Moro vê uma avenida para 3ª via crescer e defende aglutinação rápida
Por Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello e Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) -O ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência da República, defendeu uma rápida aglutinação da terceira via em torno de uma única candidatura ao Palácio do Planalto para enfrentar o que considera “extremos” nas eleições de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista exclusiva à Reuters, Moro disse que a aglutinação tem de se dar em torno de projetos e sugeriu que o critério deve ser quem está mais na frente nas pesquisas –na maioria das sondagens de opinião ele aparece neste momento numericamente em terceiro lugar.
“O que a gente tem conversado com as pessoas em geral é uma insatisfação em ter que escolher outras propostas que já fracassaram. Então tem uma larga avenida para qualquer outro projeto. Eu tenho conversado com outros candidatos, potenciais candidatos que também estão se apresentando, e há uma possibilidade mais à frente ou em qualquer momento de uma aglutinação”, disse.
- Leia também: Não gosto desse termo terceira via, parece que define a eleição como Lula e Bolsonaro’, diz Moro
Ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do atual governo, Moro afirmou que a união já deveria ter ocorrido e que Lula e Bolsonaro — que lideram as pesquisas de intenção de voto– são candidatos que, segundo ele, jogam com a mentira e a destruição de reputações alheias.
Ele disse ter “potencial para vencer os extremos”, mas admitiu que poderia abrir mão se houver um projeto convergente que estiver à frente dele nas pesquisas.
“Eu não tenho uma ambição pessoal que eu colocaria na frente do país. Agora, o que as pesquisas revelam, é que o meu projeto está em terceiro desde que a gente lançou o meu nome, colocou o meu nome à disposição em novembro”, destacou.
Sem ansiedade
Moro minimizou o fato de apresentar praticamente os mesmos índices de intenção de voto nas pesquisas eleitorais desde novembro passado, quando se filiou ao Podemos e anunciou sua pré-candidatura.
“A campanha ainda nem começou, ainda estamos na fase de pré-campanha, de estruturar o projeto”, disse, acrescentando que prepara propostas para as áreas de economia, justiça, saúde e cultura para apresentar um “sólido projeto” e percorrer o país inteiro discutindo ele.
Para Moro, não há um “cronograma exato” para a evolução nas pesquisas. “A gente tem expectativa de que o crescimento seja natural, mas não tem nenhuma ansiedade e preocupação de ganhar a eleição em março”, ironizou.
Dizendo-se um candidato de centro, Moro negou ter como foco de campanha tirar votos de Bolsonaro. Em vez disso, disse, querer atrair eleitores de ambos os campos.
“No fundo, o Brasil merece algo melhor do que isso. A gente precisa apresentar projeto, a gente precisa discutir esse projeto e a gente precisa apresentar como que a gente constroi um Brasil que volta a crescer. Quem tem credibilidade para fazer isso. Ou vale a pena insistir nos erros do passado ou nos erros do presente?”, observou.
Reformas e privatizações
Moro defendeu a necessidade de o país retomar a confiança perdida em razão do que considera erros na gestão da política econômica e da insegurança decorrente da instabilidade política.
Para ele, ainda há uma grande demanda social que precisa ser enfrentada, com responsabilidade fiscal, para se reduzir a relação dívida/PIB de forma a sair do descontrole inflacionário e levar à redução da taxa de juros.
Na avaliação do ex-juiz, somente gerando condições favoráveis é que ocorrerão investimentos externos e internos no país. Para isso, defende a aprovação das reformas tributária –para alterar o atual sistema complexo e anticompetitivo que incentiva a guerra fiscal– e a administrativa –para se garantir serviços públicos de qualidade e adequar o tamanho do Estado. O Congresso já tem projetos em tramitação para essas duas reformas.
O pré-candidato destacou que a agenda de privatizações não pode ser um tabu, citando empresas como o Banco do Brasil, a Eletrobras, a Caixa Econômica e a Petrobras. Defendeu que o tema seja abordado pelo ângulo do aumento da eficiência e não sob a ótica ideológica.
“Temos que buscar o modelo para não correr o risco de substituir o monopólio estatal por privado”, alertou.
No caso da Petrobras, ressaltou seu papel fundamental para o país e o fato de a empresa configurar como orgulho nacional, mas ponderou que é necessário discutir o uso e a sustentabilidade do combustível fóssil.
Lava Jato
Moro afirmou que ainda terá como propostas, dentro de um pacote de medidas no campo ético e político, o fim da reeleição para cargos do Executivo já em 2023, fim do foro privilegiado, inclusive para presidente da República, e a volta da execução da pena para condenados em segunda instância, além do mandato fixo para diretor-geral da Polícia Federal.
- Leia também: Ex-presidente da OAB critica “Grupo de Prerrogativas” e diz que há “interresses de natureza política”
O ex-juiz da Lava Jato disse que a operação virou um orgulho nacional, impedindo que se “quebrasse” a Petrobras. Lembrou da recuperação de 6 bilhões de reais desviados da estatal e argumentou que a investigação mudou a tradição de impunidade no país.
Moro defendeu avanços decorrentes da Lava Jato, e avaliou que reações do sistema político e decisões de “parte do Supremo” acabaram enfraquecendo o combate à corrupção no Brasil. Não deixou de citar o envio de casos da Justiça Federal para a Eleitoral e a anulação da condenação de Lula.
“Ninguém diz no mérito que o Lula é inocente, sequer o STF. A anulação foi por motivos meramente formais”, disse, ao destacar o que para ele é o retorno de não se agir contra ricos e poderosos.
Moro, por outro lado, foi considerado pelo Supremo parcial no julgamento de Lula sobre o triplex, suspeição essa que posteriormente foi estendida a outros processos contra o petista.
O ex-juiz rebateu a apuração do Tribunal de Contas da União sobre a consultoria que prestou após ter deixado o governo Bolsonaro, ainda em 2020. Segundo ele, jamais teve qualquer relação financeira ou de trabalho com empresas da Lava Jato e o procedimento, a seu juízo, tem indícios de ser “absolutamente ilegal” e de estar sendo utilizada de forma política.
“Não cabe ao TCU investigar relações privadas”, afirmou. “Não tenho qualquer receio em relação a isso”, reforçou ele, ao considerar que o caso será arquivado.
(Edição de Alexandre Caverni)