Sem prevenção e estratégia nas fronteiras, Polícia Federal gasta muito com repressão; Brasil é vulnerável à entrada de drogas e armas
*Do R7
Vulnerável à entrada de drogas por fronteiras terrestres, marítimas e aéreas pela fiscalização pouco eficiente nas suas divisas, o Brasil se tornou rota e destino de vários tipos de produtos de narcotraficantes. Segundo especialistas ouvidos pelo R7, parte dessa ineficácia se deve à fraca fiscalização das regiões fronteiriças pela Polícia Federal, uma instituição cara e que não traz resultados satisfatórios no combate ao narcotráfico.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Flávio Werneck, a crítica à atuação da PF é comum porque é o investimento em prevenção é baixo, o que obriga o governo federal a destinar parte do orçamento para uma entidade com custo mais alto.
Dimensões continentais
— Nós temos um País de dimensões continentais e como principais deficiências os controles de fronteiras com os nossos países vizinhos. Se você não investe na prevenção e ações de polícia de fronteira, depois você vai investir na repressão da polícia judiciária, que é entre dez e quinze vezes mais onerosa e mais cara para o cidadão brasileiro. O problema é que não há um investimento maciço em prevenção.
Por conta dessa deficiência, Werneck explica que a PF precisa fazer trabalhos regionais que não são de competência da instituição e cita a “falta de vontade política” em tornar o modelo de segurança pública brasileira mais eficiente.
— Primeiro o Brasil tem que investir na polícia de controle e de soberania, que é a entrada e a saída de pessoas e cargas. A gente não pode ter um número tão baixo de policiais federais nas fronteiras secas. Nós temos soluções aplicadas mundo afora que são comprovadas estatisticamente, mas que não são aplicadas no Brasil porque nós não temos vontade política para isso. Hoje o que nós estamos fazendo é prendendo muito e prendendo mal.
Para o analista criminal Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Polícia Federal deveria ter um papel mais parecido com o que o FBI, o Departamento Federal de Investigação dos EUA tem.
Polícia urbana
— A gente tem uma Polícia Federal que não é feita para trabalhos de fronteira. Ela é uma polícia mais urbana do que qualquer outra coisa. É uma polícia que era para ser investigativa e não fazer um trabalho de fronteira. A Polícia Federal deveria trabalhar como se fosse o FBI nos Estados Unidos. O FBI não previne crimes, nada isso. A única coisa que ele faz é investigar crimes.
Uma das alternativas para a otimização das fronteiras, conforme explica Mingardi, seria a existência de uma polícia específica para fronteira que fizesse um trabalho de revistar e verificar a entrada de veículos, aviões e navios, por exemplo.
Nesse novo modelo, o analista reforça que a PF continuaria sendo acionada, mas exerceria somente uma função judiciária. O procedimento seria o mesmo que é feito quando a Polícia Militar faz uma prisão e encaminha para a Polícia Civil para fazer a parte processual dos criminosos.
— A Polícia Federal é muito cara para ficar desperdiçando na fronteira. Ela tem que trabalhar mais na questão das investigações e das grandes apreensões, não no controle da fronteira. Você desperdiça a investigação em troca de uma vigilância de fronteira que não tem efetividade e poderia ser melhor feita com uma polícia mais barata que a Polícia Federal.
Já para o coronel reformado da Polícia Militar e consultor de segurança de pública José Vicente da Silva Filho, a Polícia Federal deveria desenvolver mais estratégias nacionais de combate ao narcotráfico e atuar mais como uma coordenadora de articulação com outros órgãos de segurança. Entre eles estariam as próprias Forças Armadas e polícias estaduais, além de também estabelecer relações bilaterais de inteligência com os países fornecedores de drogas para o Brasil.
Falta de trabalho em conjunto
— A Polícia Federal praticamente não dialoga com essas forças estaduais. Ela tem um modo muito independente de agir e nós não temos essa estratégia nacional. É uma estratégia que deveria adotar, de um lado, a prevenção ao uso inicial e, na outra ponta, serviços de inteligência para identificar de que maneira as drogas entram, onde são administradas as compras, quem compra, qual é o sistema de ingresso no País, os itinerários dos recursos e as grandes cidades onde tudo isso vai ser distribuído.
Um dos exemplos que o ex-coronel cita como exemplo do que deveria ser seguido pela Polícia Federal são as atuações de entidades como a Interpol e do Órgão para o Controle/Combate das Drogas dos Estados Unidos (DEA na sigla em inglês).
— É importante que ela esteja antenada com voos internacionais. Nós temos a Interpol, por exemplo, e eles fazem o acompanhamento internacional de drogas. Eles mostram o percurso que até pedófilos fazem pela Europa toda. Mas esses órgãos internacionais, até o próprio DEA que está presente aqui na América do Sul, têm feito contato e eles têm verba para isso. Então eles ajudam na identificação de drogas e de rotas e na maneira como eles entram.
Outro lado
O R7 entrou em contato com a Polícia Federal via e-mail no dia 6 de outubro para ela comentar os dados de apreensões de drogas nas fronteiras brasileiras. Após várias ligações, a assessoria de imprensa disse que o responsável pelo setor de narcotráfico da instituição estava viajando a trabalho e não estava disponível para entrevistas.
Dez dias depois, no dia 16 de outubro, a reportagem enviou novamente um e-mail à instituição, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O portal continua aguardando uma resposta da assessoria de imprensa.
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