Delação da J. Malucelli coloca Pepe Richa e Alep como beneficiados em esquema de corrupção
Em delação premiada, a diretoria da empresa J. Malucelli afirmou ter pago o valor de R$ 350 mil por vantagens indevidas nas licitações que envolviam o programa de reabilitação e manutenção de estradas rurais do Paraná, Patrulhas do Campo, no ano de 2014. Conforme os testemunhos, o dinheiro foi entregue a um operador indicado pelo então secretário estadual de Infraestrutura, Pepe Richa.
Os depoimentos de Joel Malucelli, Rafael Malucelli e Georgete Soares Bender, prestados no processo ocasionado pela Operação Rádio Patrulha, do Ministério Público do Paraná (MP/PR), ocorreram em 2020.
Além de nomearem Pepe Richa e Beto Richa, governador do Paraná na ocasião, como beneficiários do esquema de corrupção, tanto Joel como Rafael citaram que também estariam envolvidas no esquema pessoas da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
De acordo com Joel e Rafael, os R$ 350 mil entregues em dinheiro vivo, dentro de uma mala, a Jorge Atherino na sede da J. Malucelli Construtora era referente aos 4% de propina acertada com os representantes do governo Beto Richa para renovação dos contratos referentes ao programa Patrulha do Campo.
Veja parte do depoimento de Rafael Malucelli:
“Na primeira visita, conversamos com PEPE RICHA e solicitamos um extrato ou comprovação dos pagamentos do DER-PR para a OURO VERDE. PEPE RICHA nos direcionou a LUIZ CLAUDIO DA LUZ, então chefe de gabinete do governador BETO RICHA, este que providenciou uma planilha com a confirmação dos pagamentos para a empresa OURO VERDE. Com o mesmo propósito, eu e meu pai (JUAREZ MALUCELLI) comparecemos uma vez mais ao DER-PR em oportunidade distinta, ocasião que conversaram apenas com LUIZ CLAUDIO DA LUZ sobre se os pagamentos à empresa OURO VERDE estavam em dia.
Já no final de 2013, JORGE THEODÓCIO ATHERINO compareceu à sede da J.MALUCELLI CONSTRUTORA e solicitou fosse estabelecido contato com CELSO ANTÔNIO FRARE (diretor da OURO VERDE). Dessa forma, eu e meu pai (JUAREZ MALUCELLI) o acompanhamos até o escritório de CELSO FRARE. Segundo ATHERINO me relatou, essa visita havia sido solicitada por PEPE RICHA. Nesse dia, JORGE ATHERINO, que até então não conhecia CELSO FRARE, solicitou a esse o dinheiro referente ao recebimento mensal das patrulhas (4% anteriormente negociado). CELSO FRARE, bastante irritado, expulsou JORGE ATHERINO da empresa OURO VERDE e disse a ele que: “se o secretário quisesse dinheiro, que fosse pessoalmente ao escritório da OURO VERDE pedir.”
Alep
Sobre o envolvimento da Alep no esquema de corrupção, a situação teria sido citada durante uma reunião. “Poucos dias antes da entrega (06.03.2012) e abertura (09.03.2012) das propostas, realizou-se nova reunião na sede da J.MALUCELLI CONSTRUTORA, com a minha presença, de JOEL MALUCELLI, LUIZ HENRIQUE MOLINARI e de um representante da empresa TERRA BRASIL, o qual comunicou que a empresa disputaria normalmente a licitação. Ainda, segundo esse representante, a TERRA BRASIL teria compromissos com “pessoas da Assembleia Legislativa”, disse Rafael Malucelli em juízo.
Mala de dinheiro
Já Georgete Soares Bender contou ter entregue pessoalmente a mala com os R$ 350 mil a Jorge Atherino:
“Em maio de 2014, fui informada por RAFAEL MALUCELLI sobre a necessidade de operacionalizar o pagamento de alta quantia referente à renovação de um contrato do DER-PR com a OURO VERDE. Coletei o valor de aproximadamente R$315.000,00 (trezentos e quinze mil reais), em parte objeto de saques em espécie e noutra parte obtido por meio de vendas de equipamentos pagas em espécie, e entreguei o montante diretamente ao JORGE ATHERINO na sede da J.MALUCELLI CONSTRUTORA, fato também presenciado por JUAREZ MALUCELLI (diretor da J.MALUCELLI). A quantia foi entregue a JORGE ATHERINO na sala de JUAREZ MALUCELLI e estava dentro de uma mochila”, disse Georgete.
Atherino também foi citado como operador financeiro de Beto Richa, nas operação:
- Quadro Negro, que apura o desvio de recursos de obras de escolas estaduais;
- Integração e Piloto, desdobramentos da Lava Jato;
- Superagui, que investiga irregularidades em licenças ambientais para construções em Paranaguá.
Rádio Patrulha
Em 2018, 12 pessoas se tornaram réus no processo decorrente da Operação Rádio Patrulha. Entre eles, estão Beto Richa, Pepe Richa, Joel Malucelli e Celso Frare, presidente da empresa Ouro Verde. Em 2019, a Ouro Verde admitiu os crimes e Frare também firmou acordo de delação premiada.
A assessoria de Pepe Richa enviou uma nota para esta coluna no fim da tarde de terça-feira (8). Leia na íntegra:
“Não é verdade que a colaboração premiada dos executivos da empresa J. Malucelli implique Pepe Richa, ex-secretário de Infraestrutura e Logística do governo estadual do Paraná. Não há um só relato que aponte conduta irregular ou ato ilícito de Pepe Richa nos depoimentos. A reportagem erra — e induz o leitor a erro — ao insistir na afirmação.“
A defesa do ex-governador Beto Richa também encaminhou nota, na terça-feira (03). Segue na íntegra:
“A defesa do ex-governador Carlos Alberto Richa segue acreditando na justiça. O processo apenas vêm demonstrando a inocência, sendo a versão dos delatores isolada de qualquer prova, o que demonstra a intenção, única, de receber benefícios da justiça para ñ esclarecer a verdade.”
A defesa de Joel Malucelli enviou um vídeo na manhã de quarta-feira (4). Confira: