Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Lula afirmou que fazia questão de responder às perguntas da Justiça e disse desconhecer a participação de Eduardo Cunha em nomeações da Petrobras

Durou 9 minutos e 44 segundos o primeiro “encontro” entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato. O petista, que foi arrolado como testemunha de defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prestou depoimento por meio de videoconferência, de São Bernardo do Campo (SP) e afirmou que desconhece a participação de Cunha na nomeação do ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada e na compra, pela Petrobras, de uma área para exploração de petróleo em Benin, na África. No entanto, nenhuma das perguntas foram feitas por Moro, apenas pela defesa do ex-deputado.

“Sr ex-presidente, como eu lhe adiantei, Vossa Excelência foi arrolada como testemunha. Na condição de testemunha, Vossa Excelência tem um compromisso com a Justiça em dizer a verdade e responder as questões que lhe foram feitas. Perfeito?”, afirmou Moro.

“Olha, eu fui, inclusive, comunicado pelos meus advogados que não seria necessário responder, mas eu quero dizer que eu faço questão de responder. O maior interessado na verdade sou eu”, disse Lula.

“A Justiça agradece, sr ex-presidente”, retornou o juiz da Lava Jato. “Vou advertir Vossa Excelência apenas pelo que diz o Código de Processo Penal, que se Vossa Excelência faltar com a verdade, Vossa Excelência fica sujeita a um processo criminal, certo?”. “Certo”, afirmou Lula.

“Como existe e é sabido que existe uma ação proposta contra Vossa Excelência pelo Ministério Público Federal, se houver alguma indagação que Vossa Excelência entenda que a resposta lhe prejudica de alguma forma, fica esclarecido que Vossa Excelência tem o direito ao silêncio em relação a elas”, observou Moro.

Ação contra Eduardo Cunha

Lula depôs em ação penal em que Eduardo Cunha é réu por corrupção e lavagem de dinheiro. O petista também é réu em processo na 13ª Vara Federal, de Curitiba, sob tutela do juiz Moro, mas em outro processo.

A defesa de Eduardo Cunha quis saber de Lula detalhes sobre a nomeação dos engenheiros Nestor Cerveró e Jorge Zelada para a diretoria da Petrobras.

Lula disse desconhecer a suposta participação do ex-presidente da Câmara na nomeação do engenheiro Jorge Zelada para a diretoria Internacional da Petrobras e na compra do campo de petróleo de Benin, na África.

O Ministério Público Federal perguntou a Lula sobre os partidos que tinham participação na indicação de cargos na Petrobras. “Veja, todos os partidos que compuseram a base do governo. Eu já expliquei mais que uma vez que quando um partido compõe uma aliança política para governar, todos os partidos que compõem podem reivindicar ministério e cargo. Esses partidos, então, fazem parte do governo. Era assim que era montado antes, durante e depois. E é assim que é montado agora”, relatou Lula.

Em audiência anterior a de Lula, quem falou foi seu amigo José Carlos Bumlai. O pecuarista afirmou não saber responder às perguntas submetidas a ele.

Eduardo Cunha foi preso preventivamente por ordem do juiz federal Sérgio Moro em 19 de outubro, em Brasília.

O peemedebista arrolou Lula como uma de suas testemunhas na ação penal que responde perante a 13ª Vara Federal, de Curitiba, sob tutela do juiz Moro. Na lista de testemunhas também está o presidente Michel Temer (PMDB), que responderá por escrito questionamentos feitos por Cunha. A nomeação de Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da Petrobras foi alvo das perguntas de Cunha a Temer.

O ex-presidente da Câmara é acusado de ter solicitado e recebido entre 2010 e 2011, no exercício de sua função como parlamentar e em razão dela, vantagem indevida, relacionada à aquisição, pela Petrobras de um campo de petróleo em Benin. Cunha é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão fraudulenta de divisas pela manutenção de contas secretas na Suíça que teriam recebido propina do esquema na Petrobras.

A ação já havia sido aberta pelo Supremo Tribunal Federal em junho. O processo foi remetido para a primeira instância em Curitiba, pois Cunha perdeu foro privilegiado desde que foi cassado pela Câmara, por 450 votos a 10, no dia 12 de setembro. Com isso, o Supremo remeteu esta ação contra o peemedebista para a Justiça Federal em Curitiba, sede da Lava Jato.