Uma operação do Ministério Público do Paraná (MPPR) realizada, nesta quinta-feira (9), levou à prisão de cinco suspeitos. Durante a ação, os agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) apreenderam mais de R$ 200 mil em espécie. O prefeito de Fazenda Rio Grande, Marcos Marcondes (PSD), está entre os detidos, no entanto, o GAECO não encontrou nenhum valor na casa dele.

A investigação começou há seis meses e apura suspeita de desvio de recursos públicos em contratos da área da saúde em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.
Foram presos o prefeito Marco Antonio Marcondes Silva, o secretário municipal da Fazenda Francisco Roberto Barbosa, os sócio da empresa investigada Samuel Antonio da Silva Nunes e Abrilino Fernandes Gomes, e o auditor do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) Alberto Martins de Faria.
As equipes realizaram buscas nas residências dos investigados em Fazenda Rio Grande, na sede da empresa e no gabinete do prefeito. Durante a ação, foram apreendidos mais de R$ 200 mil em dinheiro, além de documentos, celulares e computadores. O valor foi localizado nas casas de Francisco Roberto Barbosa, Abrilino Fernandes Gomes e Alberto Martins de Faria.
Auditor é apontado como líder do esquema; veja o suposto papel de cada um
De acordo com apuração da Ric RECORD, Alberto Martins de Faria, auditor de controle externo do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, é considerado o cabeça intelectual do esquema criminoso. Ele atuava na Escola de Gestão Pública e é proprietário de três empresas no Paraná, utilizadas, segundo as investigações, para movimentação e lavagem de recursos.

Alberto solicitou afastamento do cargo no fim de janeiro, sem remuneração. O último salário pago a ele pelo Tribunal de Contas teria sido de R$ 29.179,08. As apurações indicam que o esquema teve origem em Santa Catarina e foi transferido para o Paraná, começando na prefeitura de Contenda, também na Região Metropolitana de Curitiba, onde Abrilino Fernandes Gomes era chefe de gabinete. Depois, o grupo teria expandido as atividades para outros municípios, entre eles Fazenda Rio Grande. Confira o susposto papel de cada um abaixo:
- Marco Antonio Marcondes Silva (prefeito) e Francisco Roberto Barbosa (secretário): suspeitos de autorizarem o processo de dispensa de licitação que beneficiou a empresa.
- Abrilino Fernandes Gomes: suspeito de atuar como intermediário entre prefeituras e a empresa.
- Samuel Antonio da Silva Nunes: era o proprietário formal da empresa, usada como laranja para ocultar os verdadeiros responsáveis.
- Alberto Martins de Faria: auditor do Tribunal de Contas, apontado como o chefe e autor intelectual do esquema.
Três contratos com a empresa investigada
O Portal da Transparência de Fazenda Rio Grande registra três contratos firmados com a empresa investigada, dois em 2024 e um em 2025, todos por dispensa de licitação. Os contratos têm o mesmo objetivo: contratação de empresa especializada para testagem domiciliar de doenças pré-existentes com levantamento e análise estatística, mediante testes sanguíneos, de urina e físicos, para atender os programas de saúde preventiva da Secretaria Municipal de Saúde.
Os valores somam R$ 1.144.875,00 em um contrato e R$ 4.579.500,00 em dois outros. O Ministério Público estima que o desvio chegue a R$ 10 milhões em Fazenda Rio Grande, podendo ultrapassar R$ 30 milhões em razão da suspeita de contratos semelhantes firmados em outros sete municípios.
Valor cobrado
Segundo a investigação, a empresa investigada seria de fachada e teria sido contratada sem licitação para executar serviços de coleta de exames laboratoriais em domicílio. O valor cobrado seria superior ao de mercado e sem a exigência de pedido médico, o que fere as regras do Sistema Único de Saúde (SUS).
As coletas eram realizadas em locais públicos, como ruas e pontos de ônibus, sem controle técnico. Parte dos exames era feita na hora, como o de glicemia, e não havia registro adequado dos procedimentos.
A investigação aponta que os pagamentos feitos pela prefeitura à empresa investigada eram transferidos a empresas controladas por Alberto Martins de Faria. O dinheiro seria lavado por meio da compra de veículos de luxo e de criptomoedas.
O Ministério Público também obteve imagens de reuniões realizadas em uma residência, nas quais os investigados trocavam pacotes, supostamente de dinheiro. A quebra de sigilo bancário revelou depósitos fracionados feitos logo após esses encontros, com o suposto objetivo de evitar alertas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
Investigados do caso em Fazenda Rio Grande passarão por audiência
Os cinco presos foram levados para a Cadeia Pública de Curitiba e passarão por audiência de custódia nesta sexta-feira (10). A fase de depoimentos deve começar nos próximos dias.
O Ministério Público pretende apresentar denúncia ainda neste mês de outubro e também ações civis por improbidade administrativa.
As prisões preventivas não têm prazo determinado. As ordens foram expedidas pelo desembargador Kennedy Josue Greca de Mattos, da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR). O processo tramita no TJPR em razão da prerrogativa de foro do prefeito Marco Marcondes.
Operação Fake Care
A operação deflagrada na manhã desta quinta-feira visa desarticular uma organização criminosa voltada à prática de crimes contra a administração pública na área da Saúde de Fazenda Rio Grande. Entre as investigações estão a suspeita de corrupção ativa e passiva, contratação direta ilegal, peculato e lavagem de dinheiro, por servidores públicos e particulares.
Nota da Prefeitura de Fazenda Rio Grande
Em nota, a Prefeitura de Fazenda Rio Grande afirmou que “está acompanhando o andamento do procedimento na manhã de hoje envolvendo a empresa contratada. Todas as informações e documentos solicitados pelas autoridades competentes foram prontamente fornecidos”.
“A administração municipal permanece colaborando integralmente com as investigações e reforça seu compromisso com a transparência e o respeito à legalidade, como sempre pautou suas ações. As atividades da Prefeitura seguem normalmente, garantindo a continuidade dos serviços públicos essenciais à população”.

PSD se manifesta sobre investigados em Fazenda Rio Grande
O partido de Marco Marcondes, o PSD, informou em nota que vai esperar ter mais informações para se manifestar.
“O PSD vai esperar informações sobre a prisão para se manifestar a partir de dados concretos. A operação está em sigilo judicial. O partido acompanhará o caso e analisará as medidas estatutárias cabíveis, respeitando a presunção de inocência e o devido processo legal”.
TCE-PR confirma que investigado é servidor
Já o Tribunal de Contas do Estado do Paraná confirmou que um dos alvos da operação é servidor do órgão, mas que estava afastado das funções desde o início deste ano, em licença não remunerada.
“O TCE-PR vai colaborar plenamente com as ações do Ministério Público para que o episódio seja totalmente esclarecido; concluída a investigação, o caso será remetido à Corregedoria-Geral do TCE-PR, para que sejam tomadas todas as providências legais que o caso requeira”, informou o TCE-PR em nota.
Defesa de Fernando Gomes ressalta presunção de inocência
A defesa do comentarista esportivo ressaltou em nota, que Fernando Gomes é um “profissional amplamente reconhecido por sua trajetória no jornalismo e na crônica esportiva” e que ele “sempre pautou sua vida pela ética, pelo respeito e pela dedicação à comunicação. Sua história é marcada por décadas de trabalho sério, pela contribuição ao debate esportivo nacional e pelo carinho que conquistou de colegas, leitores e ouvintes em todo o país”.
“Diante dos recentes acontecimentos, reiteramos que Fernando Gomes goza da presunção de inocência, princípio fundamental consagrado na Constituição Federal, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A defesa acompanha atentamente o caso e confia que todos os fatos serão devidamente esclarecidos dentro da legalidade e do mais absoluto respeito à Justiça“, diz a nota assinada pelo advogado Rafael Guedes de Castro, que faz a defesa do comentarista.
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