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por Gislene Bastos

Buscar novos olhares para ampliar nossas perspectivas de visão é um conceito que tento manter sempre. A aprendizagem constante é o único caminho para nos manter vivos. Talvez seja mesmo a fórmula da juventude. A chance de não envelhecer diante de novos conceitos e ideias.

Neste momento da humanidade, a pergunta central é “que tipo de humanos queremos nos tornar?” E há caminhos sendo compartilhados. Isso é tão importante quanto só buscarmos as respostas em nossa vivência. A mistura de visões se torna o segredo para extrair aqui e ali algo de realmente novo, ou pelo menos significativo, para o momento de vida de cada um.

Recentemente pude acompanhar uma palestra do futurista australiano Brett King, em que ele pontuou: prever o futuro é a arte de não errar hoje. Autor best-seller e um dos fundadores da Moven, startup com sede em Nova York que oferece soluções de inteligência financeira digital para bancos, cooperativas de crédito e fintechs, King tem se esforçado em difundir o conceito do “tecnosocialismo”. O tema do último livro dele aborda como desigualdade, inteligência artificial (IA) e clima vão moldar um novo mundo. E se você já está ansioso com o que anda lendo a respeito desses assuntos, as previsões do australiano colocam ainda mais cortisol para circular.

É fato que no futuro vamos conviver cada vez mais com as máquinas. E ninguém precisa ouvir um investidor do mercado financeiro para saber disso. Os robôs vão dirigir, nos entregar encomendas, conversar conosco (como já ocorre hoje com a Alexa e Siri, as precursoras). Já é normal. Mas, tais inteligências terão ainda mais capacidade de aprendizado e vão continuar aprendendo continuamente. No longo prazo os humanos verão quais dados estão sendo processados, enxergará os resultados, mas não entenderemos o funcionamento interno da IA, que se auto desenvolve a partir de com o quê a alimentamos. Se na Idade Média a Revolução Industrial representou o acesso de uma parcela da população ao mercado de trabalho, e a consequente evolução de renda, agora o caminho é outro.

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O crescimento das corporações passará a exigir mais tempo gasto em processamento de dados, mais dados e mais energia disponível. Segundo Brett King, não precisará de mais capital humano, como ocorreu no passado. A expansão da IA coloca em evidência a necessidade de profissionais altíssimamente qualificados (poucos) e o consequente crescimento da desigualdade de renda. Teremos protestos contra a IA? Talvez. Combinando com a crise climática, já em curso, a primeira leitura nos mostra um cenário de catástrofe mundial. Empobrecimento, escassez de alimentos, desaparecimento de cidades (e países) ocupados pelo aumento do nível do mar, escassez de alimentos e deslocamentos forçados.

Algumas economias já falam numa renda mínima universal para os desempregados e refugiados climáticos. E se isso pode gerar uma espécie de alívio momentâneo, no longo prazo significa o fim da possibilidade de ascensão social, num contexto em que a distância entre pobres e ricos só aumenta. A IA vai gerar mais tempo livre para todos e mais riqueza para poucos.

Mesmo quando a visão é positiva, como ganhos na saúde a partir de diagnósticos mais rápidos e precisos, ou com a multiplicação das fazendas verticais para obtenção de alimentos, ou no desenvolvimento de modernas tecnologias de construção civil com paredes e fundações mais resistentes aos alagamentos e às ondas gigantes, esbarramos numa questão. Quem terá acesso aos produtos e serviços com as melhores soluções? Naturalmente, as possibilidades não serão as mesmas para diferentes parcelas da população. E é nesse ponto que retomo a visão de Brett King ao falar do “tecnosocialismo”, em que os cidadãos exigem a priorização da economia para todos em vez de apenas para as corporações. Uma premissa para garantir que a pesquisa científica gere melhor qualidade de vida para mais gente. O que ele está nos dizendo é que sociedades mais automatizadas poderão avançar em políticas públicas sem aumentar o custo dos serviços e do Estado, principal crítica do capitalismo ao socialismo.

Numa conclusão “bem livre”, King nos apresenta prognósticos que nos levam à urgente necessidade de reformar nossa relação com o capital e com os dados que disponibilizamos ou vendemos na rede (uma empresa de plano de saúde poderá cobrar valores diferentes a partir da informação do DNA do cliente). Também é prioridade rever o nosso próprio entendimento de humanidade e visão de mundo. “Proteger os humanos da inteligência artificial desonesta com base em limites éticos nos apresenta o desafio de primeiro fazer com que os humanos concordem com um padrão de ética.” Não podemos exigir que máquinas criadas e alimentadas por humanos tenham conceitos mais nobres e humanos que a próprio homem.

4 mar 2024, às 18h52. Atualizado em: 5 mar 2024 às 13h29.
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