Aliciamento de crianças: família de líderes religiosos é presa em operação da polícia em Maringá; assista

por Guilherme Becker
com informações da comunicação da PCPR e do repórter Fábio Guillen / RIC TV
Publicado em 23 jul 2021, às 07h12. Atualizado às 12h27.

A Polícia Civil do Paraná (PCPR) está nas ruas de Maringá, na região noroeste, na manhã desta sexta-feira (23) para cumprir seis mandados judiciais. Os alvos da operação são líderes religiosos: pai, mãe e filho, que foram presos. Segundo a investigação do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), os familiares são suspeitos de envolvimento no aliciamento de crianças e adolescentes com intuito de submetê-las ao trabalho escravo. Ao menos cinco crianças, todas menores de 14 anos, teriam sido vítimas dos indivíduos. 

Dezoito policiais civis participam da operação, que conta com o apoio da Vigilância Sanitária e do Conselho Tutelar. Ao todo são três mandados de prisão e três de busca e apreensão.

Dentro da igreja, foram apreendidos uma pistola, 15 munições intactas, um taco de beisebol, dinheiro em espécie e cheques, além de alimentos em condições impróprias, incluindo quase 200 pizzas.

Aliciamento de crianças

Os alvos da operação são pai, mãe e filho. Os três são líderes religiosos e comandavam a venda de pizzas feitas em uma igreja, em Maringá e cidades da região. O trio atraia as crianças e adolescentes afirmando que a ação seria uma obra divina e que o dinheiro seria doado para crianças com câncer.

Após o aliciamento, os menores eram submetidos ao trabalho forçado, em jornada excessiva. Os suspeitos ainda obrigavam as crianças a prestar contas relacionadas às vendas, por meio de ameaças e agressões físicas e verbais.  

“Eles colocavam em exaustiva jornada de trabalho as crianças, de manhã até de madrugada, sem oferecer alimentação. E quando elas não cumpriam metas, eram agredidas, tanto física como psicologicamente”,

relatou a delegada do Nucria, Karen Friedrich Nascimento.

Uma das vítimas, de 13 anos, foi subtraída dos pais para trabalhar como empregada doméstica na casa da família de pastores. Um taco de beisebol era usado, segundo a polícia, para intimidar as crianças. Os pais que tentavam contestar os métodos do grupo também eram agredidos e ameaçados.

“A Vigilância Sanitária constatou que as pizzas são todas impróprias para consumo. Foram colocadas no chão, sem os devidos cuidados. Elas foram apreendidas”

afirmou a delegada do Nucria, Karen Friedrich Nascimento.

A delegada afirmou ainda que mais crianças podem ter sido vítimas da ação dos religiosos, inclusive em outras cidades, como Alto Paraná, na região de Paranavaí. As investigações continuam.

Alimentos irregulares

De acordo com a Vigilância Sanitária, foram encontrados produtos usados na confecção de pizzas armazenados de forma irregular, fora da temperatura de acondicionamento ideal, sem data de validade e sem procedência.

“Alimentos nessa situação colocam em risco a saúde de quem consome. Não havia condições de higiene adequadas no local”, explica a fiscal da Vigilância Sanitária, Samantha Cristina Bego. Todos os produtos foram apreendidos e serão descartados.

A igreja receberá um auto de infração e também será vistoriada pela prefeitura já que não apresentou alvará nem documentos do local hoje. A Secretaria da Fazenda informa que a igreja é reincidente na irregularidade.

Foram apreendidos pela Vigilância Sanitária:

• 182 pizzas prontas
• 570 massas para pizzas
• 6 unidades de 2 quilos de embutido
• 2 unidades de 4 quilos de queijo
• 4 unidades de 1 quilo de lombo
• 5 unidades de 500 gramas de linguiça
• 9 embalagens com cheddar cremoso
• 9 embalagens com requeijão
• 20 quilos de presunto e mortadela em pedaços

Nota de repúdio

A Ordem dos Pastores Evangélicos de Maringá (OPEM) divulgou ainda na manhã desta sexta uma nota de repúdio com relação ao ocorrido. a nota é assinada pelo presidente da OPEM, o pastor Alexandre Ferrarezi. Segue abaixo a nota, na íntegra:

“A Ordem dos pastores Evangélicos de Maringá, vem a público repudiar o ocorrido envolvendo líderes religiosos na Cidade de Maringá (exploração de menores). A Ordem luta e sempre orienta aos pastores e líderes membros da mesma a serem luz e exercer com responsabilidade a chamada Pastoral. A Ordem também deixa claro que os Líderes Religiosos envolvidos na operação policial não fazem parte da OPEM e agem de maneira isolada na cidade de acordo com suas convicções. A Ordem também lamenta o ocorrido, porém deseja que seja apuradas todas as denúncias e que a verdade prevaleça.”