O prefeito de São Paulo, João Doria (Foto: Rovena Rosa, Agência Brasil)

Ele também mudaria o programa Bolsa Família

*Do R7

Está cada vez mais difícil para o prefeito João Doria esconder suas pretensões de concorrer à Presidência da República no ano que vem. Durante os quase 50 minutos de entrevista à Coluna do Fraga não admitiu, em nenhum momento, que é candidato, mas, também, em nenhum momento, descartou uma virtual candidatura. E foi além: disse que a decisão depende muito mais das ruas do que dele. (Um dos seus maiores apoiadores, o empresário Flávio Rocha, repete, como mantra, que a candidatura de Doria será imposta de fora para dentro. É aquela velha história: se o povo convocar, ele vai.)” Esse é um momento para pessoas que buscam um estado mínimo, mais eficiente, mais ágil, sem corrupção, procurando o bem estar de todos. Há uma enorme vontade de mudar o País.” Não vê nisso uma guinada do eleitorado para a direita e, sim, um movimento para “endireitar o País”.

Prazo para decidir Doria entende que até dezembro precisará tomar uma decisão sobre o seu destino político.”É um mês de corte. Não se faz campanha em 60, 90 dias”, explica. Sabe que,dificilmente, sua candidatura prosperará no ninho tucano, mas, como bom tucano, afirma que “não se vê fora do PSDB”, embora tenha recebido diversas sondagens de outros partidos. É nítido o desconforto entre criador e criatura, mas quando Doria responde sobre a possibilidade de disputar a indicação com seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, o ritmo frenético da fala sofre uma pausa e as palavras saem com mais cuidado: “Temos uma boa relação. Somos amigos há 35 anos e tenho um respeito enorme por ele”. Nos bastidores, os assessores dos dois pelejam de maneira bruta. Na superfície, Alckmin e Doria são mais sutis, como quando o prefeito lembrou dos infortúnios daqueles que se lançam candidatos sem respaldo popular: “Ouvir o povo é da realidade da democracia. Aprendi isso com Fernando Henrique e Alckmin”, alfineta, cordialmente.

Feliz com o Nordeste

As viagens recentes pelo Nordeste deram a Doria a certeza de que seu nome ultrapassou as fronteiras da cidade de São Paulo. “Eu tive uma enorme receptividade”, ressalta e aponta, orgulhoso, que mesmo fora do Brasil ganha projeção, enumerando mais de 10 veículos de comunicação internacionais para quem deu entrevista nos últimos dois meses. Ele falou à coluna, ainda eufórico, pelo encontro de 25 minutos, na sexta-feira passada, com o presidente francês Emmanuel Macron, com quem, nitidamente, se identifica: “Inclusive, falamos sobre isso”. Macron também serve como exemplo precioso para Doria de que há uma gigantesca demanda mundial por candidatos que não fazem parte da classe política tradicional, como é o caso dos dois. “Aconteceu aqui também ao lado na Argentina”, reforça.

Erros

Instado a responder sobre seus erros, Doria passou longe de temas espinhosos como Cracolândia e higienismo. Para ele, o maior percalço nos oito meses em que comanda a maior cidade do País foi a falta de sensibilidade no início da gestão para lidar com os grafiteiros. “Mas aprendi a ouvir mais”, diz.

Traição

Durante a entrevista ficou evidente que o dilema de Doria é saber que o desencanto com a classe política faz dele um candidato com enorme potencial para a eleição de 2018, mas, ao mesmo tempo, precisa encontrar um partido com musculatura e, sobretudo, não pode passar para o eleitor a imagem de traidor, o que já jogou no precipício inúmeras carreiras. Para complicar ainda mais o jogo, tem consciência de que um cenário tão favorável talvez não se repita, até por que não poderá usar mais o mote do não-político.

Lula

Sempre que pode, Doria bate forte nas administrações petistas, mas não quer que Lula seja alijado da corrida pela sucessão de Michel Temer. Em relação a isso, é taxativo: “Lula deve disputar a eleição, e deve perder”. O medo do prefeito é que o impedimento pela Justiça faça de Lula “um mártir da democracia”. Doria tem um medo ainda maior caso o ex-presidente não participe da disputa nas urnas: o risco de conflitos. “Ele tem que se candidatar e depois ser preso pelos crimes que cometeu”, diz. Embora não revele, o prefeito gostaria de derrotar Lula nas urnas, assim como fez com Fernando Haddad. “Sempre fui antagonista do petismo”, afirma. Ele se vê como o político que melhor encarna a rejeição ao jeito petista de governar.

Temer

Se joga duro com Lula, Doria alivia a barra de Michel Temer. Não acredita que sua imagem seja maculada pelo apoio ao presidente. “Sou um defensor do Brasil. Não sou sectário. Temer tem que fazer uma transição boa e apoio quem quer fazer reformas como a trabalhista e a previdenciária, absolutamente necessárias”, diz.

Petrobras

Privatizar, privatizar e privatizar. Embora com a preocupação de não se declarar candidato, o prefeito, em vários momentos, sinalizou como seria um eventual governo Doria. Caso chegue ao Palácio do Planalto, não pensará duas vezes em passar para a iniciativa privada empresas até agora sagradas para o PT e o campo da esquerda, como a Petrobras. Ao ouvir que a empresa é a “joia da coroa”, reagiu com veemência: ” Uma joia da coroa, que só serviu para que fosse roubada por 13 anos pelos petistas. Veja se nos Estados Unidos tem alguma Petrobras”, dispara. Doria faria no governo federal um espelho da sua gestão à frente da prefeitura paulistana, onde até os cemitérios devem ser privatizados.

Bolsa Família

Ele também não pouparia a principal bandeira dos governos Lula e Dilma. Para João Doria, programas como o Bolsa Família, por exemplo, só servem para perpetuar a pobreza.”Eu não ia extinguir de imediato, mas ia transformá-lo. Em seu lugar, ia promover um programa que gerasse emprego, que resgatasse a cidadania. Ninguém quer ficar a vida toda vivendo de assistencialismo”, diz. E antes que suas palavras possam ser mal interpretadas numa virtual campanha, Doria afirma que “todos os direitos dos atuais beneficiados seriam garantidos”.

Ao final da entrevista, Doria reiterou, mais uma vez, que não é candidato à Presidência da República no ano que vem. As andanças aqui e no Exterior, com uma chuvarada de homenagens pelo caminho, são apenas para “discutir o Brasil”.