Fabrício: do cativeiro à cela
O faz-tudo de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Fabrício Queiroz, foi encontrado após longo e estranho sumiço. Ficou por um ano no cativeiro na casa confortável de Frederick Wassef, que se diz advogado dos Bolsonaros, pai e filho, mas tem jeitão e atua como faz-tudo atual da famiglia. Da paradisíaca Atibaia para o infernal complexo prisional de Gerinicó, em Bangu, a viagem de volta do sargento reformado da PM/RJ ao submundo da periferia de São Sebastião do Rio de Janeiro prenuncia uma rosário de dissabores para o presidente da República com novas informações que transcenderão à rachadinha.
As conexões do capitão com as milícias, que dominam bairros miseráveis da periferia da ex-Cidade Maravilhosa, foram até agora relegadas à eventualidade da simpatia e limitadas às coincidências. O discurso do deputado federal na Câmara criticando a condenação do tenente do Bope Adriano da Nóbrega por homicídio e a ordem para o primogênito condecorá-lo com a medalha Tiradentes argumentando que era herói popular, quando ele já era bandido passaram em brancas nuvens para aqueles que os adoradores do “mito” chamam de “isentões”.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, disse que as milícias nasceram para o bem, mas depois se tornaram grupos armados, não mereceu sequer uma repreensão. As reações indignadas da famiglia Bolsonaro à queima de arquivo do fuzilamento do capitão Adriano foram minimizadas, como se houvesse algum laivo de humanidade naquela gentalha sempre desumana.
Mas agora veio o Ministério Público do Rio contar que Fabrício foi preso porque foi descoberto seu plano de fugir com a família, compartilhado com o “herói” do Bope que virou chefão da milícia do Rio das Pedras. E revelar que a transformação dos gabinetes de Jair, Flávio e Carlos em sedes de associação de proteção de famílias desamparadas de milicianas pode não ser mero interesse eleitoral, mas ilícito meio de vida.
O depoimento de Fabrício Queiroz, muitíssimo esperado em 18 meses desde a revelação de suas movimentações atípicas do Coaf pode, quem sabe, elucidar de forma definitiva que o projeto de armar o cidadão que Bolsonaro revelou na reunião do desgoverno pornô em 22 de abril é o ensaio de um autogolpe. E precisa ser interrompido já, antes que seu decreto liberando totalmente a aquisição de munição, agora não mais rastreada pelo Exército, cumprindo cega e surdamente ordens de um governante insano e desumano pela falta de consciência de sua condição de instituição de estado, arme seu ensaio de autogolpe.
• Jornalista, poeta e escritor