Cinco dias antes da reunião, Trump se mostrava otimista e já adiantava que tudo estava pronto para a cúpula, a ser realizada em Cingapura
Os preparativos para o encontro histórico entre os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Kim Jong-un, da Coreia do Norte, se iniciaram de forma repentina. E o espírito conciliador foi proporcional à intensidade da mudança do panorama.
Na quinta-feira (7), cinco dias antes do encontro, Trump já comemorava esse clima de harmonia, adiantando que tudo estava pronto para a cúpula com Kim Jong-un. Com otimismo, já admitia convidar o presidente norte-coreano para uma visita posterior aos EUA.
Beligerância e sanções
Até o início de 2018, prevalecia o discurso belicoso e a troca de ameaça, em função de uma sequência de testes nucleares anunciados pela Coreia do Norte, com mísseis tendo invadido o espaço aéreo japonês.
O cenário fazia parte de uma fase caracterizada por mais de 25 anos de negociações fracassadas entre os dois lados, em função do programa nuclear de Pyongyang.
A beligerância norte-coreana motivou uma série de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) ao país, após anúncios de que havia testado alguma bomba de hidrogênio.
Tal medida chegou a reduzir em até R$ 3,1 bilhões (US$ 810 milhões) por ano o faturamento da Coreia do Norte, valor que representa um terço a receita de exportação anual norte-coreana.
Aproximação com o Sul
De repente, após quase 70 anos de confronto, que começou com a Guerra da Coreia (1950-1953), o ditador Kim Jong-un, no discurso de Ano Novo, surgiu trajando uma roupa ocidental e dizendo querer aliviar as tensões com a Coreia do Sul, aliada dos EUA.
Mostrou-se até propenso a enviar uma delegação norte-coreana aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang 2018, entre 9 e 25 de fevereiro.
Isso realmente ocorreu e foi um passo importante para o encontro entre Kim e o presidente sul-coreano Moon Jae-in, em 27 de abril de 2018, poucos dias depois de o norte-coreano anunciar a suspensão dos testes nucleares.
Na reunião, os líderes prometeram trabalhar pela “desnuclearização” da península coreana e acabar com as hostilidades entre os dois países, entre outras decisões.
A mudança de panorama serviu como uma preparação para o encontro de Kim com o presidente americano.
Cingapura a disposição
A partir do momento em que se decidiu pela cúpula, uma organização invejável foi montada para possibilitar o evento.
Até mesmo a cidade-estado de Cingapura, que sediará o encontro, mobilizou-se prontamente, com o governo decretando uma ordem pública, divulgada no Diário Oficial, designando uma área especial para a reunião, isolando para da paradisíaca ilha Sentosa, entre os dias 10 e 14, onde ocorrerão as conversas.
Os EUA, por sua vez, também se encaixaram ao ritmo acelerado desta nova fase, enviando de pronto o secretário de Estado, Mike Pompeo, para Pyongyang, onde ele se encontrou com Kim.
Única ameaça
A reunião presidencial só esteve ameaçada uma vez neste período. Foi no fim de maio, justamente quando Jong-un anunciou o processo para desmantelar o centro de testes nucleares norte-coreano.
Mas mesmo assim, por causa de um discurso desencontrado, Trump cancelou o encontro. O motivo seria a queixa pública de Pyongyang de que EUA e Coreia do Sul estariam realizando manobras militares conjuntas.
Trump considerou o discurso hostil e paralisou as conversas, mas voltou atrás dias depois, devido a uma posição moderada das autoridades norte-coreanas.
Então, foi a vez de Pompeo receber o braço-direito de Jong-un, o general Kim Yong-chol, que esteve nos EUA e conversou com o principal articulador americano, levando inclusive uma carta de Jong-un a Trump.
O terreno estava definitivamente preparado e a reunião, naquele momento, foi confirmada.
Jong-un prosseguiu em sua missão conciliadora, tendo afastado do cargo três dos principais generais das forças armadas do país. A iniciativa foi vista como forma de diminuir a força de dissidentes internos neste rígido sistema.
Assim que o presidente Trump reconsiderou sua decisão, as duas partes mostraram que realmente estavam interessadas em finalmente dar fim as hostilidades mútuas.
E não perderam tempo. Entre 1 e 4 de junho se reuniram na fronteira intercoreana, o mesmo local do encontro entre Kim Jong-un e Moon Jae-in, para preparar a agenda da cúpula entre os dois presidentes.