“Não tem condições de ir para a prisão comum”, comentou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por liderar a trama golpista.

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José Dirceu falou sobre condições de saúde do ex-presidente (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom | Marcelo Camargo | Agência Brasil)

“Acho muito improvável que se possa colocar presos vulneráveis no sistema penitenciário que é controlado pelo crime organizado. As condições são péssimas”, afirmou Dirceu em entrevista a BBC Brasil, nesta segunda-feira (6). O ex-ministro comentou também que não acredita que o ex-presidente será enviado para um presídio comum, como o Complexo Penitenciário da Papuda.

Atualmente, o ex-presidente está em prisão domiciliar por ter violado cautelares em investigação por coação e ainda pode apresentar recursos contra sua condenação criminal. Na avaliação de José Dirceu, que já ficou preso cinco vezes ao longo de seus quase 80 anos, o estado de saúde e o perfil emocional de Bolsonaro o impedem de cumprir pena no sistema carcerário: “Me parece que ele é uma pessoa psicossomática, que vai acelerando, muito instável. Não é uma pessoa que tem autocontrole”.

O petista comparou a situação ao caso do também ex-presidente Fernando Collor, condenado por corrupção e em prisão domiciliar, mas relembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpriu pena em uma unidade prisional. “Não foi assim com o presidente Lula, né? Ele foi preso. É verdade que era uma prisão da Polícia Federal”, observou.

Dirceu criticou políticos que pedem redução de penas aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro. “Esses que estão falando em diminuir as penas agora, nos últimos dez anos eles aumentaram as penas para tudo no Brasil, sem condições do sistema penitenciário receber (esses presos)”, disse. O relator do chamado “PL da Dosimetria”, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), estima que o projeto possa reduzir a pena de Bolsonaro “entre sete a 11 anos”. Mesmo assim, bolsonaristas insistem em uma proposta de anistia para perdoar os crimes.

Durante a entrevista, o ex-ministro relembrou a convivência com Valdemar Costa Neto. Os dois foram aliados nas articulações pela eleição de Lula em 2002 e, depois, dividiram cela quando presos pelo mensalão. “Valdemar é o político mais hábil que tem na direita, porque ele construiu um partido que tem 92 deputados e elegeu o presidente da República. Então, não pode subestimar”, afirmou, acrescentando que Valdemar é “um dos quadros da direita brasileira mais qualificados”.

José Dirceu pretende disputar pela quarta vez uma vaga de deputado federal por São Paulo, em 2026. Segundo ele, a candidatura atende a um pedido direto de Lula e será uma forma de “reparação” após as prisões que considera injustas, nos casos do mensalão e da Lava Jato.