Novo juiz da Lava Jato nega ser de esquerda e vai representar contra procuradora que pediu sua suspeição
O juiz federal Eduardo Appio, que assumiu recentemente a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava Jato, refutou as acusações feitas pela procuradora Carolina Bonfadini de Sá, que pediu a suspeição dele na última sexta-feira, 03. Para o magistrado, as suspeitas lançadas pela representante do Ministério Público Federal (MPF) são levianas e, por isso, ele deve representar contra ela no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) já na próxima segunda-feira, 06.
O pedido de suspeição diz que há “indícios de proximidade, afinidade e vínculo do julgador, com campanhas políticas e manifestações partidárias” em relação ao magistrado. Appio rebate veementemente as acusações, que considera calunias. “Não sou de esquerda, nem de direita, sou do judiciário. Trabalho para resgatar a credibilidade da Justiça”, afirmou o juiz em conversa com a coluna.
O juiz diz que não possui perfil no Twitter, rede social que a procuradora utilizou como base para demostrar a suposta parcialidade do magistrado. Na solicitação, são demostradas mensagens de uma conta atribuída à Appio que segue 37 pessoas, sendo 21 políticos ou ex-políticos ligados à esquerda, e que compartilhou várias postagens de críticas à Operação que agora é responsável. O magistrado lembra que não há controle de identidade na plataforma de micro blog, portanto qualquer um pode usar seu nome.
Sobre uma transação imobiliária, descrita na solicitação da procuradora, que teria sido feita pelo juiz com o ex-deputado federal petista André Vargas em 2015, Appio explica que realmente vendeu um imóvel em Londrina para uma mulher nesta data, mas que tudo foi intermediado por uma grande imobiliária na região, e que ele não tinha conhecimento que a compradora era a companheira de Vargas. O juiz reforça que toda a negociação aconteceu dentro da lei.
André Vargas foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro na Lava Jato, pelo então juiz e atual senador Sergio Moro (UB), mas acabou absolvido, por unanimidade, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, que revisava as sentenças da Operação de Curitiba.
Appio ainda lamenta que a procuradora tenha citado o pai dele no pedido. Ele conta que Francisco Appio, que faleceu em outubro do ano passado, foi deputado federal e estadual pelo Rio Grande do Sul por vários mandatos, e que tinha uma postura mais pró direita, o que, na visão dele, rebate a construção de uma “narrativa” que estaria sendo criada em torno de suas preferencias ideológicas.
O juiz reclama que está sendo vítima de uma campanha de “Fake News”, e reforça que vai levar adiante a missão de julgar os processos da Lava Jato. Appio diz que sua luta é para que o caso não termine como o escândalo do Banestado. Nos anos 90, investigações descobriram envio de dinheiro ilegal para o exterior usando o antigo banco público do Paraná. O caso envolveu as mesmas figuras centrais da Lava Jato: foi julgado pelo ex-juiz Sergio Moro, tinha como um dos procuradores o atual deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos), e entre os principais investigados também estavam os doleiros Dario Messer e Alberto Yousseff. O desfecho foi que muitos envolvidos beneficiaram-se das prescrições e apenas personagens menores chegaram a cumprir penas.
Sobre a análise do pedido de suspeição, Appio diz que o pedido será apreciado no tempo e modo devidos, “com serenidade e sem ceder à pressões”, reforça.
Se o juiz não se declarar impedido, o caso segue para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sediado em Porto Alegre, que tomará a decisão final.