Ao contrário do que poderia se supor, que ter apoiado um candidato que não saiu vencedor no pleito poderia representar uma derrota política do governador, os dados que apresentamos explicitam justamente o oposto: Ratinho Junior tem um potencial de transferência de votos impressionante (fato novamente verificado no segundo turno da eleição presidencial, quando conseguiu auxiliar na ampliação da margem pró-Bolsonaro no Paraná). Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que apesar do resultado de Paulo Martins, Ratinho Junior saiu vencedor deste pleito e se consolida como um cabo eleitoral prioritário para as eleições de 2024 e de 2026.
Leia mais de Jeulliano Pedroso:
Como nos mostram os dados, Paulo Martins teve um crescimento proporcional muito maior nos menores municípios (Tabela 1), onde sabidamente a força do governador e dos prefeitos mobilizados por ele tem um peso relativo enorme. A relevância do apoio do governador fica mais evidente quando olhamos a média de crescimento conforme o desempenho do governador, neste caso Paulo Martins teve um crescimento muito superior nos municípios em que Ratinho teve percentuais acima dos 52,2%.
É possível perguntar se a transferência de votos não poderia ter sido maior, afinal o governador alcançou quase 70% dos votos do eleitorado paranaense. É preciso entender um pouco das duas candidaturas e destes dois políticos. Mesmo tendo uma amizade com o governador, Paulo Martins possui pouca identificação com o governo, esteve junto no palanque ou em visitas somente nos momentos da eleição e não possui uma base eleitoral nos municípios em que Ratinho atuou enquanto parlamentar.
Inclusive, nas redes sociais onde tem uma atuação bastante acentuada, foi possível observar apenas 5 tweets citando Ratinho no período de 1 de janeiro de 2019 até 31 de dezembro de 2021, podemos chegar a um total de 12 interações com referência ao governador se incluirmos comentários a outras postagens ou respostas a questionamentos de outros usuários, sendo um deles em tom crítico quanto às medidas adotadas no enfrentamento à pandemia. Isso num universo que passa dos milhares de tweets.
Em 2018, quando foi candidato a deputado federal, Paulo Martins obteve 118.754 votos. Já neste pleito, para o Senado (eleição de caráter majoritário), era esperado que ele obtivesse uma votação maior, o que de fato aconteceu com 1.697.962 votos. Porém, esse crescimento não foi uniforme, permitindo observar de forma mais precisa qual foi o peso de Ratinho nesse desempenho. Veja as tabelas a seguir:
Tabela 1: Média de crescimento da votação do Paulo Martins entre os anos de 2018 e 2022 por tamanho do eleitorado dos municípios
| Tamanho do eleitorado no município | Média de crescimento da votação entre os anos de 2018 e 2022 | Quantidade de municípios |
| de 1 até 4.3 mil eleitores | 152 vezes | 100 |
| de 4.3 até 7.4 mil eleitores | 84 vezes | 104 |
| de 7.4 até 14 mil eleitores | 69 vezes | 95 |
| de 14 até 43 mil eleitores | 33 vezes | 69 |
| mais de 45 mil eleitores | 20 vezes | 31 |
Tabela 2: Média de crescimento da votação do Paulo Martins entre os anos de 2018 e 2022 por percentual de votos no Ratinho Júnior em 2022 por município
| Percentual de votos recebidos | Média de crescimento da votação entre os anos de 2018 e 2022 | Número de municípios |
| de 26,7% até 42,4% de votos | 78 vezes | 101 |
| de 42,4% até 48,1% de votos | 78 vezes | 99 |
| de 48,1% até 52,2% de votos | 78 vezes | 155 |
| de 52,2% até 69,8% de votos | 131 vezes | 44 |
No início do mês de agosto fiz uma análise sobre o impacto do apoio do governador para as eleições ao Senado com um olhar retrospectivo, ou seja, olhando para as eleições passadas. Agora, com o pleito finalizado, é possível olhar de forma mais assertiva para o que aconteceu nesta eleição de 2022. E o que ficou evidente é o fato de o governador ter conseguido transferir de forma bastante eficiente seu capital político para seu candidato ao Senado.
Sobre o colunista
Jeulliano Pedroso é sociólogo, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e mestrando em Antropologia Social também pela UFPR. Atualmente é Analista-chefe na Brasil Sul Inteligência.