Reforma de prédio histórico de Curitiba é chamada de 'desastrosa' por arquiteto e vira meme
Já em fase de finalização, a reforma do Teatro Paiol, em Curitiba, virou alvo de críticas do arquiteto Abrão Assad, responsável pelo projeto de reciclagem da obra em 1971, e se tornou meme nas redes sociais. Comparada a restauração desastrada do Ecce Homo por internautas, a reforma foi chamada de “desastrosa, grotesca e irresponsável descaracterização da obra original” por Assad.
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Assad publicou neste mês uma carta aberta explicando que foi autor do projeto de reciclagem durante o governo do prefeito Jaime Lerner e que ficou sabendo do reparo deste ano há poucas semanas, ao ser chamado por alunos e professores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) a participar de uma live de estudo de caso sobre a restauração.
“Surpreso com a notícia e perplexo por não ter sido previamente chamado, consultado ou sequer informado pelos órgão da prefeitura responsáveis pela preservação do nosso acervo, fui imediatamente verificar in loco a ocorrência”, explicou o arquiteto.
Veja como está ficando a reforma:
“Muito mais surpreso, indignado e desolado fiquei ao constatar o andamento de um desconcertante trabalho de reforma totalmente equivocado! – uma desastrosa, grotesca e irresponsável descaracterização da obra original”, relatou Assad. O arquiteto afirmou que entrou em contato com a Prefeitura e se propôs a fazer uma “cirurgia reparado de emergência” para ressignificar a fisionomia original da edificação.
Memes e repercussão nas redes
Na internet, o assunto repercutiu nas redes sociais. Veja algumas das publicações:
“Meu Deus do céu que coisa bizarra! Eu escolhi o Paiol para as fotos entre a cerimônia e festa do casamento, era lindo! Ainda mais de noite comemos holofotes destacando a arquitetura antiga”, escreveu um internauta.
“Gente, o Greca rebocou e pintou o Paiol… que coisa horrorosa”, disse outro.
“Assim anda a gestão da cultura em Curitiba. Num dia apagam um mural icôpnico da cidade, no outro pintam o teatro mais charmoso da cidade com cor de diarreia infantil”, pontuou mais uma pessoa.
“Depois da remoção do grafite do Jack, vem isso no Paiol… tá difícil!”, lamentou um internauta.
Obras segundo a Prefeitura de Curitiba
Com a repercussão, o prefeito Rafael Greca chegou a responder um internauta em um comentário nas redes sociais. “A comparação não tem cabimento. Nosso Paiol precisa ser rebocado para proteção dos tijolos antigos que são anteriores a 1874. Se fosse descascado, o velho Paiol poderia arruinar-se”, escreveu Greca.
A Prefeitura já havia publicado uma matéria em seu site oficial em novembro, afirmando que a reforma estava em reta final, com 83% dos serviços concluídos. Na época, a prefeitura informou que as obras estavam sendo feitas para “aumentar a durabilidade e melhorar as condições de uso do imóvel que estava com processo de degradação das paredes, com risco de deterioração”.
“O projeto para a execução das obras foi elaborado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e submetido ao programa Cultura: Preservação, Promoção e Acesso, do governo federal. O investimento é de R$ 463 mil, com recursos provenientes do Ministério da Cultura por meio da Caixa Econômica Federal com contrapartida do município de R$ 184 mil”, informou a prefeitura.
A prefeitura ainda emitiu uma nota justificando a escolha do projeto e das cores. Veja na íntegra:
“A obra de recuperação do Teatro do Paiol, urgente pela ruína do telhado e por conta de outros problemas na estrutura da construção de 1906, não está concluída. A reforma foi precedida de estudos técnicos e a cor amarela trabalhada conforme prospecção realizada por arquitetos especializados em patrimônio histórico. O projeto elaborado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) foi aprovado pela Comissão do Patrimônio Histórico e Cultural (CAPC) e submetido ao programa Cultura: Preservação, Promoção e Acesso do Governo Federal.
A pintura não foi realizada com tinta. A técnica usada é a pintura a base de cal, para a proteção da alvenaria e que com a ação do tempo gradualmente devolverá o caráter rústico da fachada da edificação (efeito “desgaste” de cor e reboco). Vale lembrar que o tom da tinta também varia conforme a umidade da parede.
A etapa da pintura ainda não foi concluída e o arquiteto Abrão Assad, responsável pelo projeto de transformação do espaço em teatro, em 1972, está colaborando com a comissão responsável para se chegar ao efeito de cor de aspecto antigo que costuma caracterizar o imóvel.
As obras no Teatro do Paiol acontecem para aumentar a durabilidade e melhorar as condições de uso do imóvel que estava com processo de degradação das paredes, graves infiltrações, com risco inclusive de colapso de toda a estrutura. A obra da Prefeitura de Curitiba garante o uso do Teatro do Paiol, com segurança, por pelo menos mais 50 anos.”