"Ela estava lá para purificar seu corpo e alma rezando, mas não conseguiu”, diz pai de bailarina morta

por Redação RIC.com.br
com informações da reportagem da RIC Record TV, Maringá
Publicado em 29 jan 2020, às 00h00. Atualizado em: 1 jul 2020 às 16h14.

Maurício Borges, pai da bailarina Maria Glória Poltronieri Borges, de 25 anos, encontrada morta nas proximidades de uma cachoeira em Mandaguari, no norte do Paraná, participou do programa Balanço Geral Maringá, da RIC Record TV, nesta quarta-feira (29), e falou sobre a tragédia que atingiu sua família. (Assista abaixo na íntegra)

Ele explica que a filha estava sozinha no local onde foi assassinada porque foi até lá para se dedicar a oração e conectar-se com a natureza. O combinado era buscá-la na tarde de domingo (26)

“Minha filha era uma pessoa de luz. Ela faz parte de um grupo de mulheres fantásticas que estudam a espiritualidade ancestral feminina, focada nos elementos da natureza. […] Ela estava lá para honrar São Sebastião, pra 00 seu corpo e sua alma rezando, ao contrário do que qualquer outra pessoa tenha falado. E ela nem conseguiu fazer isso”, desabafa o publicitário. 

Abalado, mas orgulhoso da filha, Borges ainda completa: “A minha filha e, por esse motivo que ela foi cremada, dentro dessa estrutura ritual, ela era guardiã do fogo. Ela esteve naquele dia, justamente, na cachoeira porque água é um elemento de purificação’’, diz.

“O que fica de recordação é essa pessoa iluminada, essa pessoa que só queria o bem. Ela tocou muitas pessoas na vida dela, não só através da dança, mas por esse olhar de enxergar o próximo, independente da condição social, do gênero. Por causa dessa espiritualidade elevada, ela tinha esse olhar para o próximo, esse querer bem. No dia do velório, da despedida, centenas de pessoas vieram até nós para falar ‘Olha, a tua filha mudou a minha vida’. Então, ela tinha isso como missão de vida e ela cumpriu a condição dela”, conta o pai.

Magó quis ir sozinha até a cachoeira para fazer rituais de espiritualidade

Magó fazia parte de um grupo chamado ‘Memória Ancestral Tribo da Lua’ e no dia em que desapareceu, 25 de janeiro, insistiu em ir até a cachoeira sem a companhia do namorado ou de familiares. “Ela quis ir sozinha, a Daisa e a Ana [mãe e irmã] até questionaram, mas ela falou ‘Não, mãe. Hoje eu preciso estar sozinha para me conectar com a natureza e eu vou acampar num espaço na chácara, na sede, onde tem um espaço para acampamento, mas eu quero descer e fazer as minhas rezas sozinha no rio’, conta o primo Gabriel Vecchi.

O pai, Maurício Borges, quando indagado sobre o que acredita que tenha ocorrido, pontua que todos os pertences da filha foram encontrados dentro de sua mochila e, por isso, não acredita em uma tentativa de assalto. Para ele, Maria Glória lutou pela vida até os últimos minutos com quem cometeu o crime, já que era uma mulher forte e que lutava, inclusive, capoeira. 

“Minha filha era uma garota muito forte e, por tudo que a gente viu lá, ela lutou muito pela vida dela. Ela sempre foi uma garota extremamente lutadora, pela primeira vez, ela perdeu uma luta que ocasionou esse crime hediondo. Eu não quero falar detalhes porque é de uma selvageria e de um nível animalesco de violência que eu acho que nem os seus mais abusados ouvintes e telespectadores gostariam de ouvir”, declara. 

Pai questiona declarações de testemunha

Durante a conversa, o pai também questionou as declarações dadas por Lindalva dos Santos, proprietária da chácara onde Magó foi deixada pela mãe. Ele não acredita que a mulher tenha alguma ligação no crime, mas que possa querer se eximir das responsabilidades de possuir um local de lazer e não ter controle de quem frequenta. 

Borges também afirma que a mulher não falou a verdade aos socorristas que procuravam por Magó

“O povo ficou muito preocupado e desceu pra procurá-la e não encontraram. Aí, eles voltaram passou cerca de uma hora, uma hora e pouco, e tornaram a não encontrar. quando eles voltaram, o  líder do grupo falou ‘olha vamos esperar mais, vamos de novo’. Aí, a dona da pousada disse ‘olha, ela já voltou’. Só que minha filha nunca voltou, daí eles não desceram de novo. E pelos relatórios da polícia minha filha estava viva nesse momento”, desabafa. 

Ele também ressalta que o local onde Magó foi encontrada não era de difícil acesso e que ela teria sido localizada pelo grupo de busca caso já estivesse lá. “Quando a minha mulher chegou, ela [proprietária da pousada] estava desesperada e falou ‘A gente tentou achar sua filha, mas ela não voltou desde ontem’. Minha mulher, minha filha e o namorado da minha filha desceram. […] Em cinco minutos minha filha achou o corpo, estava a 100 metro da queda d’água, em um local mais ou menos fácil”, diz.

O fato de Lindalva não ter entrado em contato com a família logo depois que a bailarina desapareceu também incomoda o pai que perdeu a filha de forma tão trágica. Em entrevista concedida à RIC Record TV, nesta terça-feira (28), a mulher declarou que encontrou a barraca, junto com todos os pertences da vítima jogados perto de um portão, e chegou abrir a mochila de Maria Glória para procurar um número de telefone, mas o celular da jovem estava desligado e ela, então, decidiu esperar.

Assista à entrevista:

 

O crime

Magó foi encontrada morta com sinais de violência sexual, uma peça íntima enrolada no pescoço e com marcas de esganadura, na tarde de domingo (26). O corpo estava em um trilha perto de uma cachoeira, a cerca de 600 metros da sede da chácara onde a jovem foi deixada pela mãe e pela irmã na tarde de sábado (25). Ela sumiu no fim da tarde de sábado, antes mesmo de montar acampamento, mas o laudo pericial aponta que a morte ocorreu entre às 5h e 6h da manhã de domingo.

“Existe a possibilidade de ela ter sido sequestrada ali e levada para outro lugar. Nós não podemos esquecer que os socorristas fizeram duas buscas e não encontraram ninguém”, explica o pai.

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A bailarina foi encontrada nas proximidades da cachoeira. (Foto: reprodução/RIC Record TV)

O Instituto Médico Legal (IML)  declarou que a causa mortis foi asfixia, mas a Polícia Civil espera pelo laudo médico a fim de confirmar a suspeita de abuso sexual.

“Não descartamos um crime de violência sexual, mas precisamos do laudo para poder ter certeza”, explica o delegado Neri Zoroastro.

O caso é investigado por uma força-tarefa das Polícias Civis de Mandaguari e Maringá. Até o momento, mais de 30 pessoas prestaram depoimento, mas ninguém foi preso.