O combate ao uso do crack deve mesclar ações repressivas e preventivas para apresentar melhores resultados. Embora envolva tráfico de drogas, o problema precisa ser visto pelo prisma da saúde pública, afirma a socióloga Juliana Barroso, subsecretária de Educação, Valorização e Prevenção da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio (Seseg).

“O objetivo é ensinar a lidar com esses espaços onde há o uso do crack. Isso não é um problema [unicamente] de segurança pública, é mais ligado à saúde. É preciso saber como fazer uma abordagem adequada ao usuário e também desenvolver a prevenção”, disse a socióloga, que reconheceu ser mais difícil tratar o dependente da droga do que evitar que a criança ou o adolescente tenham interesse por ela.

Entre as iniciativas já consolidadas no campo da prevenção, ela destacou o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), desenvolvido pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e direcionado a crianças e adolescentes que cursam o ensino fundamental, e o Papo de Responsa, sob responsabilidade da Polícia Civil, que visa principalmente a adolescentes e jovens, incluindo universitários.

Combate ao tráfico

Pela avaliação do pesquisador Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a verdadeira epidemia em que se transformou o uso de drogas, especialmente o crack, depende de ações contra o crime organizado que utilizem mais a inteligência do que a repressão. Imaginar que é possível blindar a fronteira brasileira contra o tráfico é ingenuidade, tarefa incapaz de ser cumprida por qualquer exército no mundo. O Brasil tem 16,8 mil quilômetros de fronteiras terrestres e 7,3 mil de costa marítima.

“O que precisa é investigação e inteligência. A fantasia que existe, de que a gente vai conseguir resolver o problema por meio do patrulhamento das fronteiras, é ingenuidade. Não há exército no mundo que possa patrulhar de forma eficiente uma fronteira do tamanho da brasileira. A ação pública tem que priorizar a investigação e a inteligência. A partir da captura de armas e drogas, é preciso reconstruir a rota para tentar pegar esses grupos.”

Para se obter melhores resultados na luta contra o tráfico, Cano reforça que é necessário investir mais recursos que capacitem as forças de segurança a melhorar os setores de inteligência. “Todo combate ao crime organizado depende basicamente da inteligência. Quanto mais se investir nessa área, melhor. A questão da movimentação financeira e da lavagem de dinheiro é o calcanhar de Aquiles do crime organizado”, conclui.

Abordagem e recuperação

O difícil trabalho de recuperação dos usuários de crack começa no contato diário e direto com os agentes sociais. A chamada busca ativa dos dependentes da droga pode ser o caminho mais promissor para a reinserção social. Com isso, o resgate positivo chega a 50% dos usuários. De acordo com assistentes sociais, é justamente a reconstrução dos laços familiares o fator que garante maior eficácia na recuperação. O tempo de recuperação de um usuário de crack vai depender do estágio em que ele se encontra e geralmente demanda muita persistência. “Isso depende muito do público abordado. Há pessoas que estão há pouco tempo naquela situação, então o tratamento é um pouco mais rápido. Outras já estão em uma reincidência grande de tratamento e de reinternação. É um trabalho sistemático. A gente retorna, procura referência familiar, vai cercando outras possibilidades, até chegar ao usuário. Na primeira abordagem, às vezes a pessoa nem conversa e corre. Por isso, é importante o trabalho diário, que vai criando os vínculos com a equipe”, afirma Conceição Monteiro, assistente social que trabalha na recuperação de dependentes químicos.