Brasil - Após uma série de denúncias sobre deduções irregulares nos benefícios de aposentados e pensionistas do INSS, Carlos Lupi pediu demissão nesta sexta-feira (2) do comando do Ministério da Previdência Social. A decisão foi comunicada após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Embora seu nome não tenha sido implicado diretamente nas investigações, Lupi anunciou sua saída pelas redes sociais.
“Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso”, escreveu o agora ex-ministro.
Com a vacância no cargo, Lula escolheu Wolney Queiroz, atual secretário-executivo da pasta e também integrante do PDT, para assumir o ministério. A exoneração de Lupi e a nomeação de seu substituto serão oficializadas ainda hoje no Diário Oficial da União.
A pressão pela saída cresceu mesmo após a demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que não foi suficiente para conter a crise política. A escolha do procurador Gilberto Waller para o comando do instituto também incomodou Lupi e o PDT, já que teria ocorrido sem consulta ao ministério.
Lupi pediu demissão; Operação Sem Desconto instaurou crise no INSS
O escândalo ganhou força com a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União em abril. A investigação revelou um esquema que, por meio de convênios entre o INSS e entidades sindicais e associativas, permitia o desconto mensal de valores sem o consentimento dos beneficiários.
Segundo a PF, as cobranças indevidas somam R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Se considerados os casos desde 2016, o valor chega a quase R$ 8 bilhões. Embora o esquema seja anterior ao atual governo, os investigadores apontam um crescimento expressivo nos descontos a partir de 2023.
A apuração não atribui participação direta de Lupi nas irregularidades. No entanto, o ex-ministro passou a ser criticado por não ter agido diante de alertas emitidos por órgãos como o TCU, CGU, auditores do próprio INSS e o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS). O inquérito teve início após reportagens do portal Metrópoles.
Lupi nega omissão
Lupi, por sua vez, nega qualquer omissão e sustenta que determinou auditorias internas assim que surgiram as denúncias.
“Eu pedi, à época, que o INSS, que é a instituição responsável pela ação dessa política pública, começasse a apurar as denúncias apresentadas. Levou-se tempo demais”, afirmou durante uma reunião do CNPS nesta semana.
Ainda em 2023, uma conselheira do CNPS já havia mencionado os indícios de irregularidades, mas, segundo o ex-ministro, as informações foram apresentadas “sem nenhum documento como prova para discutir os abusos que poderiam estar sendo executados”.
Como resposta à crise, o governo suspendeu os acordos com todas as entidades envolvidas e prometeu ressarcir os aposentados pelos valores descontados de forma indevida.
A saída de Lupi marca a terceira substituição ministerial no governo Lula relacionada a escândalos. Antes dele, deixaram o cargo o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, acusado de assédio sexual, e Juscelino Filho, ex-titular das Comunicações, denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República.
No Congresso, a oposição já se mobiliza. Um pedido de CPI sobre o caso foi protocolado na Câmara e aguarda decisão do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Além disso, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) articula uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, com participação de deputados e senadores.
Com informações do Estadão Conteúdo
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