a solução foi postergada para depois das eleições. Na avaliação do especialista, a demora trouxe consequências negativas para infraestrutura da malha viária.
“Um ano de abandono, houve degradação do revestimento asfáltico, da sinalização horizontal e vertical, da drenagem e dos sistemas de manutenção rotineira e preventiva. Isso tudo, muito provavelmente, resultou na queda de blocos. O desdobramento seria outro se o acompanhamento da manutenção rotineira tivesse sido preservado”, destaca Pellenz. “O despreparo e a falta de atitude dos responsáveis imediatos pela rodovia demonstraram a verdade do estado de abandono de um inestimável bem público”, completa.
Em relação à BR-376, a crítica do geólogo diz respeito aos aditivos de contrato e à falta de transparência em relação ao modelo de concessão. “Temos as imagens de câmeras da BR-376? Onde estão? Onde estão localizados os pluviômetros? Quais os gatilhos pluviométricos para alertas e interdição preventiva?”, questiona.