O Ministério da Economia trouxe a público a informação de que o governo brasileiro encerrou o ano pagando pensão para 68.118 filhas solteiras e maiores de idade de militares, políticos e funcionários públicos.
Apesar da pensão para filhas de militares ser a “aberração” mais conhecida, elas são o menor número das beneficiadas com essa verdadeira farra com dinheiro público. Atualmente 11.329 filhas de militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea recebem a “mesada” estatal. Com o tempo esse número vai diminuir. O benefício foi extinto no governo de Fernando Henrique Cardoso, mas as mulheres que já o recebiam continuarão a receber, todos meses, a pensão herdada dos pais. Calcula-se que até 2060 ainda vai ter filha solteira de militar vivendo as nossas custas.
Do número total informado pelo governo, mais 80% desse tipo de pensionista são filhas solteiras dos funcionários públicos de alto escalão, dos três poderes, que sobrevivem com o dinheiro dos pagadores de impostos. Muitas vezes de forma indevida.
Basta um minuto de busca no Google e você encontra todo tipo de denúncia na imprensa. É filha de juiz que mesmo casada recebe 50 mil por mês. Filha de desembargador que se casou na igreja, com direito a festa divulgada em coluna social, mas permanece solteira no civil, que embolsa 30 mil mensais, e por aí vai.
A farra acontece principalmente nos estados. Não por acaso, o falido estado do Rio de Janeiro lidera o ranking dos governos estaduais que subsidiam a vida mansa das herdeiras da elite estatal. E o pior, quando um estado descobre a falcatrua das filhas casadas que permanecem solteiras no civil e suspende o pagamento das pensões, quase todas conseguem na justiça a manutenção dos privilégios.
O fato de centenas de filhas de membros do judiciário também receberem pensões vitalícias obviamente não tem nada a ver com essas decisões…
Mesmo porque o judiciário brasileiro é de longe a “casta” mais privilegiada desse país. Estão acostumados com uma vida de benesses públicas. E não enxergam nada de errado nisso.
Pra se ter uma ideia, dependendo do cargo e do estado em que atuam, os magistrados recebem todo tipo de benefício. Desde os tradicionais vale alimentação e plano de saúde, a carros oficiais, auxílio livro, vale paletó, auxílio educação etc. Além do direito a 60 dias de férias por ano.
E mesmo assim vários reclamam do valor “irrisório” que recebem, como foi no caso recente do procurador mineiro que foi gravado perguntando aos colegas “Como vamos sobreviver com um salário de 24 mil?”
Você deve estar se perguntando, mas como acabar com isso?
Eu respondo com outra notícia recente.
A equipe econômica de Paulo Guedes vai apresentar uma proposta de reforma administrativa, que corta vários privilégios da elite do funcionalismo público. Vazou na imprensa a informação de que uma das medidas propostas é o fim das férias de 60 dias para membros do Ministério Público – juízes e desembargadores não seriam afetados pela medida.
Ao saber da notícia o Procurador Geral da República, Augusto Aras, classificou a tentativa como “desumana”. E ameaçou retaliar o Congresso exigindo uma discussão sobre a aplicação da CLT nos cargos dos deputados e senadores.
Fico na torcida para que eles, legislativo e judiciário, entrem em conflito nesse caso. Porém é óbvio que vão fazer um grande jogo de cena e depois irão se entender “pelo bem da democracia”.
A frase de Guilherme de Lampedusa “Algo deve mudar para que tudo continue como está” deveria substituir o “Ordem e Progresso” na bandeira nacional.
