O senador Aécio Neves participa de sessão no Senado Federal em Brasília, nesta terça-feira (4) (Foto: Fátima Meira, Futura Press, Estadão Conteúdo)

Em pronunciamento no seu retorno, o senador concentrou seus ataques no dono da JBS, Joesley Batista

Em pronunciamento no plenário, na volta ao Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) concentrou os seus ataques ao empresário Joesley Batista, dono da JBS, e disse ter sido “vítima de uma armadilha engendrada por um criminoso confesso”. Aécio optou por evitar críticas ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e até mesmo o seu habitual discurso político contra o PT.

Com isso, a oposição ficou completamente calada diante da fala de Aécio, que foi cumprimentado por parlamentares da base governista. Segundo senadores petistas, a bancada aguardava o pronunciamento do tucano para perceber qual seria o “tom” da sua fala. Como ele “poupou” a legenda, optaram por não se manifestar sobre o retorno do presidente afastado do PSDB.

Logo no início do discurso, Aécio disse que não seriam permitidos “apartes” à sua fala, ou seja, que nenhum outro parlamentar poderia se pronunciar enquanto ele falasse. Ele aproveitou os cerca de 15 minutos para fazer uma espécie de mea culpa, dizendo que errou ao se “deixar envolver nessa trama ardilosa”, por ter deixado que os seus familiares “servissem de massa de manobra” e por ter usado palavras de baixo calão durante as conversas com Joesley.

Apesar disso, negou que tenha cometido crimes, prometido vantagens indevidas ou ter tentado obstruir a Justiça. Aécio reforçou a tese de sua defesa de que o pedido de R$ 2 milhões ao dono da JBS seria pela venda de um apartamento para pagar advogados em outros processos, e que também procurou outras quatro empresas para o negócio. “O empréstimo seria regularizado e pago. Tratou-se de um negócio entre pessoas privadas”, alegou.

Aécio considerou que não seria possível classificar o suposto “empréstimo” como pagamento de propina, pois alega que nunca prometeu vantagens indevidas para a JBS. “Como alguém pode ter pagado propina sem receber qualquer benefício?”, questionou. Ele citou depoimento do delator Ricardo Saud, também da JBS, que disse em trecho do seu depoimento à Justiça que Aécio “prometeu, prometeu, e nunca fez nada” pela empresa.

O tucano declarou ainda que, como presidente do PSDB, sempre “levantou a voz” em defesa da Operação Lava Jato e que pautou a sua atuação política por “boas causas e dos que mais precisam” e que “sempre respeitou a ética e honrou os votos que recebeu” da população.

Durante os cerca de 45 dias em que esteve afastado, Aécio disse que a “indignação contra a injustiça e a tristeza foram os sentimentos que mais o acompanharam” e que o episódio deixou “profundas marcas” na sua vida e de sua família.

Conselho de Ética discutirá cassação

Enquanto isso, o presidente do Conselho de Ética do Senado, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), convocou reunião do colegiado na próxima quinta-feira (6), a partir das 10h, para analisar o recurso contra o arquivamento do pedido da cassação do mandato de Aécio.

Há cerca de dez dias, o presidente do Conselho arquivou representação por quebra de decoro parlamentar contra Aécio apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por considerar que não havia provas suficientes para dar início ao processo e que o pedido era “improcedente”.

Logo após a decisão de João Alberto, um grupo de senadores entrou com um recurso para que a decisão seja tomada pelo plenário do Conselho, porém o presidente do colegiado foi internado no mesmo dia devido a questões de saúde e a decisão acabou adiada.

Para a representação ser desarquivada, são necessários os votos de, pelo menos, 8 dos 15 integrantes titulares do Conselho. Se a maioria votar a favor do pedido, a representação contra Aécio começará a ser debatida pelo colegiado e poderá ser encaminhada ao plenário do Senado.

Ontem, João Alberto avaliou que a decisão do ministro Marco Aurélio não interfere nas atividades do Conselho, mas demonstra que a Corte reconheceu que a decisão do ministro Edson Fachin pelo afastamento foi irregular.

“A decisão do Supremo nada tem a ver com o processo do Conselho e mostra a independência dos Poderes. Mas foi um ponto positivo o Supremo, na origem, reconhecer que o afastamento do mandato foi indevido por não ter previsão constitucional”, avaliou João Alberto.

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