Jacarezinho interrompe programa efetivo no combate à dengue

por Carol Machado
da equipe de estágio RIC Mais, sob supervisão de Larissa Ilaídes
Publicado em 30 mar 2020, às 00h00.

Na cidade de Jacarezinho, no Norte do Paraná, uma técnica inédita no mundo foi utilizada para controlar a proliferação do mosquito Aedes aegypti. O município sofre historicamente com epidemias de dengue.

Desenvolvido por um grupo de cientistas da Forrest Brasil, empresa de biotecnologia incubada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o projeto Controle Natural de Vetores registrou reduções significativas tanto no número de ovos, quanto no número de larvas. Os bairros tratados tiveram até 90% de redução de infestação do mosquito Aedes aegypti. 

Inseticida compromete novo programa

Apesar da eficácia comprovada de seu projeto, a Forrest Brasil Tecnologia afirma que enfrentou dificuldades burocráticas para expandir o trabalho para toda a cidade de Jacarezinho.

Diante do expressivo aumento no número de casos de dengue, a Secretaria Municipal de Saúde optou por intervenções diretas com inseticida e liberação de fumacê nas áreas mais críticas da cidade.

“Nesses bairros mais afetados, começamos a soltura de mosquitos machos estéreis somente no dia 22 de janeiro deste ano, após a prefeitura autorizar. Agora com essa medida, foi necessário adotarmos o manejo das solturas nessas áreas em dias diferentes das intervenções com o veneno. Entretanto, a vida útil dos mosquitos machos estéreis pode ser reduzida com o inseticida, comprometendo a efetividade do trabalho”, explica a coordenadora do projeto, Lisiane de Castro Poncio.

A atuação da Forrest ocorreu em pequenas áreas da cidade que, mesmo com influência do restante do município, foram os locais com o menor índice de dengue.

“Na Vila São Pedro, por exemplo, tivemos apenas seis casos até o final de janeiro (período do contrato), enquanto no mesmo período, o Aeroporto apresentava mais de 500 registros da doença”, destaca.

De setembro de 2019 até o dia 5 de março de 2020, mais de 13 milhões de mosquitos machos estéreis foram liberados na cidade para conter a proliferação do Aedes aegypti.

A partir deste mês de março, a aplicação do fumacê foi estendida para toda a cidade, incluindo a Vila São Pedro, que é a principal área de atuação do projeto.

“Como isso, não é recomendada a liberação dos machos estéreis.” Mesmo com a interrupção das solturas, a Forrest irá manter o monitoramento dos ovos até o final de março.

Além disso, as atividades de conscientização da população continuam sendo realizadas pela empresa.

Dengue no Paraná

De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde divulgado no dia 17 de março, o Paraná atingiu a marca histórica de 65.524 casos confirmados de dengue, com 49 mortes. Os números são de agosto do ano passado até agora.

Técnica pioneira

O município de Jacarezinho foi o primeiro no mundo a usar a técnica natural, que não envolve modificação genética, desenvolvida pela Forrest Brasil Tecnologia.

Os mosquitos machos estéreis são produzidos a partir de ovos coletados na região afetada e, posteriormente são soltos na natureza, contribuindo para a redução de novos descendentes, diminuindo assim a proliferação desses mosquitos.

O mosquito macho se alimenta apenas de seiva de plantas e, portanto, não pica e não oferece nenhum risco para a população. São as fêmeas que transmitem as doenças, pois precisam do sangue para completar o processo de maturação dos ovos e fazer a postura.

Como a fêmea copula uma única vez durante a vida, se a cópula for com um macho estéril não haverá descendentes. Já se a cópula acontecer com um macho não estéril, uma fêmea pode gerar até 500 ovos, que vão resultar em novos mosquitos.

Resultados comprovados

A solução teve eficiência comprovada e registrou reduções significativas na infestação do mosquito Aedes aegypti nos bairros tratados.

Em 2018, o Projeto Piloto tratou os três bairros que tinham situação mais crítica no município: Aeroporto, Novo Aeroporto e Vila Leão.

Ao final do projeto piloto, após 7 meses de solturas de mosquitos machos estéreis, o resultado foi a redução de mais de 90% na população de Aedes aegypti na área tratada.

O Levantamento Rápido de Índices de Infestação do Aedes aegypti (LIRAa) chegou a registrar índice zero de infestação do mosquito nos Bairros Novo Aeroporto e Aeroporto.

No ano passado, o bairro mais crítico era a Vila São Pedro, que recebeu o projeto e depois disso registrou apenas seis casos de dengue. Hoje há uma inversão, com novos registros de dengue no Aeroporto e grande redução de infestação do mosquito na Vila São Pedro.

A atuação da Forrest em Jacarezinho é considerada um caso de sucesso e os resultados já foram apresentados para outras cidades do Brasil.

“Os dados comprovam que a tecnologia, aliada ao trabalho de educação e conscientização da população, contribui para a redução significativa dos índices de infestação do Aedes aegypti” esclarece a diretora da Forrest Brasil Tecnologia, Elaine Paldi.

Segundo Elaine, para garantir a sustentabilidade do projeto, é necessário mais um ano de trabalho.