O prefeito de Fazenda Rio Grande, Marcos Marcondes (PSD), se manifestou publicamente pela primeira vez após ficar 14 dias preso. Marcondes utilizou as redes sociais para defender a gestão no município da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), embora não tenha negado explicitamente qualquer delito.

Prefeito de Fazenda Rio Grande, Marcos Marcondes
Prefeito responde processo em liberdade. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

“Olá, Fazenda Rio Grande. Eu gostaria de ter me manifestado antes, mas por orientação jurídica dos meus advogados permaneci em silêncio até o momento. Jamais imagienei passar por algo assim. Sempre trabalhei de forma honesta. Conduzi minha vida e minha história pública com transparência, respeito, seriedade e com amor pela cidade. Confio na Justiça e também que, em breve, tudo será esclarecido. Desde o primeiro dia em que entrei na vida pública meu propósito sempre foi trabalhar por Fazenda Rio Grande. E os resultados estão aí. Obras, empregos, investimentos e uma cidade que desenvolveu de forma acelerada em nossa gestão. Muita gente me alertou, na política, quem se destaca, incomoda, quem faz, paga o preço, talvez seja isso. Mas o que me move, é o mesmo de sempre: o desejo de ver nossa cidade seguir em frente, com dignidade e respeito. Estou tranquilo com a minha consciência e que a verdade sempre aparece. O tempo vai provar isso”, declarou o prefeito.

Marcondes ficou preso entre os dias 9 e 23 de outubro, no âmbito da Operação Fake Care, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que apurou um esquema suspeito de desvio de mais de R$ 10 milhões na Secretaria de Saúde do município.

Imagens e vídeos obtidos pelo GAECO mostram encontros suspeitos entre representantes da AGP Saúde, empresa investigada por corrupção nesse processo, e agentes públicos na casa do prefeito. Era nesse momento em que os suspeitos teriam negociado alguns dos repasses em dinheiro em Fazenda Rio Grande.

MP diz que repasses em dinheiro em Fazenda Rio Grande movimentaram quase R$ 40 milhões

Momento em que suspeitos negociam repasses em Fazenda Rio Grande
Imagens de câmeras de segurança mostraram encontros entre os investigados. (Foto: Reprodução/Ministério Público do Paraná)

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) apontou que o grupo teria montado um esquema de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo contratos públicos na área da saúde em Fazenda Rio Grande, entre 2022 e 2025. Segundo a denúncia, o esquema movimentou cerca de R$ 39,5 milhões, sendo R$ 10,3 milhões provenientes do município.

Os pagamentos de propina seriam feitos em dinheiro e tinham como objetivo assegurar a continuidade das contratações consideradas irregulares. As quantias, segundo a investigação, eram entregues pessoalmente por Alberto Martins de Faria e Abrilino Fernandes Gomes ao prefeito, Marco Marcondes, e ao então secretário municipal de Saúde, Francisco Roberto Barbosa.

As entregas, conforme a denúncia, ocorreram em pelo menos três ocasiões — 17 de março, 16 de abril e 5 de maio de 2025 — em áreas comuns do condomínio onde o prefeito reside. Posteriormente, parte do dinheiro teria sido depositada de forma fracionada nas contas pessoais dos servidores. Relatórios de quebra de sigilo bancário indicam 62 depósitos, somando R$ 251,2 mil para o prefeito, e, 60 depósitos, totalizando R$ 86,9 mil para o secretário.

O MP afirma que o modelo de contratação foi criado por Alberto Martins de Faria, auditor do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) desde 2006. Ele teria usado o conhecimento técnico em gestão pública para estruturar o esquema.

O auditor é suspeito de ser o líder da organização criminosa, responsável por intermediar os pagamentos e lavar o dinheiro desviado por meio de empresas ligadas a ele e à mãe, Angela Maria Martins de Faria.

Segundo a denúncia, a empresa AGP Saúde Ltda. era utilizada como fachada para obter contratos diretos com diversas prefeituras, incluindo a de Fazenda Rio Grande. O grupo teria usado mecanismos de inexigibilidade de licitação e credenciamento de forma irregular, direcionando os processos para que apenas a AGP Saúde fosse contratada.

Em Fazenda Rio Grande, o suposto esquema teria sido implementado após a nomeação de Francisco Barbosa para a Secretaria Municipal de Saúde, em junho de 2022. A partir de dezembro de 2023, o programa “Saúde nos Bairros” foi apresentado ao Conselho Municipal de Saúde, com vídeos e materiais que demonstravam experiências da empresa em outros municípios, como Contenda, onde Abrilino Gomes atuava como chefe de gabinete.

A denúncia relata que os processos de contratação foram conduzidos com restrição de publicidade e prazos reduzidos, o que teria dificultado a participação de outras empresas. Editais foram publicados em períodos de recesso ou com prazos de apenas algumas horas para envio de propostas.

O MP ainda indica que Marco Marcondes e Francisco Barbosa atuaram para facilitar a execução dos contratos, autorizando pagamentos e ampliando a atuação da AGP Saúde. Após o início do esquema, em janeiro de 2025, Franciso foi transferido para a Secretaria de Finanças.

Entre abril e setembro de 2025, segundo o MP, o grupo teria desviado R$ 4,57 milhões de recursos do município, por meio do Contrato nº 47/2025, firmado entre a Prefeitura e a AGP Saúde. O valor seria referente a serviços sobrepostos aos já oferecidos pelo SUS, sem justificativa para terceirização.

Prefeito de Fazenda Rio Grande e outros quatro foram presos em operação

Fernando Gomes ao lado de Marco Marcondes
Fernando Gomes ao lado de prefeito Marco Marcondes. (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

Ao todo, cinco pessoas foram alvo da operação suspeitas de integrarem o esquema. Veja o papel de cada um, conforme o MPPR:

  • Alberto Martins de Faria – auditor do TCE-PR e apontado como líder do grupo; responsável pela coordenação do esquema, entrega de dinheiro e lavagem dos valores desviados por meio de empresas próprias.
  • Samuel Antônio da Silva Nunes – sócio formal da AGP Saúde, responsável pela representação da empresa e por dar aparência de legalidade aos contratos.
  • Abrilino Fernandes Gomes – intermediário entre a empresa e os agentes públicos, além de responsável pela entrega de valores em espécie.
  • Marco Antônio Marcondes Silva – prefeito de Fazenda Rio Grande; teria autorizado contratações e homologado processos em troca de vantagens financeiras.
  • Francisco Roberto Barbosa – ex-secretário de Saúde e atual secretário de Finanças; teria promovido o projeto e assinado documentos de contratação e aditamento dos contratos com a AGP Saúde.

O que diz a defesa do prefeito?

“Atendendo às nossas expectativas, o Exmo. Desembargador Relator do feito compreendeu pela desnecessidade atual da manutenção da prisão preventiva, concedendo liberdade provisória ao Prefeito Marcondes. Com tranquilidade, demonstraremos, durante a instrução processual, que as suspeitas eventualmente remanescentes em relação ao Prefeito não subsistem”, disse o advogado Rodrigo Sánchez Rios.

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Jorge de Sousa

Editor

Jorge de Sousa é formado em jornalismo desde 2016, pós-graduado em Direito Eleitoral e Processo Eleitoral e especializado na cobertura de pautas sobre Política, do Paraná e do Brasil, além de matérias sobre Agronegócio e Esportes.

Jorge de Sousa é formado em jornalismo desde 2016, pós-graduado em Direito Eleitoral e Processo Eleitoral e especializado na cobertura de pautas sobre Política, do Paraná e do Brasil, além de matérias sobre Agronegócio e Esportes.