O assunto mais discutido entre os presidenciáveis foram propostas para os 13 milhões de desempregados do país (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Oito dos treze candidatos à Presidência da República participaram nesta quinta-feira, em São Paulo, do primeiro debate eleitoral de 2018

O primeiro debate da eleição presidencial foi marcado por propostas dos candidatos para a economia, com destaque para a retomada do emprego e as reformas trabalhista, tributária e previdenciária. O encontro realizado na noite desta quinta-feira (9) na TV Bandeirantes, em São Paulo, contou com a participação de 8 dos 13 concorrentes ao Planalto: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).

Preso desde 7 de abril após condenação na operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, não foi autorizado pela Justiça a participar do debate.

Desemprego

O assunto mais discutido entre os presidenciáveis foram propostas para os 13 milhões de desempregados do país. Alckmin focou na redução de despesas e simplificação de impostos para movimentar a economia, com destaque para abertura econômica e acordos comerciais internacionais. — Coloquei uma agenda comercial com modelo de compettividade. Vamos modificar de cinco tributos para um de valor agregado.

O tucano também defendeu maior número de bancos para aumentar a competitividade no mercado financeiro, elogiou o recém-aprovado cadastro positivo (que promete juros mais baixos a consumidores considerados ‘bons pagadores’) e prometeu ampliar as formas de crédito. Ciro Gomes prometeu “gerar 2 milhões de empregos no primeiro ano de governo”. O pedetista defendeu mais de uma vez um plano para ajudar os 63 milhões de brasileiros endividados a limpar o nome na praça e resgatar a capacidade de consumo.

— Queremos consertar os motores da economia. Vou ajudar o brasileiro a pagar suas dívidas. (…) A dívida é grande de fato, mas repare que a média é de R$ 1.400 por pessoa. Será que não dá para ajudar essas pessoas, com financiamentos e mais prazo? Ciro prometeu ainda reduzir a taxa de juros para “desfazer o cartel dos bancos” e propôs “destravar” as mais de 7.000 obras públicas paradas e incentivar o comércio exterior, com foco na área industrial e agrícola.

Meirelles destacou sua carreira na iniciativa privada e órgãos públicos, como a presidência do Banco Central entre 2003 e 2010 (gestão Lula) e o Ministério da Fazenda entre 2016 e 2018 (gestão Michel Temer). O emedebista afirmou que ajudou a criar 10 milhões de empregos quando esteve no BC e disse que “se cria emprego com a política econômica correta”. — A confiança aumenta, o Brasil recebe investimentos e o emprego cresce.

Para Marina Silva, emprego depende de “credibilidade” para atrair investimentos. Para isso, diz, é preciso ter “mudança profunda no país, e quem provocou isso não vai resolver o problema”.

Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil precisa fazer comércio “sem viés ideológico”, além de alterar leis “que desestimulam a criação de empresas”. — Menos direitos e emprego ou todos os direitos e sem emprego?

Para Alvaro Dias, é necessário “desaparelhar” o Estado brasileiro. — Se isso não ocorrer, o Brasil não vai alcançar índices de crescimento econômico.

Reforma trabalhista

A reforma trabalhista também concentrou as discussões dos candidatos. Ciro e Alckmin duelaram pelo menos duas vezes sobre o tema. Enquanto o pedetista propôs uma nova legislação, o tucano defendeu as mudanças trabalhistas em vigor. — A reforma trabalhista foi um avanço. Nós tínhamos uma legislação do século passado, autárquica, e passamos a ter uma relação moderna. O que nós tínhamos era um grande cartório, com 17 mil sindicatos no Brasil. O que era muito estranho é que 11,5 mil sindicatos eram de trabalhadores e mais de 5 mil patronais. Um verdadeiro cartório mantido por imposto sindical. Vamos sim prestigiar sindicatos que representam trabalhadores.

“Nossa discordância é absoluta”, rebateu Ciro, chamando a reforma de “aberração” e dizendo ser preciso “corrigir as imperfeições” da lei atual. — Essa reforma produziu muito medo do futuro. Essa selvageria nunca fez país nenhum prosperar. (…) A gente tem que fazer uma reforma que proteja o trabalhador, que proteja o lado mais fraco.

Teto de gastos

Boulos também afirmou que irá revogar a reforma trabalhista, com proteção do trabalhador, mas concentrou suas críticas à lei que impõe teto de gastos e a reformas no sistema tributário, com cobrança maior de impostos da população mais rica. — Nenhum país saiu da crise sem investimento público. Para isso vai ter que mexer nos privilégios dos mais ricos. Vamos ter que fazer uma reforma tributária. No Brasil, quem tem mais, paga menos. Vamos acabar com essa esculhambação que representam os privilégios em nosso país.

A candidata Marina Silva também lamentou o congelamento de recursos públicos para saúde e educação imposto pelo teto de gastos. — Queremos sim resolver o problema do déficit fiscal, mas não vamos fazer isso em prejuízo da saúde e da educação. Henrique Meirelles rebateu a fala da adversária e disse que a dívida pública cresce “em virtude de um déficit de despesas obrigatórias, estabelecidas pela Constituição”, o que resulta em alta de juros, inflação e desemprego.

Taxação de ricos

Guilherme Boulos subiu o tom de confronto quando se dirigiu a Henrique Meirelles chamando-o de “candidato dos banqueiros” e de “raposa cuidando do galinheiro”, caso chegue à Presidência. “O senhor é o candidato dos bancos. Nossa candidatura representa o trabalhador. O senhor acha justo o lucro estratosférico dos bancos e o salário mínimo ficar estagnado?”, perguntou o candidato do PSOL.

“Eu sou o candidato do emprego, da renda e do crescimento econômico”, rebateu Meirelles. — No momento em que fui convidado pra assumir Banco Central pelo então presidente eleito Lula [em 2002], o Brasil enfrentava uma crise enorme e juros na estratosfera. Durante meu período no Banco Central, os juros caíram sistematicamente. Eles ainda ficaram muito altos, mas caíram mais agora [no governo Temer]. Eu já apresentei ao Congresso projetos visando diminuir o spread bancário [lucro dos bancos com juros].

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