Na época, o réu chegou a confessar o crime na delegacia, mas depois voltou atrás e disse que não era o autor dos disparos
Antônio Francisco dos Prazeres Ferreira, 33 anos, acusado pelo assassinato do policial militar Erick Norio, 28 anos, na Vila Corbélia, localizada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), a madrugada de 7 de dezembro de 2018, negou que tenha cometido o homicídio durante a primeira audiência de instrução do processo realizada durante a tarde desta quinta-feira (7), no Tribunal do Júri, em Curitiba. Além do réu, oito testemunhas foram ouvidas, três delas de defesa e cinco de acusação.
Foi José Valdecir de Paulo, advogado de Antônio, que confirmou que seu cliente negou o crime, depois de anteriormente ter confessado na delegacia e dias depois, negado ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). “Hoje, novamente, ele falou ao juiz que não foi ele” disse. Conforme a defesa, o rapaz deu duas versões sobre o crime porque quando foi ouvido na delegacia estava sozinho com os policiais.
A versão do advogado é de que o acusado estava junto com o verdadeiro autor do crime: Pablo Silva Pereira da Hora, 22 anos, encontrado morto menos de 24 horas depois do assassinato do policial. “Quando a polícia foi fazer a abordagem, eles estavam em três, eles correram. Esse menino que foi ouvido hoje como testemunha de defesa, ele estava no momento dos fatos e quanto os policiais chegaram, correu Antônio e esse menino para um lado e o Pablo para o outro lado. Então, eles ouviram o disparo e tudo leva a crer que foi o Pablo que efetuou o disparo”, declarou.
Provas do contra o acusado
A defesa também ressalta que não foi realizado o exame de balística no réu e que uma das provas usadas contra ele, é o fato de sua identidade ter sido achada no local do crime. No entanto, a esposa de Antônio alegou que a residência dos dois foi invadida e os documentos foram levados. “A única prova que ele tem, que eu acho que é prova que não sustenta uma condenação, até porque foi colhida em delegacia, sem um defensor, é a confissão dele”, finalizou de Paulo.
Antônio permanece preso na Casa de Custódio de São José dos Pinhais, na região metropolitana da capital.
PM morre Vila Corbélia
A vítima e um colega checavam uma ocorrência de pertubação de sossego, via 190, e estavam perto do local indicado pela denúncia quando avistaram um motociclista com atitude suspeita. Enquanto o condutor da viatura realizava uma busca pela placa do veículo, Erick desceu do automóvel e foi baleado. O atirador fugiu e o outro soldado não viu de onde vieram os disparos.
Antes de desmaiar, o policial ainda conseguiu dizer que havia sido atingido. Ele chegou a ser levado até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. De acordo com o Capitão Araújo, Norio agiu conforme as normas de abordagem da Polícia Militar. “Ele acabou sendo surpreendido com dois disparos. Um deles acertou o colete, e o outro um pouco acima do corte do colete. Tentaram por, aproximadamente, 45 minutos a reanimação. Todos os procedimentos médicos cabíveis foram realizados, mas o soldado não resistiu a esse ferimento“, afirmou Araújo.
Imagens mostram momento que policial entra na Vila Corbélia e é morto
Mortos da Vila Corbélia
Após a morte do policial militar na Vila Corbélia, mais de 100 agentes de segurança permaneceram na região na tentativa de buscas pelos autores dos disparos. O corpo de Pablo foi encontrado a 4 quilômetros onde morreu o policial. Além de Pablo, Gabriel Carvalho, 17 anos, também foi encontrado morto. Testemunhas revelaram ao Gaeco que Gabriel teria sido executado por policiais militares antes do incêndio. O caso é invetigado.
Vídeo mostra homens com colete da PM atirando
Moradores da vila, filmaram dois homens, vestidos com coletes da PM, atirando dentro da Vila Corbélia. Nas imagens é possível ver que eles saem de uma caminhonete e efetuam ao menos cinco disparos.
Segundo uma testemunha, naquele dia, a polícia determinou o toque de recolher na favela e depois dos tiros, um incêndio tomou conta do local.
Incêndio destrói Vila Corbélia
Na noite de 7 de dezembro e madrugada do dia 8, vinte e quatro horas depois de Erick ser assassinado, um incêndio destruiu a Vila Corbélia.
À época, a Prefeitura de Curitiba confirmou que pelo menos 100 residências foram queimadas em uma área de dez mil metros quadrados. Já o Corpo de Bombeiros estimou 300 barracos atingidos pelas chamas. Famílias inteiras perderam tudo o que tinham e uma onda de revolta tomou conta dos moradores, já que eles acreditavam que o fogo havia sido uma represália da polícia pela morte do policial.
Um policial militar e um bombeiro sofreram ferimentos leves, já que foram atingidos por pedras – que foram jogadas por moradores da região, de acordo com a Polícia Militar (PM). Viaturas da polícia e um caminhão dos bombeiros, entre outros veículos oficiais, também foram apedrejados.
Tanto as mortes dos moradores como as imagens dos suspostos PM’s atirando e o incêndio que, posteriormente, destruíu inúmeras casas são investigados pelo Gaeco.
PM afirma que incêndio foi retaliação do crime organizado
Na manhã do dia 8, a Polícia Militar declarou, durante uma coletiva de imprensa, que o incêndio foi uma retaliação do “crime organizado”.