O mercado doméstico ajustou-se ao agravamento do risco político durante o fim de semana, acelerando a compra de dólares nesta segunda-feira, 9. A moeda à vista no balcão rompeu a marca de R$ 3,10, com os investidores também aproveitando para testar até onde o Banco Central deixará o dólar flutuar livremente sem intervir para conter a escalada.
O dólar à vista no balcão fechou em R$ 3,1230, em alta de 2,39%, maior patamar desde 28/6/2004. A mínima coincidiu com a taxa da abertura, de R$ 3,0740 (+0,79%), enquanto a máxima foi atingida perto das 15h30, a R$ 3,1250 (+2,46%). Próximo das 16h30, o volume financeiro somava US$ 728 milhões, sendo US$ 581 milhões em D+2. No mercado futuro, o dólar para abril era cotado em R$ 3,147 (+2,01%).
A moeda passou o dia todo em alta. Pela manhã, os investidores já repercutiam a lista do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, divulgada na sexta-feira, e também os protestos em várias regiões do País, ontem, durante o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em homenagem ao Dia da Mulher. A lista de Janot relaciona os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, respectivamente, ambos do PMDB, entre os alvos de investigação na Operação Lava Jato, o que provocou a ira do partido e abriu de vez a crise com o Executivo.
Dilma deve enviar ainda hoje emissários de peso para conversar pessoalmente com Eduardo Cunha e com Renan Calheiros e tentar acalmar os ânimos ainda mais incendiados depois da divulgação da lista. De acordo com fontes do Planalto, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), e o da Fazenda, Joaquim Levy, foram escalados para acalmar Renan. O vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e Levy, novamente, para tentar negociar com Cunha.
O problema é que a Fazenda depende do PMDB para aprovar as medidas fiscais propostas para levar ao superávit primário de 1,2% do PIB este ano, reduzindo, assim, não somente a aversão ao risco dos investidores como a desconfiança das agências de classificação de risco em relação ao Brasil. As questões locais reforçam a tendência externa de valorização do dólar em razão do aumento das apostas de elevação dos juros norte-americanos após a divulgação do payroll na sexta-feira.
Pela manhã, o Banco Central vendeu 2 mil contratos de swap cambial ofertados na operação diária, com total de US$ 98,3 milhões apenas para o vencimento de 1º de dezembro de 2015. Na sequência, vendeu 7,4 mil contratos de swap cambial ofertados para rolagem de títulos com liquidação em 1º de abril de 2015. O valor total da operação foi de US$ 356,1 milhões.
À tarde, o dólar acelerou para as máximas, depois de um alerta feito pela Moody’s. A agência afirmou que investigação de corrupção na Petrobras deverá afetar negativamente partes dos setores público e privado, como cadeia de produção de petróleo e gás, os setores de construção e infraestrutura, assim como o setor imobiliário no Estado do Rio de Janeiro, mas o suporte do governo para a empresa provavelmente ajudará a conter o impacto negativo ao crédito.
Com o dólar nas máximas, alguns profissionais esperavam que o Banco Central pudesse anunciar algum tipo de intervenção no mercado para conter a escalação da moeda, atuando na ponta de venda num mercado povoado de compradores. Mas, até o momento, a autoridade monetária parece manter-se coerente com o discurso de que o câmbio é flutuante.