Rússia e Ucrânia iniciam reunião com objetivo de negociações para um cessar-fogo
KIEV/MOSCOU (Reuters) – As negociações entre representantes da Rússia e da Ucrânia começaram nesta segunda-feira (28), na fronteira de Belarus, em um momento em que a Rússia encara um aumento do isolamento econômico quatro dias depois de invadir a Ucrânia no maior ataque em um país europeu desde a segunda guerra mundial.
As forças russas capturaram duas pequenas cidades no sudeste da Ucrânia e a área em torno de uma usina nuclear, informou a agência de notícias Interfax, mas enfrentam dura resistência em outras partes do país.
As conversas começaram com o objetivo de um cessar-fogo imediato e retirada do exército russo, disse a Presidência da Ucrânia, depois de um avanço da Rússia considerado mais lento que o esperado.
A Rússia tem sido cautelosa sobre as negociações, com o Kremlin se recusando a comentar sobre qual o seu objetivo. Não está claro se será possível ter algum progresso depois do presidente Vladimir Putin por as forças nucleares russas em alerta no domingo.
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As negociações estão acontecendo na fronteira de Belarus, aliado russo, onde no domingo foi aprovado uma nova Constituição que retirou do país o status de não-nuclear, em um momento em que o aliado russo se tornou uma plataforma de lançamento de ataques contra a Ucrânia.
“Queridos amigos, o presidente de Belarus me pediu para dar as boas vindas para vocês e facilitar o seu trabalho o máximo possível. Como foi acordado com os presidentes (Volodymyr) Zelenskiy e Putin, podem se sentir completamente seguros”, disse o ministro das Relações Exteriores de Belarus, Vladimir Makei no início das reuniões, de acordo com uma postagem do ministério no Twitter.
Explosões foram ouvidas na madrugada de segunda-feira (28) na capital Kiev e em Kharkiv, disseram autoridades ucranianas. Mas as tentativas das forças terrestres russas de capturar os principais centros urbanos foram repelidas, acrescentaram.
O Ministério da Defesa da Rússia, no entanto, disse que suas forças tomaram as cidades de Berdyansk e Enerhodar, na região de Zaporizhzhya, no sudeste da Ucrânia, bem como a área ao redor da usina nuclear de Zaporizhzhya, informou a Interfax. Mas a Ucrânia negou que a usina nuclear tenha caído em mãos russas, segundo a agência de notícias.
Dezenas de pessoas foram mortas em ataques com foguetes russos em Kharkiv na segunda-feira, disse o assessor do Ministério do Interior ucraniano, Anton Herashchenko.
Pelo menos 102 civis na Ucrânia foram mortos desde quinta-feira, com outros 304 feridos, mas teme-se que o número real seja “consideravelmente maior”, disse a chefe de direitos humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, nesta segunda-feira.
Mais de meio milhão de pessoas fugiram para países vizinhos, segundo a Agência da ONU para Refugiados. Houve combates ao redor da cidade portuária ucraniana de Mariupol durante toda a noite, disse Pavlo Kyrylenko, chefe da administração regional de Donetsk, na televisão na segunda-feira.
Um alto funcionário de defesa dos EUA afirmou que a Rússia disparou mais de 350 mísseis contra alvos ucranianos desde quinta-feira, alguns atingindo infraestrutura civil.
“Parece que eles estão adotando uma mentalidade de cerco. E qualquer estudante de tática e estratégia militar lhe dirá, quando você adota táticas de cerco, aumenta a probabilidade de danos colaterais”, disse o funcionário, falando sob condição de anonimato.
Parceiros da aliança de defesa da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) liderada pelos EUA estão fornecendo à Ucrânia mísseis de defesa aérea e armas antitanque, disse o secretário-geral da Organização, Jens Stoltenberg em um tuíte nesta segunda-feira.
O Kremlin acusou a União Europeia de comportamento hostil, dizendo que o fornecimento de armas para a Ucrânia estava desestabilizando a região e provou que a Rússia estava certa em seus esforços para desmilitarizar seu vizinho.
“Não apenas na administração presidencial, mas em toda a Rússia, a grande maioria da população tem amigos ou parentes que moram na Ucrânia. Naturalmente, o coração de todos está dolorido pelo que está acontecendo com esses parentes”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Ele se recusou a comentar se havia risco de confronto entre a Rússia e a Otan. Uma das exigências da Rússia para supostamente evitar o conflito era que a Otan nunca admitisse a Ucrânia.
O governo alemão informou que aumentaria maciçamente os gastos com defesa, eliminando décadas de relutância em igualar seu poder econômico com influência militar.
Sanções
O rublo da Rússia despencou quase 30% em relação ao dólar na segunda-feira, depois que nações ocidentais anunciaram no sábado sanções abrangentes, incluindo o bloqueio de alguns bancos russos do sistema de pagamentos internacionais SWIFT.
O Banco Central russo elevou sua taxa de juros para 20%, saindo de 9,5% em uma medida de emergência, e as autoridades disseram às empresas focadas na exportação que estivessem prontas para vender moeda estrangeira. Também ordenou aos corretores que bloqueassem a tentativa de estrangeiros de vender títulos russos.
Várias subsidiárias europeias do Sberbank Rússia, de propriedade majoritária do governo russo, estavam falindo ou provavelmente a caminho de falir devido ao custo reputacional da guerra na Ucrânia, disse o Banco Central Europeu.
O Reino Unido disse nesta segunda-feira que está tomando novas medidas contra a Rússia em conjunto com os Estados Unidos e a União Europeia.
Gigantes corporativos também entraram em ação, com a petrolífera britânica BP BP.L BP, o maior investidor estrangeiro na Rússia, dizendo que abandonaria sua participação na petrolífera estatal Rosneft ROSN.MM a um custo de até 25 bilhões de dólares.
Protestos
Protestos contínuos foram realizados em todo o mundo contra a invasão, inclusive na Rússia, onde quase 6.000 pessoas foram detidas em manifestações contra a guerra desde quinta-feira, disse o monitor de protestos OVD-Info.
O site da agência de notícias estatal russa TASS foi invadido na segunda-feira, mostraram verificações da Reuters de vários dispositivos, com o site regular substituído por uma mensagem anti-guerra.
“Pedimos que pare com essa loucura”, dizia a mensagem.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU concordou nesta segunda-feira com o pedido da Ucrânia de realizar um debate urgente nesta semana sobre a invasão da Rússia, minutos depois que o enviado de Kiev disse ao fórum de Genebra que algumas das ações militares de Moscou “podem ser crimes de guerra”.
O conselho de 47 membros adotou a proposta por 29 votos a favor e cinco contra, incluindo Rússia e China.
Zelenskiy pediu na segunda-feira à União Europeia que permita que a Ucrânia se torne membro imediatamente.
“Nosso objetivo é estar com todos os europeus e, o mais importante, ser igual… Tenho certeza de que merecemos”, disse ele em um discurso em vídeo compartilhado nas redes sociais.
O presidente dos EUA, Joe Biden, fará uma ligação com aliados e parceiros também nesta segunda para coordenar uma resposta unida, disse a Casa Branca.
A Rússia chama suas ações na Ucrânia de “operação especial” que, segundo ela, não foi projetada para ocupar território, mas para destruir as capacidades militares de seu vizinho do sul e capturar o que considera nacionalistas perigosos.
A UE proibiu a circulação de todos os aviões russos fora de seu espaço aéreo, assim como o Canadá, forçando a companhia aérea russa Aeroflot a cancelar todos os voos para destinos europeus até novo aviso.
(Reportagem te Aleksandar Vasovic em Kiev; Natalia Zinets, Matthias Williams e Pavel Polityuk em Lviv; Alan Charlish in Medyka, (Polônia); Fedja Grulovic em Sighetu Marmatiei (Romênia); Stephanie Nebehay e Emma Farge em Genebra; e outros escritórios da Reuters, incluindo Moscou)