Jacarezinho interrompe programa efetivo no combate à dengue
Na cidade de Jacarezinho, no Norte do Paraná, uma técnica inédita no mundo foi utilizada para controlar a proliferação do mosquito Aedes aegypti. O município sofre historicamente com epidemias de dengue.
Desenvolvido por um grupo de cientistas da Forrest Brasil, empresa de biotecnologia incubada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o projeto Controle Natural de Vetores registrou reduções significativas tanto no número de ovos, quanto no número de larvas. Os bairros tratados tiveram até 90% de redução de infestação do mosquito Aedes aegypti.
Inseticida compromete novo programa
Apesar da eficácia comprovada de seu projeto, a Forrest Brasil Tecnologia afirma que enfrentou dificuldades burocráticas para expandir o trabalho para toda a cidade de Jacarezinho.
Diante do expressivo aumento no número de casos de dengue, a Secretaria Municipal de Saúde optou por intervenções diretas com inseticida e liberação de fumacê nas áreas mais críticas da cidade.
“Nesses bairros mais afetados, começamos a soltura de mosquitos machos estéreis somente no dia 22 de janeiro deste ano, após a prefeitura autorizar. Agora com essa medida, foi necessário adotarmos o manejo das solturas nessas áreas em dias diferentes das intervenções com o veneno. Entretanto, a vida útil dos mosquitos machos estéreis pode ser reduzida com o inseticida, comprometendo a efetividade do trabalho”, explica a coordenadora do projeto, Lisiane de Castro Poncio.
A atuação da Forrest ocorreu em pequenas áreas da cidade que, mesmo com influência do restante do município, foram os locais com o menor índice de dengue.
“Na Vila São Pedro, por exemplo, tivemos apenas seis casos até o final de janeiro (período do contrato), enquanto no mesmo período, o Aeroporto apresentava mais de 500 registros da doença”, destaca.
De setembro de 2019 até o dia 5 de março de 2020, mais de 13 milhões de mosquitos machos estéreis foram liberados na cidade para conter a proliferação do Aedes aegypti.
A partir deste mês de março, a aplicação do fumacê foi estendida para toda a cidade, incluindo a Vila São Pedro, que é a principal área de atuação do projeto.
“Como isso, não é recomendada a liberação dos machos estéreis.” Mesmo com a interrupção das solturas, a Forrest irá manter o monitoramento dos ovos até o final de março.
Além disso, as atividades de conscientização da população continuam sendo realizadas pela empresa.
Dengue no Paraná
De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde divulgado no dia 17 de março, o Paraná atingiu a marca histórica de 65.524 casos confirmados de dengue, com 49 mortes. Os números são de agosto do ano passado até agora.
Técnica pioneira
O município de Jacarezinho foi o primeiro no mundo a usar a técnica natural, que não envolve modificação genética, desenvolvida pela Forrest Brasil Tecnologia.
Os mosquitos machos estéreis são produzidos a partir de ovos coletados na região afetada e, posteriormente são soltos na natureza, contribuindo para a redução de novos descendentes, diminuindo assim a proliferação desses mosquitos.
O mosquito macho se alimenta apenas de seiva de plantas e, portanto, não pica e não oferece nenhum risco para a população. São as fêmeas que transmitem as doenças, pois precisam do sangue para completar o processo de maturação dos ovos e fazer a postura.
Como a fêmea copula uma única vez durante a vida, se a cópula for com um macho estéril não haverá descendentes. Já se a cópula acontecer com um macho não estéril, uma fêmea pode gerar até 500 ovos, que vão resultar em novos mosquitos.
Resultados comprovados
A solução teve eficiência comprovada e registrou reduções significativas na infestação do mosquito Aedes aegypti nos bairros tratados.
Em 2018, o Projeto Piloto tratou os três bairros que tinham situação mais crítica no município: Aeroporto, Novo Aeroporto e Vila Leão.
Ao final do projeto piloto, após 7 meses de solturas de mosquitos machos estéreis, o resultado foi a redução de mais de 90% na população de Aedes aegypti na área tratada.
O Levantamento Rápido de Índices de Infestação do Aedes aegypti (LIRAa) chegou a registrar índice zero de infestação do mosquito nos Bairros Novo Aeroporto e Aeroporto.
No ano passado, o bairro mais crítico era a Vila São Pedro, que recebeu o projeto e depois disso registrou apenas seis casos de dengue. Hoje há uma inversão, com novos registros de dengue no Aeroporto e grande redução de infestação do mosquito na Vila São Pedro.
A atuação da Forrest em Jacarezinho é considerada um caso de sucesso e os resultados já foram apresentados para outras cidades do Brasil.
“Os dados comprovam que a tecnologia, aliada ao trabalho de educação e conscientização da população, contribui para a redução significativa dos índices de infestação do Aedes aegypti” esclarece a diretora da Forrest Brasil Tecnologia, Elaine Paldi.
Segundo Elaine, para garantir a sustentabilidade do projeto, é necessário mais um ano de trabalho.