O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou mais cedo a sessão plenária após a notícia do escândalo (Foto Dida Sampaio, Estadão Conteúdo)

Protestos se devem à informação de que o empresário Joesley Batista, da JBS, teria gravado Michel Temer dando aval para ‘compra de silêncio’ do ex-deputado Eduardo Cunha

Mesmo após o encerramento da sessão de votação da Câmara, deputados de oposição continuam no plenário gravando vídeos e repercutindo a informação de que o empresário Joesley Batista, da JBS, teria gravado o presidente Michel Temer dando aval para “compra de silêncio” do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no Paraná. A informação foi divulgada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”.

“Se confirmada a veracidade dos áudios, acabou o governo Temer. Isso incinera o governo Temer, a reforma da Previdência”, disse Afonso Florence (PT-BA). Alguns parlamentares lembraram que já existe um pedido de impeachment de Temer engavetado na Casa, faltando apenas a indicação dos membros para compor a comissão especial.

“A situação é muito grave. Ou se faz o impeachment ou não se faz mais nada neste País”, declarou o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE).

Os governistas saíram atônitos do plenário, sem entender o que estava acontecendo. O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), se recusaram a comentar. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixou o plenário às pressas. “Não tem mais clima para trabalhar, só isso”, afirmou.

Entenda o caso 

“Tem que manter isso, viu?”, disse o presidente Michel Temer (PMDB) sobre mesada milionária ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), segundo revelou o executivo Joesley Batista, do Grupo JBS. A informação foi revelada com exclusividade pelo jornalista Lauro Jardim, no site do jornal O Globo.

Joesley diz ter gravado conversa com Temer na noite de 7 de março durante reunião de cerca de 40 minutos no Palácio do Jaburu.

O executivo disse que comentou detalhes com o presidente da mesada também paga ao lobista Lúcio Funaro, antigo aliado de Cunha. Os dois estão presos – o ex-deputado pegou 15 anos e quatro meses de condenação imposta pelo juiz federal Sérgio Moro; o lobista está custodiado preventivamente em Brasília.

Em depoimento aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, Joesley disse que “não foi” Temer quem determinou a mesada a Eduardo Cunha. Mas ele afirma que o presidente “tinha pleno conhecimento” da operação pelo silêncio do peemedebista.

Os pagamentos ilícitos foram monitorados pela Polícia Federal. O procedimento é denominado “ação controlada” – com autorização judicial, agentes seguem os alvos, fazem filmagens e gravações ambientais.

Um repasse filmado foi de R$ 400 mil para uma irmã de Funaro, Roberta.

Resposta de Temer 

Presidência da República divulgou nota, na noite desta quarta-feira (17), na qual informa que o presidente Michel Temer “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha”, que está preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, na Operação Lava Jato. 

“O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar. O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República. O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados”, diz a nota.

JBS disse que não se pronunciará

A assessoria da JBS informou que a empresa não vai se pronunciar sobre as deleções que foram divulgadas pelo jornal O Globo. Segundo o jornal, Joesley Batista, presidente da J&F – controladora da JBS – teria dito à Procuradoria Geral da República que gravou o presidente Michel Temer dando aval para “compra de silêncio” do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

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