Caso Ana Paula: divórcio, dinheiro e guarda dos filhos podem ter motivado execução

por Daniela Borsuk
com informações do repórter Tiago Silva, da RIC Record TV
Publicado em 24 jun 2021, às 14h31. Atualizado em: 27 jun 2021 às 16h19.

Na manhã desta quinta-feira (24), após a prisão dos suspeitos de envolvimento no assassinato de Ana Paula Campestrini, de 39 anos, registrado nesta terça-feira (22), a Polícia Civil do Paraná deu mais detalhes sobre o caso. Wagner Cardeal Oganauskas, ex-marido da vítima, é suspeito de ser o mandante do crime. Marcos Antônio Ramon, é indicado pela polícia como sendo o atirador.

A Polícia Civil chegou até os homens em menos de 48 horas após o crime. Provas, imagens de câmeras de segurança e o depoimento de testemunhas auxiliaram a equipe policial a identificar os suspeitos. A atual companheira de Ana Paula, Luana Melo, foi a primeira a levantar a hipótese de que Wagner Cardeal Oganauskas teria envolvimento com o assassinato, devido às constantes brigas, inclusive na Justiça, que o ex-marido travava contra a vítima.

Conforme a delegada responsável pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pesssoa (DHPP), Camila Cecconello, Wagner e Ana Paula foram casados por 17 anos, período em que tiveram três filhas, de 9, 11 e 17 anos atualmente. Porém, há cerca de três anos, Ana Paula afirmou que era homossexual e pediu a separação.

Ana Paula e Wagner brigavam na Justiça por um patrimônio de R$ 2 milhões e pela guarda das filhas. Foram pelo menos cinco audiências para tentar chegar à um acordo e, conforme a delegada Camila, em uma das ocasiões o juiz teve que suspender o encontro pois Wagner estava muito exaltado.

“O único problema que a vítima tinha era em relação ao divórcio, que já vinha se arrastando há algum tempo. Um divórcio com esse ex-marido que foi preso hoje, porque eles tinham alguns problemas quanto à divisão de bens, guarda de filhos e problemas pessoais entre eles que vinham se arrastando desde que a vítima pediu a separação, alegando que era homossexual e que gostaria de viver com outra mulher”. 

Explicou a delegada Camila.

Ana Paula saiu de casa levando apenas suas roupas e trabalhava como diarista e como motorista de aplicativo de transporte de passageiros para se manter. Há dois anos, começou a se relacionar com a atual companheira, com quem morava no bairro Santa Cândida. A vítima foi executada no momento em que chegava em casa, enquanto esperava o portão do condomínio onde morava abrir.

O crime

A delegada Camila afirma que Ana Paula teria ido, na manhã do assassinato, fazer a carteirinha para ter acesso ao clube Sociedade Morgenau, no qual as filhas treinavam esportes. O presidente do clube, no entanto, era seu ex-marido, Wagner. A polícia afirma que o homem não deixava Ana Paula ter contato com as filhas e que ela ia até o local, onde ficava na calçada, somente para acenar, de longe, para as meninas.

A delegada responsável pelas investigações, Tathiana Guzella, contou que Ana Paula deixou o clube de carro e foi direto para casa. Testemunhas afirmaram que viram Marcos Antônio, que é diretor financeiro da Sociedade Morgenau e amigo de Wagner, subindo em uma moto sem placas, logo após a saída da vítima do clube. Outro ponto que será averiguado é que, conforme a polícia, as câmeras de segurança da Sociedade Morgenau estavam sem funcionar nos últimos dias, ferramenta que estava à disposição de Wagner, o presidente do clube.

A Polícia Civil ainda afirma que a moto estava escondida no clube há alguns dias, mas que após o crime o veículo não foi mais localizado.

“O autor dos disparos perseguiu a vítima, o veículo da vítima, quando a vítima saiu da sociedade Morguenal, que era o clube onde os três filhos da vítima frequentavam e faziam esportes. Ela teria conseguido pela manhã, na data de sua morte, a sua carteirinha de acesso ao clube”.

Contou a delegada Tathiana.

O suspeito, Marcos Antônio, teria então esperado até que a vítima chegasse no portão de casa para descarregar a arma contra o carro conduzido por Ana Paula, efetuando 14 disparos. Ela foi atingida pelos tiros, não resistiu aos ferimentos, e morreu no local.

Marcos Antônio já tinha antecedentes criminais por tráfico de drogas. A arma do crime não foi localizada até o momento.

As delegadas Camila a Thatiana, da DPHH, falaram sobre o caso. Veja o vídeo:

Operação

Os dois suspeitos foram detidos durante uma operação deflagrada pela Polícia Civil no início da manhã desta quinta-feira (24). Wagner foi preso em casa, no condomínio de luxo onde morava, e Marcos Antônio também foi encontrado em sua residência, no bairro Santa Cândida. A polícia ainda cumpriu um mandado de busca e apreensão no clube onde ambos trabalhavam, como presidente e diretor financeiro, respectivamente, e apreendeu alguns documentos.

Os mandados de prisão temporária têm validade por 30 dias e foram expedidos pela 1ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba. A polícia deve seguir com as diligências ainda na próxima semana, quando pretende concluir o inquérito policial. Wagner e Marcos Antônio poderão responder por feminicídio.

“Serão analisadas provas colhidas hoje no local onde eles foram presos, aparelhos celulares, e a gente pede, sempre pede, quanto mais provas nos tivermos, mais tempo nos conseguimos manter presos esses suspeitos, então quem tiver mais informações, qualquer denúncia que possa colaborar, a gente pede que ligue aqui, anonimamente mesmo, no nosso telefone de Disk Denúncia anônimo que é o 0800- 643-1121”. 

Pediu a delegada Camila.

Assassinato de Fábio Royer

No decorrer das investigações, foi verificado que a atual companheira de Wagner Cardeal, o ex-marido de Ana Paula, era esposa de Fábio Royer, o gerente financeiro que foi encontrado carbonizado dentro do porta-malas de um carro em 2018.

A coincidência chama a atenção, mas a Polícia Civil ainda não confirma nenhuma relação entre os dois crimes.

“A gente ficou sabendo dessa relação entre essa mulher e o mandante do crime, que teve seu ex-marido morto em 2018, mas neste momento não temos nenhuma prova técnica, nenhum elemento que possa colocar ela como culpada de algum desses fatos. Então, no momento, nós não temos nenhuma relação. Isso não quer dizer que no decorrer das investigações, novas provas vão surgindo, e isso pode alterar o rumo das investigações”.  

Detalhou a delegada Camila.

Fábio foi encontrado carbonizado no banco traseiro de seu próprio carro, no dia 18 de julho, em uma área de mata em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O gerente comercial de uma loja de móveis no bairro Batel, na capital, havia desaparecido dois dias antes, no dia 16 de junho, quando saiu de casa, no bairro Bacacheri, após dizer a esposa que iria até farmácia comprar bombinha de asma para o filho.

A morte de Fábio nunca foi solucionada. Na época, a Polícia Civil indicou que a provável causa do homicídio estava relacionada com extorsão, na qual a vítima estaria sendo chantageada. Analisando as contas bancárias de Fábio Royer, a investigação apurou que movimentações e transferências bancárias de altas quantias. A polícia, no entanto, não conseguiu descobrir quem estaria sendo beneficiado com os valores.

Atualização

A equipe da RIC Record TV Curitiba também conversou com o advogado dos suspeitos, Elias Mattar Assad, que afirmou que seus clientes não têm envolvimento com o crime e que Wagner “negou veementemente” que tenha mandado matar a ex-esposa Ana Paula.

 “Uma coisa eu posso assegurar [sobre Wagner], é negativa veemente, e nós vamos provar que essa investigação muito apressada acabou sendo concluída de forma muito açodada, e que existem coisas que nós vamos impugnar e mostrar que não é bem essa a realidade”. 

Disse o advogado.

O clube Morgenau afirmou que irá se pronunciar sobre o caso oficialmente na tarde desta quinta-feira.