Pai de jornalista morto em suposto confronto com a PM não acredita na versão da polícia

Publicado em 13 maio 2019, às 00h00.

Benedito Francisquini, pai do jornalista morto durante um suposto confronto com a PM em Curitiba pede que o caso seja investigado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). Andrei Gustavo Orsini Francisquini, de 35 anos,  morreu na madrugada de domingo (12) na Praça da Espanha, no bairro Batel, região nobre da capital paranaense.

Declaração do pai

“Um garoto cheio de vitalidade, que nunca gostou de usar arma. Jamais, jamais, nunca ouvi falar que meu filho um dia tivesse pegado um revólver na mão. Ele não gostava, ele detestava. Ele achava absurdo pessoas terem que andar armadas. E agora vem com essa informação de que meu filho estava armado. Eu Benedito Francisquini, jornalista há mais de 35 anos, posso pedir pro Governo do Estado, para as autoridades desse estado, para o Judiciário, para o Ministério Público que investigue. Que investigue e que esse caso do Andrei não fique mais um página virada da nossa história, de pessoas que morrem em supostos confrontos com policiais e, na verdade, são assassinados”, disse em vídeo Benedito Francisquini.

Benedito Francisquini e o filho Andrei Gustavo Orsini Francisquini.

Benedito Francisquini e o filho Andrei Gustavo Orsini Francisquini. (Foto: Reprodução/RICTV)

Jornalista morto na Praça da Espanha

Andrei foi morto depois que desobedeceu uma ordem de parada da Polícia Militar na Avenida Vicente Machado. Segundo a PM, ele não parou o carro que dirigia e fugiu até a Praça da Espanha. “Na fuga o carro colidiu com um veículo Voyage e continuou fugindo. Já na rua Fernando Simas o veículo parou e a equipe tentou nova abordagem, mas ele não acatou e engatou marcha à ré e quase atropelou os policiais”, declarou a polícia.

Ainda conforme a PM, a equipe atirou no pneu do carro na tentativa de pará-lo, mas ele continuou avançando contra os policiais, que atiraram novamente. A equipe, então, se aproximou e verificou que o homem estava ferido. (Veja abaixo nota da PM)

Leia mais: ‘Reportagem que jamais pensei em publicar’, diz pai de homem morto em confronto

O Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) chegou a ser chamado para realizar o socorro, mas quando chegou no local, Andrei já estava morto. Consta no Boletim de Ocorrência, que a vítima estava com uma pistola calibre 9mm no colo.

Dezesseis tiros

De acordo com o boletim de ocorrência feito pela própria PM, no carro do jornalista foi atingido por 16 tiros efetuados por três policiais militares.

Vítima foge de outra abordagem

A PM também divulgou que, no dia 30 de março de 2019, o mesmo veículo já havia fugido de uma abordagem policial após o condutor ter sido visto efetuando disparos de arma de fogo em via pública. Além disso, em 2015, na cidade de Jacarezinho, ele teria sido autuado por conduzir veículo com CNH cassada, na ocasião, Andrei também teria fugido da polícia.

O que diz o advogado da família

De acordo com o advogado da família do jornalista assassinado, a PM demorou para realizar o boletim de ocorrência, o que não deveria ter ocorrido. “A única informação oficial que nós tivemos é que a Polícia Militar só lançou esse boletim de ocorrência por volta das 17h, onde a Polícia Civil do Paraná tomou conhecimento de toda essa situação”, disse ao programa Balanço Geral Curitiba.

Ele também ressaltou que a família não acredita que Andrei estivesse armado quando fugiu da abordagem policial. “A família não acredita nessa versão porque Andrei não gostava de arma. O pai tinha um 32 sem munição e ele chamou atenção do pai dele. Então, nós estranhamos a partir do momento que falam que ele estava com uma pistola 9 mm no colo. Então, depois de toda essa movimentação, a pistola continuaria ainda no colo dele? Ele furou alguns semáforos, teve uma freada, bateu em dois veículos e a arma continuaria no colo dele? Ele não deu um tiro e foi executado?”, declarou.

Nota da PM sobre o caso

“Conforme registro em Boletim de Ocorrência, em patrulhamento pela Avenida Vicente Machado uma equipe policial viu um homem manuseando arma de fogo dentro de um veículo corsa branco e tentou abordá-lo, mas o motorista não acatou a ordem de abordagem, e arrancou com o veículo de maneira brusca. A equipe policial iniciou, então, um acompanhamento tático. Na fuga o carro colidiu com um veículo voyage e continuou fugindo.

Já na rua Fernando Simas o veículo parou, a equipe tentou nova abordagem, mas ele não acatou e engatou marcha à ré e quase atropelou os policiais. Ele também bateu em um veículo gol que estava estacionado. A equipe policial atirou no pneu do carro na tentativa de pará-lo, mas ele continuou avançando contra os policiais, que atiraram novamente. A equipe, então, se aproximou e verificou que o homem estava ferido. O Siate foi acionado para socorrê-lo, mas quando chegou constatou o óbito.

Ainda, conforme consta em Boletim de Ocorrência o homem estava com uma pistola calibre 9mm no colo. A equipe policial acionou a perícia, que recolheu a arma. O veículo corsa foi apreendido pela equipe policial para os procedimentos.

Consultado no sistema, verificou-se que o veículo já havia fugido de uma abordagem policial em 30/03/19, após o condutor ter sido visto efetuando disparos de arma de fogo em via pública. Também consta no sistema um encaminhamento deste mesmo homem, em 2015, na cidade de Jacarezinho (PR) por conduzir veículo com CNH cassada, quando tambem fugiu da polícia.

Para toda ocorrência deste tipo, envolvendo policial militar e equipamentos da corporação, é aberto um procedimento para apurar as circunstâncias.”

Siga o RIC Mais no Instagram e fique por dentro de todas as novidades!