Violência contra crianças e adolescentes crescem 47% no Brasil durante pandemia

por Ana Beatriz
da equipe de estágio RIC Mais, sob supervisão de Larissa Ilaídes
Publicado em 14 jul 2020, às 17h21. Atualizado às 19h35.

Na semana em que o Estatuto da Criança e do Adolescente comemora 30 anos, as estatísticas indicam que a violência contra crianças e adolescentes cresce de forma contínua.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) emitiu um alerta mundial e dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH). Mostram que somente em abril as denúncias de violência sexual contra crianças aumentaram em 47%, indicando um agravamento do cenário durante a pandemia de Covid-19

Segundo o médico radiologista Camilo Dallagnol, do Plunes Centro Médico e com atuação na Precisão Diagnóstico por Imagem, de Curitiba.

Uma situação comum, é o atendimento de crianças com lesões típicas de abuso, mas os responsáveis justificam de uma forma que não condiz com o que os exames apontam. 

“Algumas lesões são características de maus tratos, como a Síndrome do Bebê Sacudido, quando um adulto pega a criança pelo tronco e chacoalha causando hemorragias intracranianas ou mesmo de retina”, detalha o médico 

Nestes casos, o médico deve comunicar a situação suspeita às autoridades, como o Conselho Tutelar, a polícia ou Ministério Público.

“Com a pandemia, a atenção de todos está redobrada devido ao aumento da convivência familiar e, portanto, de potencial aumento dos casos”, afirma Dallagnol.

Dessa forma estima-se que mais de 85 milhões de crianças e adolescentes do mundo inteiro passem por alguma situação de abuso durante o isolamento social.

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FOTO: DREAMSTIME

O papel das escolas nesse cenário

As escolas sempre foram grandes aliadas do combate à violência infantil e um dos principais suportes na detecção de casos de abuso. Muitas denúncias acontecem após professores notarem lesões ou mudanças repentinas no comportamento de crianças e adolescentes. Porém, durante a pandemia, o distanciamento social acaba dificultando essa percepção sobre as crianças e adolescentes que passam por situações extremas.  

Preocupada com esse distanciamento, a Interpares Educação Infantil, de Curitiba, promoveu uma campanha online sobre o tema.

“Neste momento de contato restrito com os alunos a orientação é que os professores reforcem a autonomia das crianças para se defenderem de situações difíceis e constrangedoras”, explica a diretora da escola. 

“A soma do estresse que acomete os adultos durante a pandemia e a convivência intensa com as crianças aumenta as chances de episódios de agressão mesmo em famílias onde isso não acontecia antes”, explica ela.

A campanha desenvolvida pela escola trouxe textos voltados aos pais e vídeos lúdicos voltados às crianças.

Entre os temas abordados estão o respeito aos limites abuso sexual, uso de gritos e palavrões e tipos de agressão física e emocional. 

“Além de estarmos alertas, sempre buscamos empoderar as crianças para que elas tenham condições de identificar uma situação e até mesmo pedir ajuda. Já fazíamos isso antes da pandemia, mas o momento atual requer uma intensificação desse debate”, finaliza a diretora.   

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