
O MPF estima que centenas de pessoas morreram nas estradas paranaenses por causa de desvios; outras 32 pessoas também foram denunciadas
Nesta segunda-feira (28), o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) e outras 32 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça por corrupção nos contratos de pedágios do Paraná. Entre eles, está Pepe Richa, irmão de Beto, e seis ex-presidentes de empresas concessionárias. As investigações fazem parte da 58ª fase da Operação Lava Jato.
Richa é acusado de corrupção passiva e de fazer parte de uma organização criminosa em um esquema de propina em contratos de concessão de pedágios.
Mortes
Os procuradores estimam que centenas de pessoas morreram nas estradas paranaenses por causa dos desvio. Os encarregados pela investigação ainda cruzaram os dados com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e chegaram a conclusão de que pelo menos 360 vidas poderiam ter sido poupadas se as duplicações previstas em contratos tivessem sido efetuadas. Segundo a denúncia, dos quase dois mil quilômetros que as concessionárias deveriam duplicar pedágio, menos de um terço saiu do papel, apenas 27% foi feito.
“A corrupção nos pedágios deixou um rastro de sangue e de morte nas rodovias do Paraná. A partir de um trabalho feito pela Polícia Rodoviária Federal, nós identificamos que o número de mortes quando as rodovias são duplicadas cai drasticamente. E nós estamos tratando de 722 Km de rodovias que deveriam ter sido duplicadas e não foram duplicadas. Nos últimos cinco anos, segundo dados da PRF, foram 403 mortes em colisões frontais, apenas em trechos rodoviários federais no estado do Paraná que estão em pista simples. E a grande maioria dessas mortes poderiam ter sido evitadas”, disse Deltan Dallagnol, procurador-chefe da Lava Jato.
R$ 8,4 bilhões desviados
De acordo com os procuradores, as concessionárias compravam aditivos para não fazer as obras previstas no contrato inicial. O esquema funciona há 20 anos e pagou R$ 35 milhões em propinas. E, para pagar essas propinas, as concessionárias aumentaram a tarifa de pedágios do Anel de Integração. No total, R$ 8,4 bilhões teriam sido desviados. Três ex-governadores são citados: Jaime Lerner, Roberto Requião e Beto Richa, no entanto, devido a prescrição, apenas Richa ainda pode responder pelos crimes.
Richa está preso desde o dia 25 de janeiro em uma unidade da Polícia Militar (PM) de Curitiba. Conforme o MPF, ele teria tentado coagir testemunhas, o que justifica a prisão preventiva.
Posição da defesa de Beto e Pepe Richa
A defesa dos irmãos Richa informou, por meio de nota, que os advogados ainda não tiveram acesso à denúncia. Leia na íntegra:
“A Justiça ainda não deu à defesa acesso à denúncia. E reafirma que seu cliente não cometeu nenhuma irregularidade, e que sempre esteve à disposição para prestar esclarecimentos”
Posição da defesa de Lerner
Em nota, advogados de Jaime Lerner informaram que o ex-governador não tem nada a declarar sobre os pedágios no Paraná. Leia na íntegra:
“O ex governador Jaime Lerner não tem mais nada a declarar sobre a concessão das estradas federais que trouxe enormes progressos para o Paraná. Além disso, ele deixou o governo do estado em 31/12/2002, portanto, há 16 anos, nesse período a justiça não declarou definitivamente que ele tenha cometido ilícito penal ou ato de improbidade administrativa no que diz respeito à licitação das mencionadas concessões”.
Posição de Roberto Requião
Requião, também por meio de nota, alegou que lutou por anos contra a situação dos pedágios no Paraná e que considera a “insinuação” de seu nome vazia. Leia na íntegra:
“De fato, há 20 anos denuncio a corrupção do pedágio. Entrei com mais de 50 ações contra os pedágios na Justiça Federal e nunca obtive o apoio do Ministério Público e muito menos da Justiça Federal. Nunca aceitei um aumento ou qualquer proposta de ajuste de contratos com esses ladrões. Espero que todos corruptos sejam presos e agradeço que finalmente o Ministério Público tomou providências. Mas não admito que insinuações vazias, 20 anos depois, venham manchar minha luta, conhecida de todos, contra os pedágios. Cadeia neles e punição aos irresponsáveis por insinuações vazias.”
Duas denúncias
O Ministério Público Federal dividiu as denúncias em duas. Em uma delas, são denunciados Beto e Pepe Richa, além de outras oito pessoas. Já a segunda denúncia é relativa aos empresários envolvidos no esquema, onde seis ex-presidentes são acusados por corrupção ativa, pertencimento a organização criminosa e lavagem de dinheiro.