Irmãos gêmeos dizem que foram agredidos em casa noturna porque um deles usava chinelo
A modelo Izabele Adão, 21 anos, e seu irmão gêmeo, o coletor de lixo Henrique Adão, sofreram o que eles descrevem como agressão e preconceito dentro de uma casa noturna de Curitiba, na madrugada de terça-feira (7). Eles dizem que Henrique sofreu preconceito só por estar usando chinelo dentro da casa. E quando sua irmã foi interceder para saber o que estava acontecendo, dizem que foram agredidos e colocados violentamente para fora do bar.
Izabele conta que já tinha ido ao mesmo estabelecimento outras três vezes, gostou do lugar e convidou o irmão para irem juntos curtir a noite de segunda-feira (06) no Deck Gastro Bar, que fica no bairro Uberaba. Quase no fim da noite, Henrique decidiu ir para a área externa do bar, o “fumódromo”. Mas quando tentou voltar para dentro do estabelecimento, na pista de dança, onde estava sua irmã, foi impedido de entrar pelo segurança.
Conforme Henrique, o segurança olhou para os pés do jovem e implicou porque ele usava chinelos. “Poxa, quando a gente entrou, nós fomos revistados, recebemos as pulseirinhas de identificação, fizemos o cadastro, etc. Nós sabemos que algumas casas noturnas proíbem o uso de chinelos. Mas se ali era proibido, porque não falaram isso logo na entrada?”, questionou Izabele.
A modelo conta que foi chamada até a porta do fumódromo e se deparou com a confusão. Quando ela perguntou o que estava acontecendo, ela diz que o bate-boca começou a “crescer”. Quando começou a ficar irritada com a falta de explicações, ameaçou chamar a polícia. “Depois que eu disse isso, num piscar de olhos eu estava rodeada de seguranças e funcionários”, disse ela.
Na versão dos irmãos gêmeos, quando ela disse que não ia sair dali sem uma explicação, seu irmão foi puxado escadaria abaixo por funcionários. “Depois de me puxarem pra escada, me deram um mata-leão. Eu rolei a escadaria me quebrando, bati o joelho, bati as costas, estou todo machucado”, afirmou o jovem. Izabele disse que quando seu irmão já estava lá embaixo da escada, ela chegou no balcão, ainda na parte de cima do estabelecimento, e ouviu uma funcionária gritar lá embaixo: “Não é pra bater no rapaz”.
Foi quando a modelo falou para a funcionária do balcão que não sairia dali enquanto não explicassem porque fizeram aquilo com seu irmão. “Aí a funcionária me disse que se eu não saísse dali, ela me tiraria puxando pelos meus cabelos“, afirmou a jovem.
No fim das contas, como já era fim de noite, o estabelecimento fechou as portas, todos os funcionários foram embora e os irmãos gêmeos ficaram 40 minutos na porta do Deck Gastro Bar, aguardando a Polícia Militar. Quando os policiais chegaram, os irmãos explicaram o ocorrido e registraram a ocorrência.
“No dia seguinte o dono do bar ainda me ligou, falando mais bobagens. Veio dizer que a esposa dele também era negra. Mas isso não tem nada a ver, porque não se tratou de um caso de racismo, foi um caso de discriminação porque meu irmão estava de chinelo, que aliás, ficou um pé perdido lá dentro do estabelecimento. O dono do bar ainda veio dizer que nós estouramos um portão e um de nós mordeu a mão de um funcionário, que levou três pontos na mão por causa disso”,
afirmou Izabele.
Henrique diz que foi bastante prejudicado com o que houve, pois trabalha na coleta de lixo e, por causa das dores no joelho e machucados nas costas, não consegue correr direito para cumprir o seu trabalho.
O que diz o Deck Gastro Bar
Thiago Buffara, proprietário do bar, disse que a história não foi bem essa. Apesar de Izabela e Henrique alegarem que foi preconceito por causa do chinelo, Thiago ouviu dos seus seguranças que a questão envolveu racismo e que foi o próprio Henrique quem levantou essa questão.
Na versão do dono do bar, por uma falha de segurança, de fato Henrique entrou de chinelos na casa, o que não é permitido aos frequentadores. E que quando ele voltava da área externa para a pista de dança, de fato o segurança não queria deixá-lo entrar porque notou o uso do calçado. Mas depois que Henrique argumentou que passou pela revista na entrada e foi autorizado a entrar assim, o segurança disse que “se alguém liberou, deixamos quieto”, autorizando o jovem a voltar à pista.
“Porém, foi o próprio Henrique quem se virou para o segurança e disse: você está sendo assim porque eu sou preto, né?“, explicou Thiago. E foi essa declaração do rapaz que iniciou toda a confusão pois, na versão do Deck Bar, Izabele já veio para cima do segurança e começou a bater boca. “Tudo aparece nas filmagens (das câmeras de segurança)”, afirma o proprietário.
Thiago ainda afirmou que, em nenhum momento, os irmãos foram agredidos por funcionários da casa. Foram colocados sim para fora, mas não agredidos. E o empresário ainda diz que houve a agressão, porém ela partiu de um cliente que tomou as dores dos funcionários e agrediu Henrique lá fora, inclusive com o mata-leão que o jovem disse que levou.
Também afirmou que Izabele sentou-se no caixa e disse que só sairia de lá quando a polícia chegasse. Por isto, uma segurança feminina puxou a jovem para fora da casa, porém sem agredir. Thiago ainda diz que Henrique mordeu o dedo de um dos seus seguranças, que precisou levar pontos na mão, e acusou os irmãos de estragarem o portão da casa noturna, por causa dos chutes que deram.
“Depois eu telefonei pra ela, expliquei que não tinha nada a ver com racismo, já que tenho funcionários negros e sou casado com uma mulher negra. Minha casa foi exposta com isso. Mas faz 30 anos que sou dono de bar e nunca tive problema algum nos meus estabelecimentos”, reforçou o empresário.