As pesquisas eleitorais erram? O que podemos fazer para melhorar?

Explica Aí!

por Jeulliano Pedroso
Publicado em 14 out 2022, às 18h08. Atualizado às 18h18.

As pesquisas eleitorais apresentadas no primeiro turno das eleições 2022 tiveram resultados bastante diferentes do que foi observado nas urnas, o que colocou ainda mais lenha na fogueira das críticas recebidas desde as eleições de 2018, quando os institutos de pesquisa também não conseguiram captar os votos para candidatos com alinhamento mais à direita, fenômeno que se intensificou neste pleito.

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Antes de avançar, gostaria de fazer algumas ressalvas importantes:

1- Acredito que alguns institutos tem boa fé e procuram verdadeiramente captar a vontade da população por meio de suas pesquisas e análises. Outros, entretanto, parecem claramente privilegiar determinado lado por interesse econômico ou ideológico (tanto de esquerda quanto de direita);

2- Pesquisas pré-eleitorais sempre serão imperfeitas e não devem ser lidas como um instrumento de futurologia, fato que muitos analistas esquecem, e principalmente muitos donos ou dirigentes de instituto de pesquisa omitem ao vender seus serviços. Mas nem por isso devemos deixar de cobrar que elas mostrem dados mais alinhados com a realidade ou no mínimo que as tendências se apresentem perceptíveis. 

Como possíveis formas de melhorar a credibilidade tanto das pesquisas quanto dos institutos responsáveis por elas, penso que os seguintes pontos poderiam ajudar:

Humildade

O primeiro passo para qualquer aperfeiçoamento é admitir que falhas existem e que há a possibilidade de melhorar. Pesquisas eleitorais são baseadas em métodos científicos e, assim sendo, é esperado que sempre estejam abertas ao aperfeiçoamento.

Financiamento

É necessária uma maior fiscalização sobre as fontes de recurso que financiam as pesquisas, com o objetivo de entender os interesses desses financiadores. É preciso, ainda, restringir pesquisas financiadas por partidos políticos (pelo interesse direto sobre o pleito) e por instituições financeiras (pelo benefício com a oscilação do mercado de ações e moedas). Além disso, é importante intensificar a fiscalização sobre os institutos que se auto financiam, pois esse instrumento pode eventualmente ser utilizado para esconder os reais financiadores. Em todos esses casos, sendo verificadas irregularidades, os responsáveis devem ser punidos severamente.

Metodologia:

  • Likely Voter: em países onde o voto não é obrigatório, é comum que os institutos incluam questões de controle ou estabeleçam por modelo matemático uma forma de compreender o impacto eleitoral daqueles que não irão comparecer para votar. No caso do Brasil, mesmo que nosso voto seja obrigatório, o custo para não votar é baixo (R$ 3,51) e a facilidade em justificar a ausência é grande (pode ser feita diretamente pelo aplicativo do TSE). O número de abstenções chegou a mais de 31 milhões, o que representa 20% do eleitorado, maior percentual desde 1998. Um número como esse não pode ser ignorado pelos institutos, principalmente porque a distribuição das abstenções não é uniforme Brasil afora, algumas regiões apresentam números maiores que outras.
  • Composição de renda: Com a defasagem de informação por conta de não termos um censo atualizado, os institutos precisam utilizar medidas paliativas para conseguir superar esse obstáculo. Alguns têm sugerido a possibilidade de usar a PNAD, a amostragem aleatória simples (o que desconsidera renda da análise) ou ainda a divisão entre população economicamente ativa ou não. Independente do caminho escolhido, não é possível seguir utilizando dados que sabidamente estão desatualizados e não representam a composição da população brasileira;
  • Híbrido: Alguns especialistas têm sugerido a construção de modelos híbridos de coleta de dados, somando pesquisas telefônicas, presenciais e talvez internet. O objetivo seria reduzir o viés de coleta, onde supostamente você teria mais respondentes de classe alta em consultas telefônicas (algumas ocupações são mais flexíveis em permitir que se atenda chamadas durante o expediente) e mais respondentes de classe baixa nas presenciais (existe uma dificuldade de acessar pessoas com renda maior, pois elas habitualmente circulam pela cidade de carro e o acesso à residência perpassa os porteiros). Ao conjugar os métodos essa discrepância seria diluída;
  • Modernidade: O lugar de convivência das pessoas mudou e amplamente o locus de sociabilidade migrou para espaços virtuais. Os institutos precisam identificar metodologias que alcancem estes indivíduos.
  • Credibilidade: Donos, diretores e responsáveis pelos institutos precisam se afastar do campo de embate político e ideológico para recuperar a credibilidade e conseguir que uma parcela da sociedade não deixe de responder aos questionários simplesmente por identificar que tal empresa está alinhada com esse ou aquele grupo político.

Educação democrática

Votar é algo recente (recuperamos esse direito de forma plena apenas em 1989) e nossa consciência, aos poucos, está aprendendo sobre as sutilezas das informações que utilizamos para optar entre esse e aquele candidato.  Um resultado colateral de todo esse questionamento sobre as pesquisas é o amadurecimento do eleitor quanto ao papel delas e principalmente sobre sua falibilidade.

Transparência

“A luz do sol é o melhor desinfetante”. A frase atribuída ao Juiz da Suprema Corte Americana Louis Brandeis (1856/1941) constitui uma solução para muitos dos males que afetam a atividade pública, entre elas as pesquisas. É urgente que os institutos divulguem com mais transparência os microdados de suas pesquisas (como constituem as amostras, quais as origens do banco de dados com números telefônicos, se fazem algum tipo de correção matemática para aperfeiçoar os dados colhidos -ponderação – e outros). Essa maior transparência permitirá que outros analistas, estatísticos e especialistas compreendam e fiscalizem com mais facilidade os resultados. Pois além dos grandes números de quem está na frente ou atrás, será possível compreender como se chegou lá. É um pressuposto básico do método científico a possibilidade da checagem por pares, é isso que a transparência permitirá!

Sobre o colunista

Jeulliano Pedroso é sociólogo, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e mestrando em Antropologia Social também pela UFPR. Atualmente é Analista-chefe na Brasil Sul Inteligência.