Construção de sede da Petrobras em Salvador abasteceu campanhas do PT, diz delação

Publicado em 15 jan 2020, às 00h00.

Três empresários investigados na Lava Jato fecham delação premiada. Eles revelaram detalhes de desvios na construção da sede da Petrobras em Salvador (BA). O dinheiro teria abastecido campanhas do PT

A Torre Pituba custou R$ 1,300 bilhão e abriga a sede da Petrobras na Bahia. De acordo com as investigações, as construtoras Odebrecht e OAS pagaram R$ 68 milhões em propinas para levantar o prédio que pertence a Petros, o Fundo de Pensão dos Funcionários da Petrobras. Para garantir o negócio, a estatal se comprometeu a alugar o edifício por 30 anos. 

Quem fazia a administração do prédio era a Mendes Pinto Engenharia, que pertencia a Mário e Alexandre Suarez. Pai e filho resolveram contar o que sabiam em troca de redução de pena. Marcos Felipe Mendes Pinto, que teria ajudado a fazer desvios e pagamentos ilegais, também fechou acordo.

Segundo Mário Suarez, quase R$ 10 milhões foram diretamente para o PT. O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, teria repartido a propina em três partes: um terço para o PT nacional, um terço para dirigentes da Petros e da Petrobras e um terço para a campanha à reeleição do ex-governador da Bahia, Jaques Wagner

De acordo com o delator, o dinheiro que teria abastecido a campanha de Wagner foi operado por Carlos Daltro, que já foi investigado por receber propina na operação “Cartão Vermelho”, que investigou desvios na construção do estádio da Fonte Nova, também em Salvador, para a Copa do Mundo no Brasil, em 2014. 

Segundo os delatores, o PT nacional recebeu cerca de R$ 2 milhões desviados da construção do prédio. Os pagamentos foram pagos em forma de uma mesada que bancou a campanha de Dilma Rousseff em 2010

Eles contaram que ficou definido que Vaccari Neto receberia R$ 100 mil por mês para atender demandas da campanha presidencial. A entrega das “mesadas” ocorriam na sede do PT, no Centro de São Paulo. Para transportar o dinheiro desviado, eles escondiam os valores dentro da camisa, em meias e também em malas.

Os novos delatores também apontaram que o chefe de gabinete de Sérgio Gabrieli, ex-presidente da Petrobras, Armando Tripodi, tinha papel importante dentro da Petrobras e um estreito relacionamento Gabrielli, e por isso conseguiu direcionar a contratação da Mendes Pinto Engenharia como gerenciadora do prédio. Ele também teria influenciado no processo de aprovação do contrato de locação atípico. Por isso, recebeu mensalmente R$ 100 mil, quase sempre entregue em espécie na sede da Petrobras. 

Além dos funcionários da estatal, os dirigentes da Petros, responsáveis por cuidar do dinheiro da aposentadoria dos funcionários da Petrobras, também teriam recebido propinas.

O ex-presidente do fundo, Luiz Carlos Fernandes Afonso, teria recebido R$ 500 mil. O dinheiro foi entregue pessoalmente e em espécie na sede da entidade no Rio de Janeiro. Já ex-diretor da Petros, Newton Carneiro, ganhou com um suborno um automóvel de luxo e uma mesada de R$ 50 mil por mês durante seis anos, totalizando quase R$ 4 milhões.  

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