Por que os partidos querem mais mulheres nas eleições?

Explica Aí!

por Jeulliano Pedroso
Publicado em 29 jun 2022, às 15h58. Atualizado às 17h13.

Raramente vemos grupos ou partidos políticos se unindo em iniciativas que não tenham benefícios imediatos para si. Pelo contrário, o mais comum são atitudes individualistas, o famoso “cobra comendo cobra”. Por isso, o fato reportado aqui no portal RICMAIS de que 7 partidos teriam se unido em Maringá para fazer o lançamento conjunto de candidaturas de mulheres para a Assembleia Legislativa e Câmara Federal causa estranheza, ainda mais se olharmos a amplitude do espectro ideológico dos partidos envolvidos – perpassando o PP, o PT e contemplando até o PC do B.

Para analisar melhor essa situação me permitam apresentar alguns dados.

As mulheres representavam, tanto em 2018 quanto agora em 2022, mais de 52% do eleitorado apto a votar aqui no Paraná, mas o percentual de votos ou candidaturas está longe de refletir essa maioria. Veja as tabelas abaixo:

Cargo: deputado estadual (PR)

Tabela 1 – votos

VOTOSQUANTIDADE
Votos nominais4.852.937 (100%)
Votos em mulheres462.805 (9.5%)

Tabela 2 – candidaturas

CANDIDATURASQUANTIDADE
Candidaturas totais767 (100%)
Candidaturas de mulheres239 (31%)

Cargo: deputado federal (PR)

Tabela 3 – votos

VOTOSQUANTIDADE
Votos nominais5.390.730 (100%)
Votos em mulheres819.524 (15%)

Tabela 4 – candidaturas

CANDIDATURASQUANTIDADE
Candidaturas totais450 (100%)
Candidaturas de mulheres137 (30%)

No jogo eleitoral as regras moldam as estratégias adotadas pelos atores envolvidos, ou seja, cada detalhe estabelecido pela legislação eleitoral baliza o que os partidos e candidatos farão,ficando absolutamente evidente no caso  da disponibilidade de espaço e incentivos para a participação feminina nos pleitos eleitorais.

A iniciativa do Movimento Mais Mulheres No Poder (MMNP), que organizou o evento de “união” dos partidos em Maringá em prol das candidaturas femininas, é louvável, mas não nos enganemos porque a intenção principal são os incentivos estabelecidos pela legislação. Notem que o percentual de candidaturas tanto para deputado federal quanto estadual ficaram  no mínimo dos 30% estabelecidos pela cláusula de diversidade de gênero no pleito de 2018.

Então o que teria motivado os “tão abnegados” dirigentes partidários a incentivar mais as candidaturas femininas? Uma emenda constitucional promovida em 2021 talvez explique, lá ficou estabelecido que os votos recebidos por mulheres contarão em dobro para o cálculo da distribuição do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (o chamado Fundo Eleitoral). Logo, incentivar as candidaturas femininas agora se tornou um bom negócio para aqueles que gerenciam esses recursos.

A frase que norteou as investigações conduzidas na década de 1970 pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal Washington Post no caso Watergate, “Siga o dinheiro” (“Follow the money”) continua atual para explicar muitos dos movimentos políticos, não apenas nos estados unidos mas aqui no Brasil também.