Nesta segunda-feira (25) o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em uma coletiva de impressa que seria uma “insanidade” que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva peça a presença do povo em manifestações na rua e sugeriu que o pedido por “um AI-5” é uma consequência do discurso do petista.
“Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo pra quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5”, afirmou o ministro, em visita a Washington (EUA).
Anos de chumbo: o que é o AI-5
O Ato Institucional nº 5 foi a mais dura medida instituída pela ditadura militar, em 1968, ao revogar direitos fundamentais e delegar ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares, intervir nos municípios e Estados, esvaziar garantias constitucionais como o direito a habeas corpus e suspensão de direitos civis.
Há pouco menos de um mês, o deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, defendeu medidas como “um novo AI-5” para conter manifestações de rua caso “a esquerda radicalizasse”. A fala de Eduardo Bolsonaro foi repreendida nacionalmente por lideranças como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Guedes afirmou que “assim que ele (Lula) chamou para a confusão, veio logo o outro lado e disse ‘é, saia para a rua, vamos botar um excludente de ilicitude, vamos botar o AI-5, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo. Que coisa boa, né? Que clima bom”, criticou o ministro.
Afinal, Guedes apoia ou não o Ato Constitucional nº 5
Guedes afirmava a todo momento que fazia as declarações como “pessoa física” e não como ministro da Economia. Segundo ele, não caberia ao ministro da economia discutir com Lula.
O ministro foi questionado por uma repórter se acredita ser concebível, em qualquer circunstância, ter a adoção de uma medida como o AI-5. Guedes simulou uma voz empostada e falou: “É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso. Está satisfeita?”.
Ele foi questionado, então, se usava de ironia na sua resposta. Com a simulação da mesma voz, ele afirmou: “Isso é uma ironia, ministro? O senhor está nos ironizando? De forma alguma.”
Posicionamento do presidente Bolsonaro sobre o assunto
O presidente Jair Bolsonaro se esquivou de comentar nesta terça-feira (26) a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o AI-5.
“Eu falo de AI-38, quer falar do AI-38, eu falo agora contigo aqui. Quer o AI-38, eu falo agora. 38 é meu número. Outra pergunta aí”, respondeu o presidente ao ser questionado pela imprensa sobre o assunto.
Referiu-se ao número escolhido para o partido idealizado por ele, o Aliança pelo Brasil, sob o número 38 – o mesmo que determina o calibre de armas.
Repercussão no Twitter sobre as menções ao AI-5
A repercussão colocou a expressão “AI-5” no topo do ranking dos assuntos mais comentados do Twitter. Na sequência, às 10h, aparecia “Paulo Guedes. A fala do ministro também impulsionou a campanha #ForaBolsonaro (quarto lugar na lista) e publicações irônicas sobre a alta na cotação do dólar, em parte uma reação a Guedes: a expressão “R$ 4,25” era o sexto assunto mais comentado da rede social.
Usuários do Twitter também ironizam a alta no dólar relembrando análises de defensores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff que diziam que o afastamento da petista faria com que o real se valorizasse ante a moeda americana. A expressão “Fora Dilma” também aparece nos trending topics brasileiros.