Enteada foi agredida antes de ser morta por delegado ao lado da mãe

Publicado em 16 mar 2020, às 00h00. Atualizado em: 1 jul 2020 às 14h52.

A Polícia Civil do Paraná concluiu nesta segunda-feira (16) o inquérito sobre o assassinato da escrivã Maritza Guimarães de Souza, de 41 anos, e de sua filha Ana Carolina de Souza, de 16 anos. Ambas foram mortas pelo delegado Erik Busetti, de 45 anos, no dia 4 de março, na residência em que a família vivia, no bairro Atuba, em Curitiba. 

De acordo com a delegada Camila Cecconello, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o crime foi registrado por câmeras de segurança do circuito interno da casa e, embora a motivação permaneça um mistério, as imagens ajudaram a esclarecer a dinâmica de como tudo aconteceu, assim como a fundamentar o inquérito policial. 

“Através da análise dessas imagens a gente percebe que o casal discutiu durante um grande período, por cerca de 3h, com breves intervalos nas discussões. A gente percebe que em determinado momento, a vítima Maritza começa a fazer as malas, levar malas para dentro do closet, onde provavelmente ele estava colocando roupas porque ela queria, provavelmente, ir embora de casa. Em determinado momento também, a gente percebe, após a discussão ficar um pouco acirrada, a Maritza pega a bolsa dela no segundo andar e desce para o primeiro andar em direção a porta de saída. Nesse momento, a adolescente que estava até então dentro do quarto dela abre a porta do quarto”, explica Cecconello. 

Enteada foi agredida por delegado 

Ainda conforme a delegada, as câmeras mostram que a adolescente saiu do quarto e acabou agredida pelo padrasto, poucos minutos antes dos assassinatos

“É possível ver que no que a Ana Carolina abre a porta, o suspeito começa a discutir com Ana Carolina e acaba entrando no quarto da enteada e desferindo alguns chutes e tapas no corpo da Ana Carolina. Na sequência, ele sai do quarto e a Ana Carolina vai atrás pendurando-se no corpo dele, nesse momento, a Maritza que está chegando na porta pra ir embora, provavelmente, ouviu os barulhos e ela retorna. Assim que ele retorna, ela vê que está havendo essa desavença, ela vai ao encontro do suspeito e da vítima Ana Carolina. Ali naquele momento, as imagens não mostram porque ficam num ponto cego da câmera, em questão de dois, três segundos a gente já vê a arma sendo disparada e a Maritza e Ana Carolina já caindo abraçadas até atingir o solo”, conta a policial. 

Segundo laudo, do Instituto Médico-Legal, Maritza foi morta com sete disparos de arma de fogo e a filha Ana Carolina com seis

delegado-agrediu-enteada-matar-ela-mae-curitiba

Mãe e filha foram mortas pelo delegado na sala da casa.(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Acusado de duplo feminicídio 

O delegado foi indiciado por duplo feminicídio com incidência de causa de aumento de pena, de um terço a metade da pena, por ter cometido o crime com a filha do casal, de 8 anos, nas proximidades. “A gente viu que a discussão e o assassinato ocorreu no segundo andar, e a filha Eloiza estava no quarto que dá acesso ao segundo andar. Embora ela não tenha presenciado, visto o acontecimento, ela certamente ouviu os disparos, ouviu as brigas”, ressalta Cecconello.

Motivação

A polícia espera que o resultado das análises dos celulares das vítimas e do acusado possam ajudar a elucidar o motivo pelo qual a discussão entre o casal iniciou, já que o delegado preferiu manter silêncio durante o interrogatório. As conversas e gravações serão remetidas posteriormente ao Ministério Público do Paraná (MP-PR)

“O que a gente soube também, através da coleta de depoimento de testemunhas, é que no dia que ocorreu o crime, por volta das 2h da tarde, a Maritza enviou uma mensagem de texto, via WhatsApp, para uma advogada de família dizendo que ela gostaria de se separar e se divorciar mesmo que litigiosamente, pois a situação estaria insustentável. A gente sabe que eles estavam há um ano nesse processo de separação, porém não estavam separados de fato, acho que estavam tentando, não dá pra saber direito o que acontecia”, pontua a delegada. 

Ao todo, foram ouvidas como testemunhas sete pessoas entre vizinhos do casal e familiares de Maritza. 

O inquérito foi encaminhado ao MP-PR que deverá analisar as acusações.