‘Qualquer coisa é melhor do que aquilo que ela vive’, afirma especialista (Foto: Reprodução R7/Edgard Garrido/Reuters22.10.2018)

“A esperança é que esses registros, mostrando multidões, exerçam uma pressão sobre o governo Trump e sua política migratória”, afirma especialista

Neste final de semana, o mundo se chocou com as imagens de imigrantes – a maioria hondurenhos – ‘marchando’ rumo ao México com a intenção de chegar aos Estados Unidos. “A esperança é que esses registros, mostrando multidões, exerçam uma pressão sobre o governo Trump e sua política migratória”, pondera José Maria de Souza, doutor em Ciência Política e especialista em América Latina das Faculdades Integradas Rio Branco. 

Apelo humanitário

Além da caminhada sofrida, houve registro de tumulto na fronteira mexicana com a Guatemala, quando parte da multidão foi barrada na ponte que liga os dois países. Souza lembra que, embora o acirramento de um conflito tenha sido observado no domingo (21), o movimento em massa não é de hoje. “É uma situação típica das populações de países em desenvolvimento”, justifica o especialista.

Em entrevista ao R7, o doutor ainda revelou que “existe, neste caso, um apelo humanitário, um apelo da expressão deles diante dessas medidas que dificultam a vida dos imigrantes”. 

Políticas de tolerância zero 

As políticas imigratórias de tolerância zero do Governo Trump já foram alvo de críticas anteriormente, quando filhos de imigrantes ilegais foram separados de seus pais ao tentar atravessar a fronteira americana. Recentemente, o presidente ameaçou cortar a ajuda financeira para países como Honduras e Guatemala caso eles permitissem que a população pobre avançasse para o México e, consequentemente, chegassem aos EUA: “Na expectativa de que a travessia fique mais difícil, muitos optaram por migrar agora, enquanto ainda é possível”, diz Souza

O professor da Rio Branco acrescenta, por outro lado, que qualquer medida restritiva por parte dos governos não significa necessariamente que o movimento migratório será contido: “Não depende deles. Trata-se de um movimento organizado, independentemente de qualquer Estado, de qualquer governo. Por isso as pressões do Trump em relação a esses países vão ter um alcance limitado. Ele pode tentar controlar com sanções, mas a único recurso de fato é a força”.

Melhores condições de vida

Além de buscarem por melhores condições de vida, muitos dos imigrantes de países como Honduras e Guatemala se dirigem aos Estados Unidos por uma questão de acessibilidade. “A diferença da América Central para os outros lugares e o que incentiva as pessoas a tentarem uma nova vida em território americano é a proximidade física, por não ser longe de seus países”, afirma o professor.

Mesmo com todos os riscos que a travessia ilegal costuma trazer, esta é a única maneira que muitos dos imigrantes enxergam para realizar o “sonho americano”: “Quem sofre com pobreza, falta de emprego, moradia… tenta juntar o pouquinho que tem e fazer esse processo da maneira ilegal, que é mais perigosa, mais arriscada, só que é quando a pessoa julga que não tem nada a perder. Qualquer coisa é melhor do que aquilo que ela vive”, finaliza Souza.