Defesa de Carli Filho tem até segunda-feira (5) para recorrer (Foto: Reprodução/RICTV)

Ex-deputado Carli Filho recebe pena de nove anos e quatro meses em regime fechado

O júri popular condenou o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho por dolo eventual pelo acidente envolvendo Gilmar Yared e Carlos Murilo de Almeida, em maio de 2009. Ele recebeu pena de 9 anos e quatro meses em regime fechado e ainda cabe recurso. Foram mais de 16 horas de julgamento, marcado por momentos de tensão, silêncio e emoção.

A defesa de Carli Filho deve recorrer da decisão do Tribunal do Júri em cinco dias, mas está limitado a discutir as possibilidades previstas no artigo 595, III, do Código de Processo Penal, pois a decisão dos jurados é soberana. Carli Filho não será preso e segue em liberdade até que o recurso seja julgado em segunda instância pelos desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná.

Primeiro dia

Carli Filho chegou acompanhado dos advogados ao Tribunal do Júri. Ao desembarcar do veículo, o ex-deputado entrou rapidamente em uma sala do tribunal ao ser recebido com protestos. Carli Filho não era obrigado a comparecer. Depois de sorteado, o Conselho de Sentença ficou composto por cinco mulheres e dois homens. 

Seis testemunhas falaram no julgamento. Em média, cada depoimento durou meia hora. Com exceção do perito contratado pela defesa de Carli que falou por aproximadamente 2 horas. As testemunhas foram: médico que estava no restaurante com Carli Filho; o porteiro do restaurante; o médico que atendeu o ex-deputado no dia do acidente, considerada testemunha ocular do acidente; uma testemunha que chegou logo após o acidente; e o perito contratado Ventura Martello Filho. 

O perito Ventura Rafael Martello Filho, 6ª testemunha a falar, deu um depoimento técnico e tentou desconstruir todas as provas levantadas pelo Instituto de Criminalística do Paraná. Ele inclusive alegou que Gilmar Yared, uma das vítimas da colisão, poderia ter evitado o acidente.

Christiane Yared, mãe de uma das vítimas, permaneceu emocionada durante todo o júri. Ela que era uma das testemunhas de acusação, acabou desistindo de falar e assistiu os procedimento da plateia. “São emoções que acabam vindo à tona e eu acho até que é melhor mesmo poder assistir. E eu já falei tanto, já lutei tanto”, disse com voz embargada. O depoimento dela já está incluso no processo, juridicamente não fez nenhuma diferença sua desistência de falar diante do júri.

 Um dos momentos mais marcantes do primeiro dia de julgamento de Carli Filho, que durou oito horas, foi marcado pelo encontro da tia do ex-deputado com Christiane Yared, mãe de Gilmar Yared.

Os promotores pedem que Carli seja condenado por duplo homicídio com dolo eventual – quando se assume o risco de matar – pela morte, em 2009, de Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida. Já a defesa diz que o ex-deputado não teve a intenção de matar. Em seu depoimento, Carli Filho chegou a afirmar que foi o “maior erro de sua vida”.

Carli Filho chorou várias vezes durante o seu primeiro dia de julgamento. Um dos momentos que mais o emocionaram foi quando a promotoria mostrou a foto dos dois jovens mortos e decapitados. O ex-deputado foi o último a prestar depoimento no primeiro dia, com duração de 16 minutos. Ele pediu desculpas, chorou e disse que não tinha a inteção de provocar o acidente.

Segundo dia

A chegada de Carli Filho foi marcada por uma breve confusão no segundo dia de julgamento. 

“Não bastasse a dor do luto, ainda tiveram que sentir a dor de serem culpados”. Fala do promotor de justiça, Balzer Correia. Ele falou sobre as multas e a possibilidade do ex-deputado ter usado o celular no momento do acidente.

Advogado de acusação, Mattar Assad diz que houve dolo-eventual, pois ao beber e dirigir em alta velocidade Carli Filho assumiu o risco de matar. A defesa citou que o ex-deputado não observou os alertas para que não assumisse a direção no dia do acidente.

Brzezinski diz que dolo exige vontade de cometer, o que, segundo ele, não ocorreu no caso de Carli Filho. O advogado ainda disse que “para tentar manter o dolo, criou-se factóides na imprensa. Colocaram o filho do governador no meio”. A defesa pede a condenação por homicídio culposo, que tem penas de um a três anos – ao contrário do que pede a acusação, de seis a 20 anos.

Ao final da fala, a defesa indagou uma jurada: “você jurada, teria feito igual ao Leandro [testemunha que trafega na mesma rua que as vítimas] que viu o carro e parou, ou faria igual o condutor do Honda Fit [Gilmar Yared]?

Depois da retomada da réplica de acusação, o promotor se exaltou. Gritou que não é possível que uma perícia feita pela parte da defesa desminta imagens e depoimentos de pessoas que viram o ‘carro decolar’. Quando a tréplica da defesa começou, o advogado insistiu que a “colisão não é traseira, é lateral”. E faz um questionamento: “excesso de velocidade é dolo eventual? Ou comportamento imprudente?”. 

Por volta das 16h20 os jurados foram levados para a sala especial onde será feita a votação. Trinta minutos depois Carli Filho entrou abatido ao Plenário e com cara de choro.  Juiz Daniel Avelar disse que o ex-deputado foi intensamente advertido para não dirigir, e o fez falando ao celular. “Trata-se de uma pessoa esclarecida, era deputado, portando quando ele ingere a lei penal, ele fere a lei do sistema” argumentou. 

Durante sua saída do Tribunal, manifestantes chamaram o ex-deputado de assassino. Confira:

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